Rendez-Vous: as margens encontram-se em Setúbal
O Festival acontece de 4 a 6 de Novembro, no Convento de Jesus. O bilhete diário custa seis euros
Texto de Mário Lopes • 03/11/2011
O Rendez-Vous, em Setúbal, é um festival com raízes simbólicas antigas. Isto, porque, em 1979, a cidade acolheu um festival de jazz contemporâneo que se espalhou por vários locais e programou, por exemplo, um dueto de Evan Parker com Carlos Zíngaro.
Mas este festival, a quem orgulha aquele seu antepassado, existe enquanto Rendez-Vous há três anos e está firmemente ancorado num presente que se deseja multifacetado. Anuncia-se como construtor de pontes artísticas: som e imagem entrecruzando-se e influenciando-se mutuamente. Por isso mesmo se lê no cartaz: “Rendez-Vous Festival, música e cinema”.
Decorre entre sexta e domingo (4 a 6 de Novembro), no Convento de Jesus, e assume-se como espaço para os sons que emergem das margens da música popular urbana, entre a inspiração do jazz mais livre e o apelo libertário da electrónica amante dos bons efeitos do psicadelismo (e para cinema que a complementa).
O bilhete diário custa seis euros, um passe para os dois dias, com bilhetes Lisboa-Setúbal-Lisboa incluídos, custa 20 euros. O cinema é gratuito.
O Rendez-Vous Festival arranca com os Yong Yong de Rodolfo Brito e Francisco Silva (22h) e os Tropa Macaca (22h40), duo de André Abel (guitarrista dos Aquaparque) e da artista gráfica Joana Conceição (que se ocupa aqui da componente electrónica).
Sábado, actuarão primeiro Marcia Bassett & Margarida Garcia, encontro entre a primeira, componente indispensável dos Double Leopards, mestres do drone, e o contrabaixo eléctrico da segunda, que conta no currículo com colaborações com, por exemplo, o baterista Chris Corsano (22h).
Autoras do LP "The Well", actuaram recentemente na Galeria Zé dos Bois com as lendas do psicadelismo Bardo Pond. Depois do duo, surgirá às 22h40 o Carro do Fogo, super combo reunido em volta de Sei Miguel que representa um novo caminho, feérico, aberto no percurso do trompetista. Será a terceira apresentação em concerto d'O Carro de Fogo, formado, além de Sei Miguel, por Rafael Toral (oscilador), André Gonçalves (sintetizador), Pedro Gomes (guitarra), John Klima (baixo), César Burago (percussão) e Luís Desirat (bateria).
Por fim, os Astral Social Club de Neil Campbell que, depois da Vibracathedral Orchestra, continuou um percurso de electrónica densa e de cadência hipnótica (da contemplação ao êxtase) que, no programa do festival, é definida, citando o jornalista Joe Muggs, como “música primitiva do século XXI, de elevação flamejante para sistemas nervosos complexos”.
“Shadows”, de John Cassavetes
Antes dos concertos, os filmes. Sexta, às 19h, “Permanent Vacation”, de Jim Jarmusch. A estreia em que o realizador se revelou enquanto resistente defendendo a contracultura – nem que seja de um homem só, amante do jazz de Charlie Parker – contra o perigoso tédio da formatação social.
Sábado, passam “New York Stories: Life Lessons”, realizado em 1989 por Martin Scorsese (16h30), e esse “Dowtown 81” em que o artista plástico Jean-Michel Basquiat, sob o olhar do realizador Edo Bertoglio, se revela a si mesmo e às suas pulsões artísticas enquanto matéria de ficção (17h15).
Por fim, o fundador “Shadows”, a primeira obra de John Cassavetes, que este resgatou à vida e ao “beat” de Nova Iorque, qual improviso jazz seguindo o rumo das personagens que a habitam. “Shadows” passa domingo, às 16h30. “Shadows” será o encerramento do festival, o acontecimento único do último dia. O jazz como inspiração fundamental para o cinema. Tendo em conta o espírito do Rendez-Vous Festival, será o fechar de ciclo perfeito.
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