(Com a devida vénia, transcrevemos da revista Única/Expresso, de 3/9/2011)
Tenho uma história estranha sobre as mulheres. Fiquei órfão de mãe aos seis anos, houve uma avó a tomar o lugar dela, e fui educado pelas minhas três irmãs mais velhas. Aos nove, perdi um irmão, que era piloto da Força Aérea. Com os desgostos, omeu pai tornou-se um homem duro, o que se compreende, por isso cresci num universo muito feminino. Mas são agradáveis as minhas recordações de infância. Marcaram-me para a vida. Além da ternura, da parte afetiva, da tolerância, aprendi muito sobre o respeito pelo outro. A imagem que tenho das mulheres vem daí. Nos meus filmes nunca nenhuma foi filmada como objeto de desejo.
Venho de um tempo em que era absoluta a separação entre os sexos, até na escola. Em que a aprendizagem sexual dos rapazes era feita com prostitutas. Felizmente safei-me a isso. Saí de casa aos 16 ou 17 anos e quando cheguei a Coimbra, para estudar, apanhei o início da revolução dos costumes. Era ainda um núcleo fechado, diferente do resto do país, mas tive sorte. Pela primeira vez, homens e mulheres podiam estar juntos, fazerem o que quisessem sem problemas. E eu fui consolidando essa ideia da mulher como ser diferente, que aprendi a respeitar imenso.
Há uma grandeza nas mulheres que os homens não têm: ter filhos, carregá-los, passar pelo parto para porem a vida cá fora, sem fingir... É uma coisa maravilhosa. Este meu olhar influenciou a forma de me relacionar com as mulheres. Como seres estranhos e diferentes, em que ninguém consegue entrar (ainda que possa ter essa ilusão), nunca tive a tentação de mandar. Mantive um relacionamento de 28 anos onde a cumplicidade foi sempre o mais importante.
Confio na inteligência feminina. Tem outra subtileza, mais níveis de pensamento. Distinguem o essencial do secundário muito melhor do que os homens. É incrível a velocidade do saber em muitas delas, coisa que me impressiona muito mais que a beleza. A beleza por si só não é nada. Sei que os grandes líderes do momento ainda são homens, mas é uma questão de tempo. Elas são fortes e não têm medo. A mudança, tão necessária, vai passar de certeza pelas mulheres.
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