quarta-feira, 30 de março de 2011

A LÍBIA À BEIRA DA DEMOCRACIA


A qualidade da informação que chega da Líbia é lamentável. Nos últimos dias uma cidade foi libertada pelos rebeldes. As câmaras mostram uma cidade semi-destruída onde o lixo se acumula. Somos guiados por jovens que falam francês e inglês e, por esse facto, parece terem assumido algum relevo no movimento rebelde. Visitamos a família de um rapaz que morreu e um centro artesanal de produção de notícias. Os rebeldes derrotaram as tropas regulares. São exibidos quatro rapazes negros- mercenários, dizem. Um deles confessa, por monossílabos, ter combatido ao lado dos fiéis de Kadafi. São conduzidos para interrogatório a uma cidade próxima. (Presume-se que nessa cidade existe um nível de decisão superior do movimento rebelde. Mas o jornalista desinteressa-se desse facto e da sorte dos prisioneiros.). No Público, de raspão, lemos outra versão. Os rebeldes ocuparam a cidade depois da aviação francesa ter bombardeado as posições do exército, acantonado em dois pontos estratégicos. Noutro momento vê-se um desgraçado com uma catana encostada ao pescoço cercado por uma turba aos gritos. Outro repórter, na fronteira da Tunísia assiste ao êxodo líbio. A informação é sempre a mesma. As fontes são muito limitadas e não identificadas. O papel da NATO na solução militar é ocultado. O tratamento dado pelos revoltosos aos prisioneiros nem sequer é aflorado. Os mortos são todos vítimas de Kadafi. Passa-se tudo no terreno idílico do maniqueísmo . Os bons, desarmados e ingénuos, os maus, mini Kadafis, demonizados. Ao que leio, este digest indigente deixa todos satisfeitos, à beira de mais uma vitória da democracia. Alegremo-nos : já chegou o José Rodrigues dos Santos. Luis Januário - Natureza do Mal


COMENTÁRIO: Também no Afeganistão, a vitória da guerrilha taliban apoiada pelos Estados Unidos foi celebrada como uma vitória da democracia. A realidade foi bem diferente. Os "combantentes da liberdade", como então eram chamados, rapidamente transformaram o país num tenebroso campo de extermínio e de intolerância. Os exércitos das democracias, que hoje sustentam um pseudo governo de corruptos, num impasse longo e sangrento, não sabem como sair do atoleiro em que o Afeganistão se transformou.

Com o derrube das ditaduras as populações árabes criaram justas expectativas. Para além da liberdade, a justa distribuição da riqueza produzido com o petróleo. O Ocidente, que as incitou à revolta, que não as abandone agora. A ânsia de continuar a explorar petróleo barato pode levá-lo a isso. Se o fizer, cairão inevitavelmente nos braços de Osama Bin Laden.

Cuidado!

AOC

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