via A Matéria do Tempo by Fernando Ribeiro on 5/22/10
Forte português em Batecalou (Batticaloa), Sri Lanka (Foto: Amazing Lanka)
Burghers (burgueses) é a designação genérica usada no Sri Lanka para nomear os cidadãos de ascendência mista europeia (portuguesa, holandesa, inglesa, etc.) e oriental (cingalesa, tamil, malaia, etc.) que conservam costumes e tradições de origem europeia à mistura com costumes e tradições de origem local. Ler mais
De entre os burgueses do Sri Lanka há a distinguir, sobretudo, duas comunidades:
-- Os burgueses holandeses, frutos da colonização holandesa e inglesa da ilha, que são protestantes presbiterianos, falam inglês, vivem sobretudo na capital do país, Colombo, e nos últimos 40 anos têm emigrado em massa, sobretudo para a Austrália;
-- Os burgueses portugueses, predominantemente resultantes da união entre portugueses e habitantes locais, que seguem a religião católica, falam (cada vez menos) um crioulo indo-português e vivem predominantemente na costa oriental da ilha, sobretudo nas cidades de Batecalou (Batticaloa) e Trinquemale (Trincomalee).
Muitos séculos antes da chegada dos portugueses à ilha de Ceilão, que hoje se chama Sri Lanka, esta já era conhecida dos europeus da Antiguidade sob o nome de Taprobana. É este o nome que Luís de Camões lhe chama logo no início de "Os Lusíadas".
BRASÃO DO CEILÃO PORTUGUÊS
A primeira armada portuguesa a aportar em Ceilão foi comandada por D. Lourenço de Almeida, a quem chamavam "Diabo Louro", que era um homem de enorme corpulência e era filho do vice-rei da Índia D. Francisco de Almeida. O desembarque ocorreu em 1505 ou 1506, nas proximidades de Galle, no sudoeste da ilha. Pouco depois, a mesma frota aportou numa baía mais a norte, onde fundou a cidade de Colombo, que é hoje a capital do país.
A presença portuguesa em Ceilão durou pouco mais de um século, no meio de guerras e de alianças com os reinos locais. Os portugueses praticamente nunca conseguiram dominar inteiramente Ceilão, tendo enfrentado uma dura resistência, sobretudo por parte do reino de Kandy, no centro da ilha, e tornaram-se também alvo de ataques dos holandeses a partir do início do séc. XVII. A ilha de Ceilão acabou por se tornar, toda ela, uma colónia holandesa. Em 1815, a ilha passou para a posse dos ingleses e em 1948 acabou por se tornar independente.
A presença portuguesa deixou profundas marcas no Sri Lanka e ainda hoje essas marcas são bem evidentes, apesar de essa presença já ter acabado há cerca de 350 anos! Por exemplo, existem milhares e milhares de cingaleses que possuem apelidos portugueses, tais como Silva, Pereira, Fonseca, Souza, etc. A maior parte das famílias que têm estes nomes não é burguesa e, provavelmente, não tem sequer qualquer ascendência portuguesa. Os seus nomes portugueses resultam da conversão ao cristianismo dos seus antepassados.
Os que são de facto descendentes de portugueses, que se uniram com mulheres tamiles e cingalesas (os então chamados casados), são os burgueses portugueses, como já referi. Vivem, como também já referi, predominatemente nas cidades costeiras de Batecalou e Trinquemale. Ora estas cidades ficam na costa oriental do país e foram muito severamente atingidas pelo terrível tsunami que varreu o Oceano Índico em 26 de Dezembro de 2004. Só em Batecalou, o tsunami matou 154 burgueses portugueses!
A organização humanitária portuguesa AMI (Assistência Médica Internacional) enviou equipas de emergência para a cidade, a fim de socorrer os sobreviventes, quer fossem burgueses ou não. Atualmente, a AMI continua a prestar apoio aos burgueses portugueses através de uma fundação que criou, a Fundação Portugal-Ceilão. Além do apoio humanitário, esta fundação faz a promoção social e cultural dos burgueses, que são, em geral, muito pobres.
Com efeito, os burgueses portugueses do Sri Lanka encontram-se entre os níveis mais baixos da escala social do país. Exercem predominatemente profissões de caráter manual, tais como pedreiros, sapateiros, carpinteiros, pintores da construção civil, etc. Ora, na sociedade de castas que prevalece no Sri Lanka, os trabalhos manuais são realizados pelas castas inferiores. Sendo também trabalhadores manuais, os burgueses portugueses estão ao mesmo nível que estas castas. No entanto, apesar da situação social pouco invejável em que se encontram, os burgueses portugueses são conhecidos no Sri Lanka por serem dotados de uma grande simpatia, espontaneidade e alegria de viver.
Sarath Fonseka, Tenente-General cingalês de ascendência portuguesa. Deve ter por antepassado um desses "casados" que viveu, deixou prole e combateu por Portugal até ao fim da nossa presença (1505-1658). Estes Fonsecas, Sousas, Britos e Silveiras, capitães ou simples soldados deixaram sulco profundo. Quando sobreveio a invasão holandesa, estes "burghers" refugiaram-se no centro montanhoso da ilha e mantiveram desafiante atitude para com os ocupantes. Depois, regressaram à costa, instalaram-se e ensinaram os holandeses a falar o português, língua franca do Índico entre os século XVI e XIX.
Sirimavo Ratwatte Dias Bandaranaike (OUTRO POLÍTICO DESCENDENTE DE PORTUGUESES) (Sinhala:සිරිමාවෝ රත්වත්තේ ඩයස් බන්ඩාරනායක) (April 17, 1916 – October 10, 2000) was a Sri Lankan politician and the world's first female head of government. She served as Prime Minister of Ceylon and Sri Lanka three times, 1960–65, 1970–77 and 1994–2000, and was a long-time leader of the Sri Lanka Freedom Party.
Bandaranaike was the widow of a previous Sri Lankan prime minister, Solomon Bandaranaike and the mother of Sri Lanka's third President, Chandrika Kumaratunga, as well as Anura Bandaranaike, former speaker and cabinet minister.[1][2]
O primeiro português a chegar ao Ceilão foi D. Lourenço de Almeida em 1505/ 1506.
No Ceilão o português foi usado para todos os contactos entre europeus e a população nativa.
David Lopes, em "A Expansão da Língua Portuguesa no Oriente durante os séculos XVI, XVII e XVIII" fundamenta e refere inúmeros exemplos da presença da língua portuguesa no Ceilão. Segundo o seu estudo os reis do Ceilão falavam-no fluentemente e nomes portugueses eram comuns na nobreza e ainda hoje perduram devido aos casamentos mistos entre portugueses, atraídos desde cedo pela ilha verde das especiarias, e mulheres nativas.
Os focos principais de crioulos “activos” no Ceilão situam-se em redor das cidades de Batticaloa, Vaipim e Puttalam. Nos primeiros casos trata-se de um milhar de pessoas, descendentes de portugueses, holandeses e tamilianos ali instalados desde 1620. O crioulo português é já pouco utilizado, apenas em casa e nas reuniões da comunidade. O tamil é a língua veicular e falada por todos, muitos outros falam cingalês e inglês.
Das comunidades que em casos pontuais ainda utilizam o crioulo português quase todos têm ocupações modestas e a maioria vive abaixo do limiar da pobreza. Apesar da comunidade se espalhar pela cidade de Batticaloa e pelas aldeias vizinhas reúnem-se regularmente. As reuniões são dirigidas em crioulo português, mas as actas escritas em inglês, porque se perdera a prática de escrever português. São Cristãos no entanto não se distinguem à primeira vista das comunidades muçulmanas envolventes.
Em Trincomalee permanece uma pequena comunidade de luso descendentes onde a influência portuguesa teima em persistir. Trincomalee situa-se ao redor de uma fortaleza portuguesa mais tarde conquistada pelos holandeses. A pobreza e o isolamento desta comunidade parece aumentar o desejo de se identificarem com as tradições portuguesas e o orgulho de falarem e cantarem em “português” (JAKSON, David. “Folklore Ceilonense: colectânea de textos do crioulo português no Ceilão”, 1998). Neste momento a sua presença é quase extinta sobrevivendo nos cantares e nos rituais eucarísticos.
Há também notícia de uma pequena comunidade de descendentes de portugueses na aldeia de Wahakotte (centro do Sri Lanka). Trata-se de uma comunidade que além dos vestígios linguísticos, permanecem religiosamente católicos romanos.
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