terça-feira, 3 de maio de 2011

ONDE VOTAR NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES?



Quem quiser mudar Portugal (e Portugal precisa de ser mudado!) não pode ser igual ao português comum: tem de ser muito melhor.



A razão pela qual, contra toda a lógica política, o PSD se arrisca agora a perder uma eleição imperdível é porque até o comum dos portugueses percebeu que chegámos ao final de um caminho sem saída e que os truques partidários do costume já não resultam. E o PSD de Passos Coelho não tem, como já se percebeu, nada para oferecer a não ser mais do mesmo, com actores diferentes e, se calhar até, piores ainda. Como escrevi há semanas, Passos Coelho não tem ideias, nem programa, nem equipa para governar Portugal. Não ter ideias é grave politicamente, mas não é grave eleitoralmente: o PSD sempre se caracterizou por não ter ideologia, ser um partido tipo-Isaltino Morais: "não penso mas faço". A excepção foi Sá Carneiro, num contexto totalmente diferente, que lhe permitiu ter uma agenda ideológica e programática simples e de tudo-ou-nada: fazer a contra-revolução, desmantelar o PREC. Já Cavaco silva se caracterizou pelo oposto - nunca disse o que era ou o que pensava, disse o que vinha fazer - aproveitar as contas postas na ordem por Ernâni Lopes e os dinheiros europeus que começaram a chover para fazer coisas que o povo visse. No fim, fez auto-estradas, centros culturais, cursos de formação financiados a fundo perdido, vendeu as pescas e a agricultura a troco de dinheiro vivo e convenceu-se de que tinha modernizado o país: conforme está à vista.



Isto de não ter ideologia ou mesmo não ter apenas meia dúzia de ideias sobre o futuro de Portugal não é nada de estranho no PSD nem nada de grave para as ambições de Passos Coelho.



Já não ter equipa pronta a pegar nisto é mais grave e preocupante.



Para agravar as coisas, ele também não tem programa.



Derrubado o governo, o PSD de Passos Coelho foi apanhado de calças na mão e as únicas coisas "alternativas" que se lembrou de fazer foi, antes que o Parlamento fechasse, alinhar com a Fenprof na derrota final da tentativa de avaliação dos professores e ceder às chantagens dos lóbis da Ordem dos Médicos e indústria farmacêutica contra os genéricos. Antes mesmo de serem poder e de começarem por antecipação a distribuir cargos para o futuro, logo trataram de exibir toda a sua irresponsabilidade e a sua fraqueza perante os interesses corporativos, que são os principais responsáveis pela ruína do país. É mesmo de um governo assim que Portugal precisa agora!


Sem ideias, sem programa e sem equipa, este PSD vencedor antecipado achou que lhe bastaria cavalgar a onda de revolta contra Sócrates e fingir que, nem agora nem depois, tem alguma coisa a ver com o resgate da dívida pública portuguesa e a negociação com os que nos vão emprestar dinheiro para não falirmos de imediato.



E o país fica convencido? A avaliar pelas sondagens e pelas vozes de rua, não. Não só não fica convencido, como não gosta deste jogo em que o PSD parece esgotar toda a sua "estratégia" e que consiste em business as usual: vamos é ganhar as eleições e depois logo se vê.



Os três ou cinco milhões de portugueses ( conforme se contem ou não as crianças e jovens no ensino público) que não dependem do Estado e nada recebem dele estão fartos de pagar sempre e cada vez mais, vendo a dívida do Estado a crescer sem fim e o governo socialista sem outra política que não seja ameaçá-los com mais impostos e mais parcerias público-privadas.



Mas o problema é que essa famosa massa flutuante de um milhão de eleitores, que oscila entre o PS e o PSD e decide todas as eleições, desta vez não tem por onde decidir. Entre a vontade de mudança e a mudança para pior, um eleitor avisado fica paralisado. O voto útil, desta vez, é entre duas inutilidades: uma, porque já sabemos onde nos leva e estamos fartos; a outra, porque temos todas as razões para suspeitar de que nos levará para pior ainda.



(Excertos de um texto publicado no semanário Expresso, em 30 de Abril de 2011, da autoria de Miguel sousa Tavares)

Sem comentários: