Fazer cair Mubarak foi complicado e exigiu imensa coragem e imaginação política. Construir uma democracia será bastante mais difícil. A história mostra que a distância entre a liberdade e a tirania é curta.
O tsunami político mostra outra coisa que me parece importante - o colapso da credebilidade das autocracias árabes. Numa daquelas ironias políticas em que a história é fértil, este colapso está a ter lugar na precisa altura em que o cepticismo internacional em relação às virtudes das democracias liberais euroatlânticas é grande.
Há uns breves meses, a segunda década do século XXI prometia ser a década em que as autocracias apoiadas nos seus modelos de capitalismo de Estado iam ter finalmente a oportunidade de demonstrar às democracias liberais as suas capacidades políticas e económicas ao nível interno e externo.
Nas últimas semanas os manifestantes no Cairo disseram uma coisa diferente - o lugar da autocracia não é no palácio presidencial e nos gabinetes governamentais mas sim no Museu de Antiguidades Egípcias.
Os egípcios cansaram-se de ser súbditos e querem ser indivíduos com responsabilidades e direitos. Vêm aí novas regras políticas para o Egipto e para o mundo árabe.
(Excertos de um texto de Miguel Monjardino publicado no Expresso de 12-2-2011)
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