terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A SUBLEVAÇÃO POPULAR DE MARIA DA FONTE (continuação de um texto publicado em 30-01-2012)

Num raro contra-ataque, a 25 de Novembro as forças patuleias entram em Guimarães.

Em Lisboa a instabilidade era grande, esperando-se a qualquer momento um levantamento patuleia. Aparentemente a revolta só aguardava que as forças rebeldes avançassem sobre o Cartaxo, localidade onde as forças do marechal Saldanha estavam aquarteladas e o fizessem recuar.

A 3 e 4 de Dezembro, os marinheiros governamentais, comandados por Francisco Soares Franco, futuro 1.º visconde de Soares Franco, tomam Valença. Em Viana do Castelo, as forças governamentais conseguirão manter o castelo em seu poder, apesar de atacadas a 4 de Dezembro pelas forças da Junta. Entretanto as actividades militares concentram-se na Estremadura, já que os condes das Antas e do Bonfim, com o grosso das tropas patuleias, mantém a ocupação de Santarém, enquanto o conde de Vila Real se posiciona em Ourém. Foi contra esta última posição que a 4 de Dezembro o marechal Saldanha resolveu enviar uma brigada, que as forças do conde de Bonfim tentaram interceptar. Não o conseguindo, foi unir-se às forças do conde de Vila Real, aquarteladas em Leiria, onde recebeu também cerca de 3 000 homens enviados de Santarém. Com estas forças tentou avançar para sul, mas surpreendido pelas forças do marechal Saldanha, retrocedeu sobre Torres Vedras.

E foi naquela cidade que a 22 de Dezembro de 1846, numa das batalhas decisivas da guerra, o brigadeiro José Lúcio Travassos Valdez, o 1.º conde de Bonfim, foi completamente batido pelo marechal Saldanha, numa cruenta batalha em que foi morto o general Mouzinho de Albuquerque. Ao fim daquele dia, após um conjunto de brilhantes decisões tácticas, Saldanha era o claro vencedor, aprisionando quase todas as tropas patuleias. O conde das Antas, então no Cercal, optou por não vir em socorro das forças de Bonfim., optando antes por uma rápida retirada para o Porto.

Saldanha ainda ensaiou uma perseguição às forças do conde das Antas, seguindo para norte em marchas forçadas, mas quando este entrou no Porto, optou por se aquartelar em Oliveira de Azeméis.

Entretanto o brigadeiro Celestino era destroçado em Viana do Castelo pelo velho general João Schwalbach (1774 – 1874), 1.º visconde de Setúbal, e a 31 de Dezembro, as forças cartistas do barão do Casal tomavam Braga pela força depois de uma cruenta batalha com os guerrilheiros do general MacDonnell. Por ordem do barão do Casal, a cidade foi barbaramente castigada com fuzilamentos pelas ruas. O velho general miguelista MacDonnel é preso em Vila Pouca de Aguiar e morto por um sargento de cavalaria cartista.

A 3 de Janeiro de 1847, Álvaro Xavier Coutinho e Póvoas, antigo oficial da Legião Portuguesa ao serviço da França, e figura carismática do miguelismo, é nomeado tenente-general do exército da Junta, e comandante militar das duas Beiras.

A 10 de Janeiro, o marechal Saldanha propõe secretamente à Junta do Porto um acordo de paz com base na Convenção de Chaves, a mesma que em 1837 tinha posto termo à Revolta dos Marechais.

Num momento clarificador do conflito, a 12 de Janeiro, são assinadas as bases da União dos realistas insurgentes com a Junta do Porto, isto é, da aliança dos miguelistas com os setembristas. Era finalmente oficial a coligação contra-natura, mas por esta altura já o marechal Saldanha se encontra perto do Porto, comandando as forças militares leais ao governo. A esquadra governamental, comandada por Soares Franco já bloqueava o Douro.

Ensaiando um contra-ataque, o exército da Patuleia, comandado pelo conde de Melo, ataca Estremoz em 27 de Fevereiro e a 9 de Abril, Sá da Bandeira, assumindo-se como lugar-tenente da Junta, desembarca no Algarve e inicia marcha para Lisboa. Chega a Setúbal e junta-se às tropas do conde de Melo e às guerrilhas do sul. Tem como colaboradores Anselmo Braamcamp Freire e José Estêvão Coelho de Magalhães.

A 11 de Abril rebentam tumultos em Lisboa, onde estacionam tropas inglesas e espanholas, e o governo destaca o general Vinhais para as colinas de Azeitão, por forma a impedir o avanço sobre Lisboa das forças patuleias estacionadas em Setúbal. A 16 de Abril as forças enfrentam-se na batalha do Alto Viso, às portas de Setúbal, onde perdem os patuleias 500 homens. O combate termina de forma indecisa por um armistício negociado pelo comandante inglês do HMS Polyphemus, que pairava na foz do Sado.

A 29 de Abril dão novos tumultos patuleias em Lisboa, permitindo a fuga de 600 presos do Limoeiro. A anarquia cresce, e a fome ameaça as populações.

A 19 de Março tinha sido dirigido novo pedido oficial do governo português de execução do auxílio estrangeiro a prestar pela Grã-Bretanha, Espanha e França de acordo com o tratado da Quádrupla Aliança. Agora, que desde Novembro, a Espanha, temendo o contágio dos miguelistas, depois de apoiada pela França de Guizot, tinha conseguido que os britânicos aceitassem em princípio da intervenção em Portugal, a entrada de tropas parece eminente.

A intervenção da Quádrupla Aliança

A 21 de Maio de 1847, é finalmente assinado em Londres um protocolo fixando as condições da intervenção estrangeira em Portugal. Estava finalmente desbloqueada a ajuda de que o governo português tanto carecia para pôr termo à guerra civil.

Finalmente as três potências signatárias estavam de acordo na forma e objectivos da intervenção em Portugal, até porque a situação na vizinha Espanha, com crescente actividade carlista, fazia adivinhar a possibilidade das duas monarquias ibéricas mergulharem no caos, ou, pior, regressarem ao absolutismo.

Assim, nos últimos dias de Maio, forças espanholas, comandadas pelo tenente-general D. Manuel de la Concha, conde de Cancellada, atravessam a fronteira em Trás-os-Montes e avançam até Valongo.

A 25 de Maio uma esquadra inglesa bloqueia o Douro e nos dias imediatos aprisiona no alto-mar os navios que transportavam, rumo à Península de Setúbal, onde iam tentar um desembarque, a divisão patuleia comandada pelo conde das Antas que ali se pretendia unir às forças comandadas pelo conde de Melo, inactivas desde a batalha do Alto do Viso.

A 1 de Junho a Junta do Porto emite uma proclamação em que declara ser forçada a aceitar o armistício devido à intervenção estrangeira.

A 3 de Junho a divisão espanhola entrou no Porto, ocupando militarmente a cidade, ao mesmo tempo que forças inglesas desembarcavam e ocupavam o Forte de São João da Foz.

No cumprimento do acordado com as potências da Quádrupla Aliança, a 10 de Junho a rainha D. Maria II, em proclamação ao país, anuncia uma amnistia geral e promete cumprir com as condições da mediação.
SETÚBAL

A 15 de Junho, Sá da Bandeira e o conde de Melo rendem-se em Setúbal. Com este acto final, a Patuleia desaparece a Sul do Tejo.

Forçados pelas circunstâncias, a 29 de Junho, o Nuno José Severo de Mendonça Rolim de Moura Barreto, então marquês de Loulé, e o general César de Vasconcelos, como representantes da Junta, encontram-se no lugar de Gramido com os comandantes das forças inglesas e espanholas e assinam a convenção que pôs termo à contenda. Mais uma vez a realidade determinada pela geopolítica europeia é imposta a Portugal.
GRAMIDO

(CONTINUA NOS PRÓXIMOS DIAS)

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