terça-feira, 13 de julho de 2010

CANTINEIROS E EMPRESÁRIOS - EQUÍVOCOS

Devido ao habitual mau desempenho da gestão pública (lentidão das decisões, peso da burocracia, excesso de trabalhadores, falta de sentido de responsabilidade, hierarquias cinzentas sem capacidade decisória, "porreirismo" na avaliação das competências), criou-se a ideia de que apenas os gestores do sector privado são competentes, de que apenas as empresas capitalistas funcionam e se regeneram.

A actual crise internacional mostrou, a todos, que tal não é verdade. Não só os responsáveis pela crise são os gestores capitalistas, como as empresas por si admnistradas se mostraram incapazes de se salvar sem a ajuda dos Estados. Afirmar o contrário desta verdade é demagogia de políticos que, a todo o custo, querem ganhar o poder. Sem as soluções do Estado o estrondo do Mercado teria sido maior.

Preocupados única e exclusivamente com os dividendos a distribuir pelos accionistas, pelo lucro imediato, falta ao privado a visão para um desenvolvimento sustentado e global, falta a visão social do investimento, na crença de que o milagre das leis da economia sem freios tudo solucione (entretanto, neste compasso de espera, a "escória" da catástrofe desespera. Já não são homens, tratam-nos com a percentagem dos números).

Por isso, é falso afirmar que apenas os os privados sabem criar riqueza.

Faz parte da História a falta de empresários em Portugal. Incapazes do risco, do arrojo, limitámo-nos, no Império da colonização, a ser modestos comerciantes e furiosos esbanjadores. Mas o passado repete-se. Se olharmos para as poucas modernas, bem geridas e empreendedoras empresas nacionais, constatamos que estas foram fundadas pelo Estado. EDP, GALP e PT são exemplo do que afirmo. São estas empresas públicas que espalham pelo mundo a imagem da competência nacional.

Nenhum privado teve a iniciativa de as fundar, a coragem de arriscar, o arrojo de as inventar. Numa boleia oportunista, limitaram-se a entrar no capital de empresas privatizadas depois de consolidadas e de serem altamente lucrativas. Exigem agora direitos que não têm.

É ainda a História que vem em nosso socorro. Sem nunca terem conseguido ultrapassar o espírito de pequenos comerciantes à espera do lucro fácil e imediato, os empresários portugueses nunca souberam viver sem a bengala do poder político. Falta-lhes a dimensão do longo prazo, a determinação do empreendedorismo industrial. Por isso, em Angola, em Moçambique, na Guiné, em Cabo-Verde, em São Tomé e Principe, em Timor, na Índia, durante a colonização portuguesa, nunca houve verdadeiras empresas nacionais. Sobravam os pequenos comerciantes e agricultores, faltavam os grandes investidores (em Angola o petróleo pertencia aos americanos, belgas e franceses, os diamantes ao capital sul-africano, o Caminho de Ferro de Benguela aos ingleses, a Cotonang aos belgas, a Empresa de Cobre de Angola aos japoneses, a Mineira do Lobito aos alemães). A riqueza ali à mão de semear e cegos, analfabetos, limitávamo-nos a tomar banhos de praia e a cantar o hino nacional.

O que recentemente aconteceu à PT, com os pequenos "comerciantes" portugueses a querer vender a Vivo à Telefónica, para lucrar fácil e rapidamente, demonstra, mais uma vez, que o Capital nacional não ultrapassou ainda o espírito de pequeno retalhista.
Tenho, por isso, a convicção de que o Estado deve, ao invés de reduzir, reforçar, para as defender, o seu papel nas empresas públicas.

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