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Sinopse
De Lisboa a Luanda, seguindo por Paris e por bases aéreas bem guardadas na Rússia e na África do Sul, é uma longa viagem sacudida por geografias contrastantes e pelos solavancos da descolonização e do fim da Guerra Fria. Tambwe – A Unha do Leão faz-se disso e de muito mais. É também o percurso interior de Eugénio, à procura da sua infância e da sua razão de ser numa Angola atormentada pela guerra.
Com uma escrita torrencial e opulenta, o autor descola volta e meia da realidade palpável, circunscrita pelo tempo e pelo espaço, e parte para um universo onírico e simbólico, verdadeiro paraíso perdido, porventura para sempre.
Romance de vida e de morte, só uma partitura de Brahms parece restar como energia redentora quando, na noite tropical, se abrem as portas da prisão de Luanda.
(Pedro Vieira)
"Eram onze horas da manhã quando aterrou no aeroporto Charles De Gaulle. Eugénio agarrou no pequeno saco que transportava, colocou-o a tiracolo e saiu daquele enorme burburinho, daquela enorme carapaça, daquele emaranhado de tubos de metal, veias de um corpo que se alimentava do efémero; sentia-se perdido na nova e desconhecida realidade, mas também feliz pelo conforto da aventura. Sem saber porquê, lembrou-se da aflição por que estaria a passar Madalena, na distante e branca Lisboa, na feia e suja Rua da Palma, mas foram momentos de breve indecisão, de nenhum arrependimento. Iria desaparecer para sempre, desmaterializar-se como se deixasse de existir.
Uma chuva miudinha derramava-se, persistente, sobre a bela cidade, tornando desconfortáveis os mais pequenos gestos dos parisienses, abafado e sujo o ar morno de fim de Verão, intransitáveis as velhas ruas, deselegantes os nobres edifícios escondidos pela bruma, insignificante a férrea torre Eiffel, irrelevante a antiga Lutécia.
Fez sinal a um táxi e num francês de sotaque arrevesado balbuciou: “A Paris”. De seguida, estendeu ao motorista um pequeno e amarrotado papel onde se podia ler em cuidada letra o nome e o endereço de um hotel. Esperavam-no. O carro arrancou suavemente. O ronronar do motor e a cadência do limpa-pára-brisas acompanhavam o silêncio que, como um fantasma, se sentara entre os dois homens; embaraçado, o motorista, um emigrante tunisino, sintonizou o rádio do carro e uma toada árabe invadiu o habitáculo de sons exóticos. Eugénio fechou os olhos e deixou-se levar pela extravagância do ritmo; areias quentes colaram-se-lhe à pele, perfumes de benjoim, canela e sândalo deleitaram-lhe a memória. As gotículas de chuva, embatendo contra os vidros das janelas, como que o rumorejar de regato em sôfrego oásis, tranquilizaram-no. Pairava, as costas encostadas ao tecto do táxi. Assustado, o muçulmano travou de supetão, descontrolando o veículo. A avenida encheu-se de buzinadelas. Tinha o rosto vincado por rugas, sujo por uma barba por cortar, a roupa amarrotada, as mãos tensas agarradas ao volante. Suspirou de alívio e os dois homens sorriram. Aninhado no banco, agarrado ao saco da bagagem como a um tesouro, o fugitivo fechou os olhos; decidido a ganhar aquela corrida, o tunisino fez sinal de luzes, pôs o motor a trabalhar e arrancou com o carro. Mas Eugénio nunca dormia, imergia nas inconstâncias do sonho, purgando os pecados da desordem em que transformara a vida; talvez como uma ideia, talvez como sopro imperceptível, pairava em busca de um sinal, de uma visão, de uma palavra. Ficava assim, qual animal hibernante, visitando passados e futuros durante fecundas infinidades, desmaterializado. Quando a revelação lhe segredava confidências, descia à terra e numa pressa tentava apoderar-se do segredo como se fosse um condenado à morte. Era então que escrevia, que escrevia a partir do nada, usando a denúncia cósmica, o segredo sobrenatural, o súbito conhecimento. Tudo se passava como se as ideias, as palavras, os sons, as imagens, as emoções, se escondessem algures, à espera de alguém que as fosse buscar, de alguém que lhes soubesse interpretar a essência mais profunda, mais enigmática.
Abriu os olhos, endireitou-se no banco, procurou um papel e uma caneta e escreveu de um fôlego, sempre receoso de que as palavras lhe escapassem.
Porque levantaram voo os pássaros,
procuram a Primavera
ou o pânico transformou-os em irmãos do vento?
Voam alto,
os pássaros.
Prisioneiros,
agarramo-nos ao sonho com medo da escravidão. "
Sinopse
De Lisboa a Luanda, seguindo por Paris e por bases aéreas bem guardadas na Rússia e na África do Sul, é uma longa viagem sacudida por geografias contrastantes e pelos solavancos da descolonização e do fim da Guerra Fria. Tambwe – A Unha do Leão faz-se disso e de muito mais. É também o percurso interior de Eugénio, à procura da sua infância e da sua razão de ser numa Angola atormentada pela guerra.
Com uma escrita torrencial e opulenta, o autor descola volta e meia da realidade palpável, circunscrita pelo tempo e pelo espaço, e parte para um universo onírico e simbólico, verdadeiro paraíso perdido, porventura para sempre.
Romance de vida e de morte, só uma partitura de Brahms parece restar como energia redentora quando, na noite tropical, se abrem as portas da prisão de Luanda.
(Pedro Vieira)
"Eram onze horas da manhã quando aterrou no aeroporto Charles De Gaulle. Eugénio agarrou no pequeno saco que transportava, colocou-o a tiracolo e saiu daquele enorme burburinho, daquela enorme carapaça, daquele emaranhado de tubos de metal, veias de um corpo que se alimentava do efémero; sentia-se perdido na nova e desconhecida realidade, mas também feliz pelo conforto da aventura. Sem saber porquê, lembrou-se da aflição por que estaria a passar Madalena, na distante e branca Lisboa, na feia e suja Rua da Palma, mas foram momentos de breve indecisão, de nenhum arrependimento. Iria desaparecer para sempre, desmaterializar-se como se deixasse de existir.
Uma chuva miudinha derramava-se, persistente, sobre a bela cidade, tornando desconfortáveis os mais pequenos gestos dos parisienses, abafado e sujo o ar morno de fim de Verão, intransitáveis as velhas ruas, deselegantes os nobres edifícios escondidos pela bruma, insignificante a férrea torre Eiffel, irrelevante a antiga Lutécia.
Fez sinal a um táxi e num francês de sotaque arrevesado balbuciou: “A Paris”. De seguida, estendeu ao motorista um pequeno e amarrotado papel onde se podia ler em cuidada letra o nome e o endereço de um hotel. Esperavam-no. O carro arrancou suavemente. O ronronar do motor e a cadência do limpa-pára-brisas acompanhavam o silêncio que, como um fantasma, se sentara entre os dois homens; embaraçado, o motorista, um emigrante tunisino, sintonizou o rádio do carro e uma toada árabe invadiu o habitáculo de sons exóticos. Eugénio fechou os olhos e deixou-se levar pela extravagância do ritmo; areias quentes colaram-se-lhe à pele, perfumes de benjoim, canela e sândalo deleitaram-lhe a memória. As gotículas de chuva, embatendo contra os vidros das janelas, como que o rumorejar de regato em sôfrego oásis, tranquilizaram-no. Pairava, as costas encostadas ao tecto do táxi. Assustado, o muçulmano travou de supetão, descontrolando o veículo. A avenida encheu-se de buzinadelas. Tinha o rosto vincado por rugas, sujo por uma barba por cortar, a roupa amarrotada, as mãos tensas agarradas ao volante. Suspirou de alívio e os dois homens sorriram. Aninhado no banco, agarrado ao saco da bagagem como a um tesouro, o fugitivo fechou os olhos; decidido a ganhar aquela corrida, o tunisino fez sinal de luzes, pôs o motor a trabalhar e arrancou com o carro. Mas Eugénio nunca dormia, imergia nas inconstâncias do sonho, purgando os pecados da desordem em que transformara a vida; talvez como uma ideia, talvez como sopro imperceptível, pairava em busca de um sinal, de uma visão, de uma palavra. Ficava assim, qual animal hibernante, visitando passados e futuros durante fecundas infinidades, desmaterializado. Quando a revelação lhe segredava confidências, descia à terra e numa pressa tentava apoderar-se do segredo como se fosse um condenado à morte. Era então que escrevia, que escrevia a partir do nada, usando a denúncia cósmica, o segredo sobrenatural, o súbito conhecimento. Tudo se passava como se as ideias, as palavras, os sons, as imagens, as emoções, se escondessem algures, à espera de alguém que as fosse buscar, de alguém que lhes soubesse interpretar a essência mais profunda, mais enigmática.
Abriu os olhos, endireitou-se no banco, procurou um papel e uma caneta e escreveu de um fôlego, sempre receoso de que as palavras lhe escapassem.
Porque levantaram voo os pássaros,
procuram a Primavera
ou o pânico transformou-os em irmãos do vento?
Voam alto,
os pássaros.
Prisioneiros,
agarramo-nos ao sonho com medo da escravidão. "
(EXCERTO DO ROMANCE TAMBWE-A UNHA DO LEÃO)
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