ESTA É A CRISE QUE EU FALO MUITAS VEZES E DA QUAL TENHO MESMO MEDO...
Este país atravessa uma grave crise, é certo, mas não é a económica que mais me preocupa. A crise de valores que atravessamos é bem mais corrosiva e decadente do que qualquer outra.
Ontem passava no telejornal uma reportagem cuja personagem principal era uma mulher, licenciada e com um rendimento de ?1750/mês, que tinha contraído uma dívida total de cerca de 60 mil euros em créditos ao consumo. À pergunta "porquê?" respondeu "porque todos o fazem, não é?". Não, não é, minha amiga. Do sítio de onde eu venho não se pedem créditos para ir 15 dias para o Algarve, para comprar malas ou um LED para a sala. Do sítio de onde eu venho o lema principal é básico "quem não tem dinheiro não tem vícios".
Esta necessidade de mostrar, de ostentar, de ter porque os outros têm é coisa para me magoar a alma.
Quando, ainda criança, chegava aos meus pais e lhes pedia qualquer coisa e eles negavam, eu argumentava "mas a Y ou o X têm", a resposta era sempre a mesma "tu não és a Y/X e aqui em casa não se vive segundo as regras dos vizinhos". E, meus amigos, aquilo funcionou tão bem no objectivo essencial de me tornar um adulto com reais percepções sobre o que é a realidade que me rodeia.
Este país atravessa uma grave crise, é certo, mas não é a económica que mais me preocupa. A crise de valores que atravessamos é bem mais corrosiva e decadente do que qualquer outra.
Ontem passava no telejornal uma reportagem cuja personagem principal era uma mulher, licenciada e com um rendimento de ?1750/mês, que tinha contraído uma dívida total de cerca de 60 mil euros em créditos ao consumo. À pergunta "porquê?" respondeu "porque todos o fazem, não é?". Não, não é, minha amiga. Do sítio de onde eu venho não se pedem créditos para ir 15 dias para o Algarve, para comprar malas ou um LED para a sala. Do sítio de onde eu venho o lema principal é básico "quem não tem dinheiro não tem vícios".
Esta necessidade de mostrar, de ostentar, de ter porque os outros têm é coisa para me magoar a alma.
Quando, ainda criança, chegava aos meus pais e lhes pedia qualquer coisa e eles negavam, eu argumentava "mas a Y ou o X têm", a resposta era sempre a mesma "tu não és a Y/X e aqui em casa não se vive segundo as regras dos vizinhos". E, meus amigos, aquilo funcionou tão bem no objectivo essencial de me tornar um adulto com reais percepções sobre o que é a realidade que me rodeia.
Se eu gostava muito de correr mundo, de poder comprar mais, de ir a mais lugares? Claro que sim. Mas não posso e por isso não faço depender a minha felicidade dessas mesmas coisas.
No fundo, o que me custa perceber é que este mundo está cada vez mais pejado de pobres de espírito, influenciados por mexericos de redes sociais e anúncios de tv, cujo principal objectivo é ter e parecer, sem opinião própria, cujos gostos são estereotipados por uma qualquer revista ou blogger famosa ou tão somente pela vizinha da frente. E que isto começa cada vez mais cedo sem que os responsáveis educativos mexam uma palha para contrariar esta tendência.
E, sem nos darmos conta, estamos a criar pequenos seres autoritários, dependentes de futilidades, presos a títulos e com uma total ausência de valores fundamentais.
Quando estava na faculdade contava todos os patacos para não sobrecarregar os meus pais, tinha 3/4 pares de sapatos e duas malas.
Às vezes chegava a sentir-me culpada quando comprava algo que não fosse essencial (e que normalmente era resultado de uma poupança ou um dinheirinho extra que alguém me dava). Hoje vejo míudas que nunca fizeram nada na vida além de passearem os livros a comprar cremes e maquilhagem topo de gama, a exigirem a roupa das marcas mais fashion, os míudos com notebooks topo de gama a gastarem o equivalente à minha mesada naquela idade numa noite de copos, isto tudo enquanto os pais pagam o crédito da casa, do carro, do frigorífico, das últimas férias às maldivas e sem que ninguem veja nada de errado nestes comportamentos.
E, Senhores, é desta crise que eu tenho realmente medo.
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