por Luís Claro, Publicado em 02 de Agosto de 2011
Portas e Passos vão ter de resolver divergências como a redução de deputados ou algumas privatizações
A troca acesa de críticas entre Paulo Portas e Alberto João Jardim levou Marcelo Rebelo de Sousa a deixar um alerta: "Isto não é bom para a coligação. Há patamares-limite entre partidos coligados". O ex-líder do PSD sabe, por experiência própria, que as alianças entre partidos em Portugal não são duradouras. Em média as coligações de governo não duraram mais de dois anos e entre o PSD de Passos e o CDS de Portas há ainda muitas afinações a fazer.
Os dois partidos já caminharam juntos por fez quatro vezes, mas desta vez são muitos os temas sensíveis que os separam. Caso da privatização da RTP ou da Águas de Portugal, a redução da Taxa Social Única ou diminuição do número de deputados. A tudo isto que já vem de trás somam-se uma troca azeda de declarações entre Paulo Portas e um peso pesado social-democrata, Alberto João Jardim. Os rastilho desta coligação está aceso, resta saber se é longo o suficiente para resistir quatro anos.
"Essas coisas não são das mais saudáveis, nem das mais simpáticas, mas são próprias de uma coligação", diz o social-democrata Rui Machete - que pertenceu ao governo do Bloco Central - sobre a troca de mimos entre Passos e Jardim.
O assunto é delicado e a prova disso é que nenhum dos dirigentes do PSD ou do CDS aceitou comentar as farpas lançadas pelos dois lados. "Não me meto nisso" ou "não tenho nada a dizer sobre isso" foram as respostas mais ouvidas pelo i.
Marcelo - há quem diga que foi um comentário envenenado - avisou que Portas tem mais "peso político" com Passos do que com Santana Lopes, mas o histórico do PSD, Miguel Veiga, não concorda. "Parece-me que os pesos estão equilibrados. Eles sabem que, no aspecto político, não poderão viver um sem o outro", diz o ex-dirigente social-democrata. Em todo o caso, Veiga lembra que "o CDS, como partido mais pequeno que é, terá de ter sempre menos peso".
A crise que o país vive e a necessidade de cumprir o programa da troika facilitam, no entender dos sociais-democratas, a manutenção da coligação. "Estamos a atravessar um momento tão difícil que não se podem pôr pequenos aspectos à frente da necessidade de que a coligação funcione", avisa Rui Machete.
Certo é que até dia 9 de Outubro - data das eleições regionais - os ânimos não vão arrefecer na Madeira, já que o CDS quer marcar pontos naquela região e aproximar-se ou mesmo ultrapassar os socialistas. Quanto às europeias e às autárquicas de 2013, os partidos ainda não sabem se vão concorrer juntos ou separados. "Ainda ninguém pensou nisso. Não está nada previsto", diz ao i um membro da direcção do PSD. Se a receita fosse a mesma das últimas legislativas, os dois partidos avançavam cada um por si para os próximos actos eleitorais.
O politólogo José Adelino Maltez pensa que "o problema da coligação é que revela, ao fim de um mês, não foi minimamente preparada em termos de alternativa". "É uma coligação que foi mais negativa do que reformista", diz o politólogo prevendo que "o problema vai ser a falta de ideias claras sobre como reformar o país". A preparação do Orçamento do Estado para o próximo ano vai ser um dos sinais importantes sobre o futuro desta aliança, já que os dois partidos vão ter muitas divergências para contornar.
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