Era uma vez um português, um alemão e um francês. A certa altura, o francês disse: - Aquele tipo que entrou é igual a Jesus Cristo.Abarba, o cabelo, a túnica... vou falar com ele. Dirigiu-se à pessoa e tanto insistiu que ele confessou ser Jesus Cristo,mas não queria que ninguém soubesse. O francês fez chantagem e exigiu, para se calar, que ele o curasse de ser coxo. Jesus Cristo fez o milagre. Chegou o francês àmesa e contou aos outros.
O alemão levantou-se e foi ter comJesus Cristo. Era cego de um olho e exigiu que ele lhe desse visão.O milagre foi feito.
O português, sabendo disto tudo, não se mexeu. Jesus Cristo, intrigado por o não procurar, foi ter com ele e colocou-lhe a mão no ombro.O português levantou-se,deu um salto, gritando-lhe:-Tira a mãode cima de mim,que eu estou de baixa!
Esta anedota, não parece, mas vem a propósito do acordo que assinámos coma ‘troika’ e que, tal como os gregos,provavelmente não vamos conseguir cumprir. Já se nota alguma inquietação de Bruxelas uma vez que,um mês volvido depois de os partidos terem subscrito o plano de austeridade, pouco ou
nada se tem visto no terreno, estando nós entretidos com a campanha eleitoral.
A tentação é culpar os políticos. E eu já o fiz muitas vezes nesta coluna de opinião.Dizer que são uns malandros, que nos puseram nesta situação e que muito dificilmente vão conseguir evitar que o nosso País passe pela humilhação de ter de reestruturar a dívida. Mas não chega. Os nossos políticos não
vêm da “politicolândia”. Vêm de Portugal. A indisciplina, o desenrascanço,o deixar tudo para a última,o“deixaandar”,o “logo se vê”, o “vai-se fazendo” faz parte da nossa cultura.
Nós não somos alemães. Um alemão orgulha-se de dizer que pagou os seus impostos.Nós dizemos, com algum embaraço e resignação, que este ano não conseguimos fugir aos impostos.
E é esse o maior risco de Portugal não conseguir cumprir as metas da troika’.A nossa mentalidade.E mesmo que, perante o apertado escrutínio público, consigamos cumprir as metas impostas, vamos relaxar à primeira oportunidade. Basta ver que em 83, quando o FMI cá esteve da última vez, acabámos por não receber a última tranche do empréstimo porque, com a economia a dar os primeiros sinais de recuperação, ignorámos as últimas medidas que nos foram impostas.
A prova desta nossa mentalidade, deste “fazer tudo em cima do joelho” e da nossa indisciplina é a trapalhada de ontem com os impostos, que obrigou as Finanças a alargar os prazos de pagamento. E de quem é a culpa? De uns senhores incompetentes que lá estão e que fizeram coincidir os prazos de pagamentos de IRC, IRS e IUC? Ou dos milhares de contribuintes que deixaram tudo para a última hora e fizeram ‘crashar’o sitedoFisco?
Se não mudarmos de vida, todos–políticos e cidadãos–desta vez nem a nossa famigerada capacidade de desenrascanço nos pode valer. Porque o cumprir com o programa da ‘troika’não depende apenas do Sr. Passos, do Sr. Sócrates, do Sr. Portas e Companhia Ldª. Depende de todos nós, cada um com o seu
grau de responsabilidade. Já diz o provérbio: “Cada um varra a frente de sua porta e num instante a rua ficará limpa”.■
Opinião de PEDRO SOUSA CARVALHO, sub-director do Diário Económico
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