por FERREIRA FERNANDES
Então, Kadhafi foi apanhado com vida, e morto para que as câmaras o vissem bem morto. Foi morto pelos seus, ou que ainda há pouco eram dos seus a aplaudi-lo e não a enfiar-lhe um balázio da sua própria pistola folheada a ouro. Tudo como deve ser morto um tirano: pelos seus, com a certeza de ficar bem morto e um corpo que, espera-se, será feito desaparecer. Nunca confiando com a morte dos tiranos. Obama, Cameron e Juppé (ministro dos Negócios Estrangeiros francês) congratularam-se - e com razão, o morto, além de palhaço, o que é só uma questão de gosto, era um tirano dos autênticos, com mortes em casa e na casa dos outros. Mas também era líder de um país com petróleo e isso há que ter em conta, como não nos ensinam nas escolas onde útil e moral seriam aulas sobre cinismo, a mais cívica das educações. Ontem, teria ajudado os nossos jovens a não se surpreenderem com o alívio pela morte não do nosso aliado, que nunca foi, mas do nosso sócio, que foi (de Lisboa, Madrid, Paris, Londres, Washington...) Mas, repito, que lhe escondam o corpo! Mal comparado, o tirano Júlio César também foi morto pelos seus (até Brutus...), mas no enterro o amigo Marco António fez um discurso que mudou a opinião da populaça romana sobre César, que de tirano morto virou saudoso chefe. Todos os cuidados são poucos com aquelas cabecinhas populares que ontem nas ruas de Tripoli saudavam a troika salvadora: "Alá, o Comité Revolucionário e a OTAN!"
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