Biografia oficial omite ligação de Rui Machete ao BPN
Governo diz que da biografia constam apenas as funções públicas. É a segunda vez que uma biografia de um membro deste governo é omissa quanto a ligações ao BPN: o primeiro caso foi o de Franquelim Alves, secretário de Estado da Inovação e do Empreendedorismo.
A biografia do novo ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, enviada nesta terça-feira pelo gabinete do primeiro-ministro aos órgãos de comunicação social é omissa quanto à passagem do antigo presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) pela Sociedade Lusa de Negócios.
Rui Machete, foi presidente ao longo de vários anos do Conselho Superior da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), a dona do Banco Português de Negócios (BPN), onde o Estado português injectou a fundo perdido cerca de 4 mil milhões de euros.
Na sua qualidade de então presidente da Fundação Luso-Americana, Rui Machete esteve ligado ao Banco Privado Português (BPP), onde foi membro também do Conselho Consultivo, e onde adquiriu cerca de 3% das acções, investimento que a FLAD perdeu quando o banco declarou falência.
O currículo oficial de Rui Machete enviado pelo Governo menciona os cargos governativos anteriormente desempenhados pelo novo MNE –foi nomeadamente ministro dos Assuntos Sociais, ministro da Justiça vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa – bem como funções parlamentares, passagens por instituições públicas como a FLAD ou o Banco de Portugal, currículo académico e actividade docente.
As únicas menções a cargos em empresas são a direcção do departamento jurídico da Companhia Portuguesa de Electricidade e depois da EDP.
Em declarações à Rádio Renascença, o coordenador do Bloco de Esquerda, João Semedo, disse tratar-se de uma “escolha de mau gosto”.
“Rui Machete foi, durante muitos anos, presidente do conselho superior do grupo BPN/SLN, teve uma posição de grande responsabilidade, muita proximidade ao que se verificou naquele grupo e que nós todos hoje sabemos, até porque estamos a pagar muitos milhões de euros que as fraudes sucessivas no grupo BPN/SLN provocaram”, afirma João Semedo aquela rádio.
Segundo caso de omissão
É a segunda vez que dados biográficos relativos a ligações à SLN e ao BPN são omitidos da biografia oficial de um governante. Em Janeiro deste ano, a passagem do secretário de Estado da Inovação e do Empreendedorismo, Franquelim Alves, pela SLN fora também omitida da biografia oficial.
Em Fevereiro deste ano, Franquelim Alves explicou-se no Parlamento quanto à sua ligação ao banco, durante aproximadamente um ano, afirmando “ter sido a pior opção profissional da sua vida”
"Foi possivelmente a pior opção profissional da minha vida, não por ter algo a ver com o que se passou lá, mas por me ver confrontado com uma situação complexa. Saí, por minha mão, quando considerei que não tinha condições. Sinto-me um cidadão de pleno direito e não tenho nenhuma razão para não aceitar o convite que honrosamente me foi colocado", disse então aos deputados.
O Governo justifica a ausência de qualquer referência às funções desempenhadas por Rui Machete na sociedade que detinha o Banco Português de Negócios (BPN) referindo que dessa biografia constam apenas funções públicas.
“O currículo público do dr. Rui Machete é aquele que foi divulgado”, disse ao PÚBLICO Rui Baptista, assessor do primeiro-ministro.Rui Machete, foi presidente ao longo de vários anos do Conselho Superior da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), a dona do Banco Português de Negócios (BPN), onde o Estado português injectou a fundo perdido cerca de 4 mil milhões de euros.
Na sua qualidade de então presidente da Fundação Luso-Americana, Rui Machete esteve ligado ao Banco Privado Português (BPP), onde foi membro também do Conselho Consultivo, e onde adquiriu cerca de 3% das acções, investimento que a FLAD perdeu quando o banco declarou falência.
O currículo oficial de Rui Machete enviado pelo Governo menciona os cargos governativos anteriormente desempenhados pelo novo MNE –foi nomeadamente ministro dos Assuntos Sociais, ministro da Justiça vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa – bem como funções parlamentares, passagens por instituições públicas como a FLAD ou o Banco de Portugal, currículo académico e actividade docente.
As únicas menções a cargos em empresas são a direcção do departamento jurídico da Companhia Portuguesa de Electricidade e depois da EDP.
Em declarações à Rádio Renascença, o coordenador do Bloco de Esquerda, João Semedo, disse tratar-se de uma “escolha de mau gosto”.
“Rui Machete foi, durante muitos anos, presidente do conselho superior do grupo BPN/SLN, teve uma posição de grande responsabilidade, muita proximidade ao que se verificou naquele grupo e que nós todos hoje sabemos, até porque estamos a pagar muitos milhões de euros que as fraudes sucessivas no grupo BPN/SLN provocaram”, afirma João Semedo aquela rádio.
Segundo caso de omissão
É a segunda vez que dados biográficos relativos a ligações à SLN e ao BPN são omitidos da biografia oficial de um governante. Em Janeiro deste ano, a passagem do secretário de Estado da Inovação e do Empreendedorismo, Franquelim Alves, pela SLN fora também omitida da biografia oficial.
Em Fevereiro deste ano, Franquelim Alves explicou-se no Parlamento quanto à sua ligação ao banco, durante aproximadamente um ano, afirmando “ter sido a pior opção profissional da sua vida”
"Foi possivelmente a pior opção profissional da minha vida, não por ter algo a ver com o que se passou lá, mas por me ver confrontado com uma situação complexa. Saí, por minha mão, quando considerei que não tinha condições. Sinto-me um cidadão de pleno direito e não tenho nenhuma razão para não aceitar o convite que honrosamente me foi colocado", disse então aos deputados.
Novo ministro dos Negócios Estrangeiros com fortes ligações ao BPN e ao BPP
Na década de 2000, antes dos dois bancos serem intervencionados e alvo de investigações policiais, Rui Machete ocupou funções ao mais alto nível no BPN e no BPP.
O novo Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, foi presidente ao longo de vários anos do Conselho Superior da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), a dona do Banco Português de Negócios (BPN), onde o Estado português injectou a fundo perdido cerca de 4 mil milhões de euros.
A holding detinha a totalidade do capital do BPN, que foi nacionalizado em Novembro de 2008. As averiguações que seriam posteriormente desencadeadas pelo Ministério Público e pelo Banco de Portugal confirmaram que para além dos problemas de liquidez, do excesso de imparidades, da falta de capital, das relações promíscuas entre gestores e accionistas, o banco tinha sido alvo, ao longo de vários anos, de uma mega fraude (existia, por exemplo, um banco virtual a funcionar nos moldes do BPN desconhecido do Banco de Portugal). Uma burla levada a cabo por gestores e accionistas, um caso de polícia.
A nacionalização do banco, liderado por Oliveira Costa, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de Cavaco Silva, teve repercussões políticas dado que até à intervenção estatal no BPN, ocuparam funções de destaque no grupo SLN/BPN personalidades com peso no PSD. Rui Machete, Daniel Sanches, ex-ministro de Santana Lopes, Dias Loureiro, ex-ministro da Administração Interna de Cavaco Silva e ex-Conselheiro de Estado, Duarte Lima, dirigente do PSD, e Arlindo Carvalho, ex-ministro da Saúde de Anibal Cavaco Silva, foram alguns dos nomes que se evidenciaram. Joaquim Coimbra, da direcção social-democrata, era um dos grandes accionistas da SLN. Já Cavaco Silva (e a filha) antes de se candidatar a Belém vendeu as acções da SLN a Oliveira Costa com um ganho de 350 mil euros.
Para além do BPN, Machete ocupava simultaneamente funções no Conselho Consultivo do BPP, liderado por Francisco Balsemão. Na qualidade de presidente da FLAD, Machete viabilizou a compra de cerca de 3% do capital da instituição financeira, fundada por João Rendeiro. Uma situação que gerou polémica com outra figura relevante do PSD, Mota Amaral, ex-presidente da Assembleia da República, a defender publicamente que o investimento foi ruinoso para a fundação (criada com verbas entregues pelos EUA ao abrigo do acordo sobre a concessão de facilidades militares nos Açores).
Na altura, Machete reagiu para garantir que a ligação ao BPP só deu lucro à FLAD. Mas a falência do BPP, que tem vários processos a correr em tribunal contra a ex-gestão presidida por João Rendeiro, implicou que os accionistas perdessem os valores investidos
Na sua qualidade de ex-presidente da Fundação Luso-Americana, Rui Machete esteve ligado ao Banco Privado Português (BPP), onde foi membro também do Conselho Consultivo, e onde adquiriu cerca de 3% das acções, investimento que a FLAD perdeu quando o banco declarou falência.
Rui Machete, ex-ministro da Defesa e ex-vice-primeiro-ministro de um governo do bloco central, na década de 80, desempenhou funções ao mais alto nível na SLN, estando à frente do Conselho Superior (onde estão representados os accionistas), um lugar que garante poder de “fiscalização”.A holding detinha a totalidade do capital do BPN, que foi nacionalizado em Novembro de 2008. As averiguações que seriam posteriormente desencadeadas pelo Ministério Público e pelo Banco de Portugal confirmaram que para além dos problemas de liquidez, do excesso de imparidades, da falta de capital, das relações promíscuas entre gestores e accionistas, o banco tinha sido alvo, ao longo de vários anos, de uma mega fraude (existia, por exemplo, um banco virtual a funcionar nos moldes do BPN desconhecido do Banco de Portugal). Uma burla levada a cabo por gestores e accionistas, um caso de polícia.
A nacionalização do banco, liderado por Oliveira Costa, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de Cavaco Silva, teve repercussões políticas dado que até à intervenção estatal no BPN, ocuparam funções de destaque no grupo SLN/BPN personalidades com peso no PSD. Rui Machete, Daniel Sanches, ex-ministro de Santana Lopes, Dias Loureiro, ex-ministro da Administração Interna de Cavaco Silva e ex-Conselheiro de Estado, Duarte Lima, dirigente do PSD, e Arlindo Carvalho, ex-ministro da Saúde de Anibal Cavaco Silva, foram alguns dos nomes que se evidenciaram. Joaquim Coimbra, da direcção social-democrata, era um dos grandes accionistas da SLN. Já Cavaco Silva (e a filha) antes de se candidatar a Belém vendeu as acções da SLN a Oliveira Costa com um ganho de 350 mil euros.
Para além do BPN, Machete ocupava simultaneamente funções no Conselho Consultivo do BPP, liderado por Francisco Balsemão. Na qualidade de presidente da FLAD, Machete viabilizou a compra de cerca de 3% do capital da instituição financeira, fundada por João Rendeiro. Uma situação que gerou polémica com outra figura relevante do PSD, Mota Amaral, ex-presidente da Assembleia da República, a defender publicamente que o investimento foi ruinoso para a fundação (criada com verbas entregues pelos EUA ao abrigo do acordo sobre a concessão de facilidades militares nos Açores).
Na altura, Machete reagiu para garantir que a ligação ao BPP só deu lucro à FLAD. Mas a falência do BPP, que tem vários processos a correr em tribunal contra a ex-gestão presidida por João Rendeiro, implicou que os accionistas perdessem os valores investidos
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