segunda-feira, 28 de novembro de 2011

FADO - PARABÉNS À HUMANIDADE

Parabéns à Humanidade!

por FERREIRA FERNANDES


Esta madrugada, em Nusa Dua, Bali, à porta do hotel onde se reúne a Comissão Intergovernamental para a Salvaguarda da Herança Cultural Imaterial, da UNESCO, parou uma limousine vazia e dela saiu um inexistente porta-voz que proclamou: o fado é Património Imaterial da Humanidade. Foi tudo muito emocionante, porque dito em inglês, língua em que "imaterial" se traduz pelo belo "intangible", ironia premonitória porque as guitarras são as únicas coisas que na língua portuguesa se podem dizer, sem cair no ridículo, que tangem. Escrevo antes da madrugada, não sei se aconteceu assim ou não. Mas é quase igual. Quase, porque a diferença está na proclamação da UNESCO. E igual no essencial: ou o fado ganhou ou o fado não ganhou. Assim, temos desde esta madrugada aquilo que temos tido há mais de um século. Parabéns à Humanidade por se ter dado conta. Eu dei-me, garoto, quando Amália, cantada na rádio das manhãs de domingo em Luanda, falava em "arroz maninho" (era rosmaninho...). Mais tarde, jovem estudante angolano em Lisboa, ouvindo Manuel de Almeida, suspeitei que, afinal, eu era também português. E assim por diante. Até ouvir Camané cantar "Eu Tinha Uma Amiga", palavras de Manuela de Freitas, repetindo o "Não Venhas Tarde", de Carlos Ramos, tal como Eça é uma imitação de Camilo. Ou, continuando em plágios geniais, os dedos de Fontes Rocha, livres numa guitarra como só o conseguem os músicos de um jazz funeral em Nova Orleães.

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