sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

ARGÉLIA - PORTUGAL: UMA VIAGEM PELO MUNDO EM PORTUGUÊS


Argélia - Portugal
As cidades do norte de África, como Argel (Argélia), Tunes (Tunísia),Tripoli (Líbia) e Salé (Marrocos) foram até meados do século XIX centros de pirataria e abrigo de corsários.

Estes não se limitavam a actuar no Mediterrâneo, mas entravam no Atlântico e atacavam as costas de Portugal, em especial o Algarve e o Alentejo, mas também os Açores e a Madeira. Centenas de navios foram saqueados ou destruídos, dezenas de milhares de portugueses foram mortos ou escravizados. O seu regaste requereu a criação de uma vasta organização.

No século XVI deu-se um enorme aumento da pirataria muçulmana devido a dois factores: a expulsão de centenas de milhares de Espanha para o Norte de África e à expansão do Império Otomano para esta região. O que exigiu o reforço das medidas contra estes piratas.

Ao longo dos séculos Portugal organizou ou participou em muitas acções punitivas contra as cidades do Magreb..

No inicio do século XVII, os piratas argelinos sem a oposição da marinha portuguesa, destruída pelo domínio espanhol, aventuram-se pelo Atlântico em navios de grande porte, atacando, por exemplo, as ilhas dos Açores: em 1616 atacaram a Ilha de Santa Maria, fazendo grande número de cativos. No ano seguinte atacaram a Ilha do Porto Santo, e em 1675 de novo atacam os Açores. Portugal organizou armadas para patrulhar a costa e proteger as naus, que passavam pelos Açores.

As incursões dos piratas argelinos eram continuas na costa portuguesa, fazendo milhares de cativos que eram transportados para Argel onde eram vendidos. Em 1678, os pescadores de Azurara, queixavam-se de não puderem pagar as contribuições porque os "mouros" lhes haviam roubado recentemente navios e sequestrado pessoas. No final do século em Argel existiam muitos portugueses cativos.

No século XVIII, a pirataria argelina não dava descanso aos portugueses, o número de cativos em Argel continuava enorme. Durante o reinado de D. João V (1706-1750), foram efectuados quatro grandes resgates (1720, 1726, 1731 e 1739, todos realizados por frades da Ordem da Trindade.

D. José I voltou a organizar-se uma esquadra para vigiar o Estreito de Gibraltar que se manteve activa até 1807. Em 1784, uma força conjunta de Portugal e da Espanha atacou o porto de Argel, cujos corsários estavam a provocar graves prejuízos aos dois países. Em 1787, os portugueses enviam uma embaixada a Argel para negociar o fim dos ataques dos piratas, mas os resultados foram nulos.

Em Maio de 1799 uma esquadra portuguesa toma o porto de Tripoli e em Outubro ataca o porto de Tunes.

Um dos últimos grandes ataques destes piratas a navios portugueses, ocorreu em Maio de 1802, quando tomam a fragata "Cisne" que andavam a patrulhar o mediterrâneo. O navio e o que restava da tripulação foram enviados para Argel, onde foram reduzidos à condição de escravos. Em 1812, mediante o pagamento de avultadas verbas foi possível resgatar alguns sobreviventes.

Entre 1807 e 1820, devido ao facto da armada portuguesa estar no Brasil, os piratas do Magreb provocam grandes prejuízos ao comércio de Portugal. Apenas a 6/6/1810 foi assinado o primeiro tratado de tréguas e resgate entre Portugal e Argel, confirmado em 1813, com a assinatura do Tratado de Paz. Este Tratado permitiu recuperar os cativos que estavam em Argel. Uma cláusula secreta do mesmo, obrigava Portugal a um avultado pagamento anual, para não ser atacado por piratas argelinos.

Durante a ocupação da Cisplatina (1816-1822), os espanhóis deram cartas de corso a piratas argelinos para estes atacarem navios portugueses.

A pirataria de Argel só deixou de ser uma ameaça à navegação no Mediterrâneo e no Atlântico, quando em 1830 a França conquistou esta cidade.

Século XX

A relação dos portugueses com a Argélia muda no século XX, quando entre 1926 e 1974 se constituiu como um pólo de resistência contra a ditadura em Portugal. Muitos portugueses aqui procuraram asilo.

Nas vésperas da Ditadura (1926-1974), Manuel Teixeira Gomes renunciou ao cargo de Presidente da República e parte para Bougie (hoje Bejaia) na Argélia, onde viverá exilado, no Hotel l' Étoile até falecer em 1941.

A partir de finais dos anos 50 do século XX, a Argélia recebeu e apoiou muitos opositores à ditadura, como o General Humberto Delgado. Em 1962 foi aqui instalado um posto de rádio - Rádio Portugal Livre. Os movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas em África, também tiveram na Argélia uma importante base de apoio, por aqui passaram Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Samora Machel, Aristides Pereira, Mário Pinto de Andrade, Pedro Pires, Aquino de Bragança, etc. Em Argel foi assinado, em 1974, o acordo de Independência das colónias africanas portuguesas.

Desde meados dos anos 90 que a Argélia se tornou no principal fornecedor de gás natural a Portugal (40% do total das importações em 2006). Em 2005, os dois países assinaram um Tratado de Boa Vizinhança, de Amizade e de Cooperação. Em 2007 realizou-se a I cimeira luso-argelina, no ano seguinte a IIª., ambas em Argel. Em 2010, a IIIª. em Oeiras.

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