Recebi com agrado o seu desafio, mas infelizmente, sou a pessoa menos indicada para o corresponder, pois a minha relação com a literatura é, digamos, mais empírica, já que a minha formação académica, o Curso Complementar de Administração e Comércio (nome do antigo curso comercial), já tirado na condição de trabalhador estudante, mais virado para o mundo do trabalho, não me deu asas para poder voar no campo literário.
Sou assim o exemplo mais conseguido do provérbio, “não suba o sapateiro acima da chinela”, já que a leitura para mim não passa duma paixão. Tenho os meus gostos e sem nenhuma dependência de modas, vou lendo o que calha; e se isso é algo bem escrito, tanto melhor. Houve tempos em que um senhor de nome José Olímpio Bento, escrevia uma crónica semanal n’ “A Bola” que eu devorava, porque além duma capacidade descritiva fantástica tinha uma enorme riqueza de vocabulário. E eu estava quase sempre em desacordo com as suas análises, (era tripeiro) mas estava bem escrita!... Por exemplo, apesar de já ter lido creio que nove romances de Saramago, não sou grande apreciador da sua maneira de escrever e até costumo dizer que depois dum Saramago me sabe sempre bem, ler do Eça, nem que seja só uma “carta de Inglaterra”, mas admiro imenso a sua capacidade criativa; e do Torga, na prosa adorei “A Criação do Mundo”, (li todos os volumes) “A Vindima”, mas a poesia, tenho uma gritante incapacidade de a entender. Será porque não estudei Camões nos estabelecimentos de ensino que frequentei, será insensibilidade, ou será tudo junto?
Por isso já vê meu caro, de si, só posso dizer que gostei bastante do romance “A Especiaria”, e do “Tambwé” , que ainda acho mais bem escrito, já que me parece que tentou e conseguiu, qual Ferreira de Castro, que o parágrafo seguinte fosse sempre superior ao antecedente, apesar da sua escrita (perdoe se estou a dizer alguma parvoíce mas é a minha convicção) me fazer lembrar mais o Eça pela riqueza de adjectivação e pelas várias maneiras de contornar um estorvo, ou, como diria um amigo meu, para irem de Lisboa a Almada, ensina sempre três ou quatro caminhos, mesmo que o último seja por Vila Franca. E aquele final à “você decide”, acho muito inovador.
Mas como vê, eu sou um leigo.
Adeus e um abraço.
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