por Giuliana Diaz, Publicado em 11 de Agosto de 2011
Ciberactivistas anunciam ataque à rede social, que acusam de espionagem em massa.
Já imaginou não poder bisbilhotar a vida dos outros através do Facebook? Ou ter que enviar um email para cada um dos seus contactos a contar as suas novidades ou para enviar as fotos das suas últimas férias? E se não puder contar onde é que está, o que é o que está a fazer, a pensar, a comer, a ver ou a ouvir? Poderíamos voltar a ser iguais ao que éramos antes de uma rede social existir? Se calhar esta visão apocalíptica de um mundo sem Facebook pode acontecer mais cedo do que pensava.
Esta semana foi publicado no Youtube um vídeo titulado “Message from Anonymous: Operation Facebook, Nov 5 2011”. Durante dois minutos uma voz-off acusa a rede social de vender clandestinamente informações sobre os seus membros a agências governamentais e a empresas de segurança, de forma a que estas possam “espiar pessoas em todo o mundo”. O vídeo critica ainda o Facebook pelas suas políticas de transparência e pelas definições de abertura que impõe aos seus membros. “O Facebook sabe mais sobre vocês do que a vossa própria família”, diz a mesma voz, alertando para a inutilidade de se apertarem as definições de privacidade ou para a eliminação da conta.
“Eliminar a conta é impossível. Mesmo que apaguem a conta, toda a vossa informação pessoal fica no Facebook e pode ser recuperada em qualquer altura”, alerta o vídeo. Mas de quem é essa voz? Fazem-se chamar de Anonymous, definindo-se como ciberactivistas, e afirmam lutar pela liberdade de informação. Os membros do grupo não são conhecidos, mas organizam-se numa comunidade online descentralizada e actuam de forma coordenada e com objectivos comuns.
Sucessores do Wikileaks? Sabe-se que os Anonymous partilham as mesmas ideias de Julian Assange, criador do WikiLeaks, que ainda este ano descreveu o Facebook como “a mais apavorante máquina de espionagem já inventada”, argumentando que “aqui [no Facebook] temos a base de dados mais abrangente de pessoas, das suas relações, nomes, moradas, localização, comunicações com outras pessoas, familiares, tudo dentro dos Estados Unidos da América, acessível aos serviços de inteligência norte-americanos”.
Para os Anonymous, Julian Assange é considerado um preso político e todos aqueles que se declararam inimigos do criador do WikiLeaks foram automaticamente atacados pelos ciberactivistas, tal como aconteceu com a PayPal e a MasterCard, que se recusaram a receber donativos para a WikiLeaks e que sofreram ataques dos Anonymous.
Guerra informática “Os que negam a liberdade aos outros não a merecem eles próprios.”
A frase do 16.o presidente norte-americano Abraham Lincon, é vista como exemplo para os Anonymous que lutam pela liberalização da informação.
A guerra informática deste grupo chegou também a todos os governos que participam no acordo comercial a que chamaram Anti-Counterfeiting Trade Agreement (ACTA). Um acordo que pretende dar uma resposta “ao aumento global do comércio de produtos falsificados e pirataria de trabalhos protegidos por direitos de autores”.
A abrangência da ACTA é vasta, incluindo temas como a contrafacção de bens físicos ou a contrafacção digitar, pela Internet. Entre as várias disposições, o acordo prevê a criação de um “regime reforçado de responsabilização legal para os intermediários técnicos como os fornecedores de acesso à Internet”.
Tem medo? Comprar cão já não ajuda Os Anonymous são autores de mais de 70 ciberataques a organismos oficiais no mundo inteiro. A ideia da compra de armas em nome da defesa nacional hoje em dia já não é suficiente. A declaração de guerra dos Anonymous mostra que as guerras, agora, podem não ter canhões nem mísseis, nem tanques ou navios. O ataque não é armado, é informático. O palco do combate não é físico, nem palpável. Esta é uma guerra virtual, com soldados (fardados ou não) em diferentes pontos do universo. Basta tomar como exemplo a Líbia, Egipto ou Tunísia, cujos sistemas informáticos governamentais foram severamente castigados pelos Anonymous durante as revoltas das populações. Armas? Já não servem. Cada vez mais os governos, as empresas e as organizações internacionais são vulneráveis a este tipo de ataques, a defesa informática pode ser agora a melhor forma de combater inimigos.
Sobra uma pergunta: os Anonymous são uma rede de criminosos que devem ser detidos a todo o custo, ou uma rede de pessoas que defendem o aumento da segurança na Internet, a liberdade de expressão e o fim da ditadura e da corrupção política? A guerra vai começar. 5 de Novembro.
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