quinta-feira, 30 de maio de 2013

COMBOIO MALANDRO - FAUSTO



Castigo P’ro Comboio Malandro

Esse comboio malandro
passa
passa sempre com a força dele
                    ué ué ué
                    hii hii hii
te-quem-tem te-quem-tem te-quem-tem

                                o comboio malandro
                                passa

Nas janelas muita gente:
                    ai bô viaje
                    adeujo homéé
n'ganas bonitas
quitandeiras de lenço encarnado
levam cana no Luanda p'ra vender

hii hii hii

aquele vagon de grades tem bois
                              múu múu múu

tem outro
igual como este dos bois
leva gente,
muita gente como eu
cheio de poeira
gente triste como os bois
gente que vai no contrato.

Tem bois
que morre no viaje
mas preto não morre
canta como é criança,
           Mulonde iá Késsua uádibalé
            uádibalé uádibalé...
Esse comboio malandro
sozinho na estrada de ferro
passa
           passa
sem respeito
ué ué ué
com muito fumo no trás
hii hii hii
      te-quem-tem te-quem-tem te-quem-tem

Comboio malandro
o fogo que sai do corpo dele
vai no capim e queima
vai nas casas dos pretos e queima
        Esse comboio malandro
        já queimou o meu milho,

Se na lavra do milho tem pacaças
eu faço armadilhas no chão,
se na lavra tem kiombos
eu tiro a espingarda de kimbundo
e mato neles
mas se vai lá fogo do comboio malandro
      - deixa! -
                     ué ué ué
te-quem-tem te-quem-tem te-quem-tem
só fica fumo,
muito fumo mesmo.
                Mas espera só
Quando esse comboio malandro descarrilar
e os brancos chamar os pretos p'ra empurrar
eu vou
mas não empurro
                               - nem com chicote -
finjo só que faço força
               Comboio malandro
               você vai ver só o castigo
               vai dormir mesmo no meio do caminho.

 

  

António Jacinto do Amaral Martins (Luanda, 1924 – Lisboa, 1991) é um dos maiores nomes da literatura angolana e da Geração Mensagem (*). Publicou em Notícias do Bloqueio, Itinerário, O Brado Africano. Ativista político, foi preso em 1960 e, desterrado para Campo de Tarrafal, em Cabo Verde, cumpriu pena até 1972. Em 1973 se uniu à guerrilha MPLA (Movimento Popular de Libertação da Angola). Com a independência de Angola, foi co-fundador da notória União de Escritores Angolanos e Ministro da Cultura (1975 - 1978). Entre os prêmios mais importantes que recebeu, destacam-se: Prémio Noma, Prémio Lotus da Associação dos Escritores Afro-Asiáticos e Prémio Nacional de Literatura. António Jacinto é autor de: Poemas (1961 e 1982); Vovô Bartolomeu (1979); Em Kilunje do Golungo (1984); Sobreviver em Trrafal de Santiago (1985 e 1999); Prometeu (1987); Fábulas de Sanji (1988).

(*) “A Geração Mensagem (1950-53) da literatura angolana de expressão portuguesa formou-se na continuidade do movimento dos “Novos Intelectuais de Angola”, cujo lema - “Vamos Descobrir Angola” - operaria uma revolução decisiva na sociedade colonial dos fins da década de 40. Mensagem apresenta-se, assim, como órgão catalisador de um punhado de jovens angolanos dispostos assumirem uma atitude de combate frontal ao sistema sociocultural vigente na época. Foi sem dúvida, o mais forte contributo para a verdadeira busca de uma cultura, de uma literatura autêntica, social e, sobretudo, participada. Segundo os próprios mentores desta Geração, Mensagem pretendia ser o marco iniciador de uma cultura nova, de Angola e por Angola; fundamentalmente angolana. Cultura essa que se desejava que fosse forte, verdadeira, pujante e humana. Por estes motivos, Mensagem proclamava, bem alto, o slogan cultural e político de “redescobrir” Angola.” Texto (fragmento) extraído de Infopédia
(IN BLOGUE-CONVERSAS AO ACASO)

DESABAFO DO ACTOR RUY DE CARVALHO


Desabafo
 
Senhores Ministros:

Tenho 86 anos, e modéstia à parte, sempre honrei o meu país pela forma como o representei em todos os palcos, portugueses e estrangeiros, sem pedir nada em troca senão respeito, consideração, abertura – sobretudo aos novos talentos -, e seriedade na forma como o Estado encara o meu papel como cidadão e como artista.
Vivi a guerra de 36/40 com o mesmo cinto com que todos os p...ortugueses apertaram as ilhargas. Sofri a mordaça de um regime que durante 48 anos reprimiu tudo o que era cultura e liberdade de um povo para o qual sempre tive o maior orgulho em trabalhar. Sofri como todos, os condicionamentos da descolonização. Vivi o 25 de Abril com uma esperança renovada, e alegrei-me pela conquista do voto, como se isso fosse um epítome libertador.
Subi aos palcos centenas, senão milhares de vezes, da forma que melhor sei, porque para tal muito trabalhei.
Continuei a votar, a despeito das mentiras que os políticos utilizaram para me afastar do Teatro Nacional. Contudo, voltei a esse teatro pelo respeito que o meu público me merece, muito embora já coxo pelo desencanto das políticas culturais de todos os partidos, sem excepção, porque todos vós sois cúmplices da acrescida miséria com que se tem pintado o panorama cultural português.
Hoje, para o Fisco, deixei de ser Actor…e comigo, todos os meus colegas Actores e restantes Artistas destes país - colegas que muito prezo e gostava de poder defender.

Tudo isto ao fim de setenta anos de carreira! É fascinante.
Francamente, não sei para que servem as comendas, as medalhas e as Ordens, que de vez em quando me penduram ao peito?
Tenho 86 anos, volto a dizer, para que ninguém esqueça o meu direito a não ser incomodado pela raiva miudinha de um Ministério das Finanças, que insiste em afirmar, perante o silêncio do Primeiro-Ministro e os olhos baixos do Presidente da República, de que eu não sou actor, que não tenho direito aos benefícios fiscais, que estão consagrados na lei, e que o meu trabalho não pode ser considerado como propriedade intelectual.
Tenho pena de ter chegado a esta idade para assistir angustiado à rapina com que o fisco está a executar o músculo da cultura portuguesa. Estamos a reduzir tudo a zero... a zeros, dando cobertura a uma gigantesca transferência dos rendimentos de quem nada tem para os que têm cada vez mais.
É lamentável e vergonhoso que não haja um único político com honestidade suficiente para se demarcar desta estúpida cumplicidade entre a incompetência e a maldade de quem foi eleito com toda a boa vontade, para conscientemente delapidar a esperança e o arbítrio de quem, afinal de contas, já nem nas anedotas é o verdadeiro dono de Portugal: nós todos!
É infame que o Direito e a Jurisprudência Comunitárias sirvam só para sustentar pontualmente as mentiras e os joguinhos de poder dos responsáveis governamentais, cujo curriculum, até hoje, tem manifestamente dado pouca relevância ao contexto da evolução sociocultural do nosso povo. A cegueira dos senhores do poder afasta-me do voto, da confiança política, e mais grave ainda, da vontade de conviver com quem não me respeita e tem de mim a imagem de mais um velho, de alguém que se pode abusiva e irresponsavelmente tirar direitos e aumentar deveres.
É lamentável que o senhor Ministro das Finanças, não saiba o que são Direitos Conexos, e não queiram entender que um actor é sempre autor das suas interpretações – com diretos conexos, e que um intérprete e/ou executante não rege a vida dos outros por normas de Exel ou por ordens “superiores”, nem se esconde atrás de discursos catitas ou tiradas eleitoralistas para justificar o injustificável, institucionalizando o roubo, a falta de respeito como prática dos governos, de todos os governos, que, ao invés de procurarem a cumplicidade dos cidadãos, se servem da frieza tributária para fragilizar as esperanças e a honestidade de quem trabalha, de quem verdadeiramente trabalha.
Acima de tudo, Senhores Ministros, o que mais me agride, nem é o facto dos senhores prometerem resolver a coisa, e nada fazer, porque isso já é característica dos governos: o anunciar medidas e depois voltar atrás. Também não é o facto de pôr em dúvida a minha honestidade intelectual, embora isso me magoe de sobremaneira. É sobretudo o nojo pela forma como os seus serviços se dirigem aos contribuintes, tratando-nos como criminosos, ou potenciais delinquentes, sem olharem para trás, com uma arrogância autista que os leva a não verem que há um tempo para tudo, particularmente para serem educados com quem gera riqueza neste país, e naquilo que mais me toca em especial, que já é tempo de serem respeitadores da importância dos artistas, e que devem sê-lo sem medos e invejas desta nossa capacidade de combinar verdade cénica com artifício, que é no fundo esse nosso dom de criar, de ser co-autores, na forma, dos textos que representamos.
Permitam-me do alto dos meus 86 anos deixar-lhes um conselho: aproveitem e aprendam rapidamente, porque não tem muito tempo já. Aprendam que quando um povo se sacrifica pelo seu país, essa gente, é digna do maior respeito... porque quem não consegue respeitar, jamais será merecedor de respeito!

RUY DE CARVALHO
 
 

terça-feira, 28 de maio de 2013

NAMORO


Namoro

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com a letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas.
sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seu seios laranjas - laranjas do Loge
seus dentes... - marfim...
Mandei-lhe uma carta
e ela disse que não.
Mandei-lhe um cartão
que o Maninjo tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou.
Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.
Levei à avó Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.
Esperei-a de tarde, à porta da fábrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.
Andei barbado, sujo, e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
" - Não viu...(ai, não viu...?) Não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.
E para me distrair
levaram-me ao baile do sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário
Tocaram uma rumba dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim!"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.

Viriato da Cruz
 
 
Viriato Clemente da Cruz
 
Poeta angolano, Viriato da Cruz nasceu em 1928, em Porto Amboim, e veio a falecer em 1973, no exílio, em Beijing (Pequim).Considerado um dos mais importantes nomes da geração de poetas pré-angolanos, Viriato da Cruz procurou as suas raízes africanas, sem, no entanto, perder as referências culturais portuguesas. Através do uso da língua portuguesa, se bem que polvilhada de palavras dialetais e adaptando a escrita à fala crioula, buscou incessantemente os símbolos da civilização africana perdida, como elementos regeneradores de todo um povo em busca da sua identidade. Essa ideia está bem expressa no poema Namoro, onde o apaixonado consegue conquistar a sua amada quando se liberta das símbolos europeus e dança com ela uma rumba bem africana.
Os seus poemas tanto são um grito de esperança (veja-se Mamã Negra, onde clama pelo «dia da humanidade») como um olhar nostálgico sobre os valores africanos (considerem-se os versos de Makèzú: «Todo esse povo / Pegô um costume novo / Qui diz qué civrização: / Come pão com chouriço / Ou toma café com pão... (...) Pruqué qui vivi filiz / E tem cem ano eu e tu? // - É pruquê nossas raiz / Tem força do makèzú!...»).
Em 1948, Viriato da Cruz lançou o mote: «Vamos descobrir Angola». A frase tornou-se lema para os intelectuais angolanos que, dois anos depois, fundaram o Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, com Viriato da Cruz como um dos elementos mais ativos. Esse movimento foi responsável pela publicação da revista Mensagem, onde o grupo exprimiu o seu entusiasmo pela redescoberta da História e arte popular africanas, como contraponto a uma colonização que, fruto do endurecer da repressão por parte do regime ditatorial de Salazar, estava a sofrer uma contestação cada vez mais exacerbada. Nessa revista foram publicados alguns dos mais conhecidos poemas de Viriato da Cruz, tais como Makèzú ou Mamã Negra.
Vítima dos seus ideais, numa altura em que se intensificava a repressão, Viriato da Cruz publicou apenas poemas dispersos em várias publicações na década de 50, antologiados em 1961 no livro Poemas. A década de 60 foi marcada em Angola pelo início da Guerra Colonial e pelo exílio de grande número de intelectuais angolanos, o que ocasionou o desvanecimento da criação literária que, apenas uma década antes, parecia florescer. A publicação de poemas de Viriato da Cruz - que então circulavam abundantemente de boca em boca - cessou.


 

ESPERO POR VÓS NA FEIRA DO LIVRO DE LISBOA


segunda-feira, 27 de maio de 2013

A COLUNA VERTEBRAL

Passem o Rato ao longo das 24 vértebras da coluna vertebral.

Façam-no lentamente, e poderão ver uma demonstração de como a nossa coluna vertebral afecta todo o nosso corpo e organismo.

Movam o Rato sobre os ossos das Costas e poderão ver as áreas do corpo que são afectadas.

Este mail é muito interessante e pode ajudar-nos a perceber melhor o que se passa " dentro " de nós, se não cuidarmos bem da nossa " espinha "


Cliquem abaixo:

http://www.chiroone.net/why_chiropractic/index.html


CANTOS DA BABILÓNIA - PEDRO OSÓRIO


INDEPENDENTEMENTE DA POSIÇÃO...É UMA DELÍCIA


Segundo estudos recentes:
em pé, fortalece a coluna;
de cabeça baixa, estimula a circulação do sangue;
de barriga para cima é mais prazeroso;
sozinho, é estimulante, mas egoísta;

Em grupo, pode até ser divertido;
no banho, pode ser arriscado;

No automóvel, é muito perigoso...
com frequência, desenvolve a imaginação;
entre duas pessoas, enriquece o conhecimento;
de joelhos, o resultado pode ser doloroso...
sobre a mesa ou no escritório,
antes de comer ou depois da sobremesa,
sobre a cama ou na rede,
nus ou vestidos,
sobre o sofá ou no tapete,
com música ou em silêncio,
entre lençóis ou no "closet":
sempre é um acto de amor e de enriquecimento.
Não importa a idade, nem a raça, nem a crença, nem o sexo,
nem a posição socioeconómica...

...Ler é sempre um prazer!!!...

DEFINITIVAMENTE, LER LEVA A DESFRUTAR DA IMAGINAÇÃO...
E VOCÊ ACABOU DE EXPERIMENTAR ESSE FACTO...
VÁ PROCURAR UM LIVRO!