A tabuada de Gaspar
21/02/13 00:31 | Helena Cristina Coelho
in jornal económico
Os portugueses começam a ter suores frios só de pensar que o ministro das Finanças pode carregar a qualquer momento natecla F5
Os portugueses começam a ter suores frios só de pensar que o ministro das Finanças pode carregar a qualquer momento na tecla F5 do seu computador para actualizar os gráficos de Excel e descobrir uma nova surpresa. A última apareceu ontem: dá pelo nome de recessão e onde antes aparecia 1% aparece agora 2%. Não sei se Vítor Gaspar perdeu o sono quando actualizou estes números, mas a insónia é capaz de ser o menor dos seus problemas. Primeiro, porque estes novos números significam que a actividade económica do País, que já está em apuros, vai contrair-se ainda mais do que o previsto. Depois, porque traduz mais um erro de cálculo do Governo que, ao confundir cautela com optimismo, acabou por desenhar um Orçamento para 2013 que não antecipou a velocidade a que o desemprego aumenta nem o ritmo a que a economia encolhe. Por fim, porque cada vez que Gaspar anuncia uma nova conta furada, apresentando a seguir a factura que o País tem de pagar pelo erro cometido, a já frágil esperança dos portugueses apaga-se mais um pouco - e, aos poucos, a fúria propaga-se.
Não é fácil fazer previsões económicas num tempo tão incerto e cheio de dificuldades. É quase tão impensável como pedir a um neurocirurgião para dirigir uma operação montado num carrossel. Não se espera por isso que o Governo antecipe o futuro com o rigor de um ponto percentual, porque não é futurismo que se espera dele. É realismo que se pede. E é competência que se exige. Gaspar montou uma equação complexa para antecipar a economia dos próximos anos, mas desvalorizou a variável mais importante de todas: a realidade. E essa é a variável que está a furar todas as previsões, que está a inundar os centros de emprego, que está a levar os portugueses a cantar em protesto, que está a ameaçar as ruas com novas invasões populares.
O governo não pode virar as costas a esta realidade, com a mesma facilidade com que um ministro abandona uma sala depois de um grupo de estudantes o impedir de falar ou que um primeiro-ministro garante que o desemprego não lhe tira o sono. Por isso, quando um ministro assume que voltou a falhar previsões, não pode assumir que os portugueses vão dar a isso pouca importância, encolher os ombros e seguir com as suas vidas. Porque já são demasiadas previsões falhadas e erros demasiado importantes para serem ignorados. A realidade dos portugueses é demasiado séria para ser levada a brincar. E não pode tremer cada vez que se pensa que alguém no Terreiro do Paço vai actualizar gráficos de Excel no computador.
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