Errico Malatesta (
Santa Maria Capua Vetere,
14 de dezembro de
1853 —
Roma,
22 de julho de
1932) foi um teórico e
ativista anarquista italiano.
Nasceu em
1853 em uma família abastada do sul da
Itália. De fato, os Malatesta dominaram a província de
Rimini e, no período de maior expansão, os
castelli do norte de
San Marino, a
província de Pesaro, parte de
Ancona,
Forlì e
Ravenna, entre
1295 e
1528.
Desde muito jovem, Errico adere aos ideais
republicanos de
Giuseppe Mazzini. Aos catorze anos de idade, protesta contra uma injustiça local, enviando uma carta ao rei
Vítor Emanuel II, considerada por
Luigi Fabbri como “insolente e ameaçadora”. As autoridades levaram o fato a sério e ordenaram a sua prisão, em
25 de março de
1868. Seu pai conseguiu libertá-lo recorrendo a amigos. Dois anos mais tarde foi novamente preso em
Nápoles, por liderar uma manifestação, sendo suspenso por um ano da
Universidade de Nápoles, onde estudava
medicina.
Em
1871, após a
Comuna de Paris abandona as idéias republicanas e adere ao anarquismo, ingressando na Associação Internacional dos Trabalhadores, AIT (
Primeira Internacional) . Nessa época, entusiasmado com a atividade revolucionária, escreveria sobre a Internacional:
Todos entregavam para a propaganda tudo o que podiam, e também o que não podiam, pois quando o dinheiro escasseava, vendiam tranquilamente os objetos de suas casas, aceitando com resignação as censuras das respectivas famílias. Pela propaganda esquecíamos o trabalho e os estudos! Enfim, a Revolução estava a ponto de eclodir a qualquer momento e consertaria tudo. Alguns acabavam com frequência na cadeia, todavia, saíam dali com mais energias do que antes: as perseguições não tinham outro efeito senão consolidar nosso entusiasmo. É verdade que as perseguições daquele momento eram fracas comparadas com as que viriam mais tarde. Naquela época, o regime havia saído de uma série de revoluções e as autoridades, rígidas desde o início com os trabalhadores, em particular no campo, mostravam certo respeito pela liberdade na luta política, uma espécie de indisposição parecida com a dos governantes austríacos e a dos Bourbons, que, todavia, se desfez tão rápido quanto se consolidou o regime, e a luta pela independência nacional foi relegada a um segundo plano.
Nessa época, Malatesta se dedica de corpo e alma à Federação Italiana e colabora com
Carlo Cafiero em
L’Ordine e
La Campana de Nápoles, abandonando seus estudos para dedicar os próximos sessenta anos de sua vida à agitação anarquista. Ao longo desse período passou várias vezes pela prisão e lutou não só na Itália como em outros países distantes e tão diferentes entre si quanto a
Turquia e a
Argentina. Participou também de insurreições na
Bélgica,
Espanha e Itália.
Em
1872, no Congresso de
Saint-Imier, no cantão de
Berna, conheceu
Bakunin, de quem iria sofrer profunda influência:
No ano de
1873 eclodem os movimentos insurrecionais preparados por Bakunin e Cafiero. A polícia, advertida, faz fracassar esses movimentos. Malatesta se encontra em
Puglia, foge numa carroça de feno, mas é reconhecido, preso e novamente encarcerado na prisão de
Trani. No processo, em
1875, a propaganda pela Internacional não cessa e ele é absolvido. Junta-se então a Bakunin e Cafiero na
Suíça. Nesse mesmo ano, apesar dos conselhos de Bakunin, parte para a
Hungria a fim de participar da insurreição da
Herzegovina contra os
turcos. É preso e entregue à polícia italiana.
Juntamente com
Carlo Cafiero e outros militantes prepara uma insurreição em Letino, província de Caserta, em
1877, que se tornou legendário na luta social italiana. Ele e seus companheiros distribuíram armas para à população e queimaram arquivos públicos, proclamando o socialismo libertário. Malatesta e Cafiero, ainda que sabendo como fugir permaneceram no local e foram presos. A aventura durou doze dias, um policial foi morto, um outro foi ferido. No processo, todos declararam ter disparado contra os policiais, mas o júri os absolveu.
Malatesta volta a
Nápoles em
1878 e é constantemente vigiado pela polícia. Gasta sua herança em propaganda. Parte por um tempo para o
Egito. Lá, o
cônsul italiano o expulsa para
Beirute; o de Beirute o envia para
Esmirna. A bordo de um navio francês, torna-se amigo do capitão, que o conserva no navio até a Itália. Em
Livorno, a polícia quer prendê-lo, mas o capitão se recusa a entregá-lo. Finalmente, Malatesta desce para
Marselha e dali vai para
Genebra onde ajuda
Kropotkin a publicar
Le Revolté. Expulso, dirige-se à
Romênia, em seguida, à
França, em
1879. De novo expulso, vai para a
Bélgica, depois para
Londres. Fixa-se, enfim, em Londres, onde trabalha como vendedor de sorvetes e bombons, antes de abrir uma nova oficina mecânica.
No
Congresso Anarquista de Londres de
1881 defendeu a criação de uma
Internacional Anarquista.
Em
1885 exilou-se na
Argentina, onde colaborou com os primeiros núcleos anarquistas, desenvolvendo uma ativa propaganda do Anarquismo, publicando o jornal
Questione Sociale.
Regressou à Europa em
1889, desta vez indo para França. Mas logo teve de se exilar na Inglaterra.
Em 1913, vai à Itália, encontra-se com
Mussolini, diretor do
Avanti, importante jornal operário. Ao longo do ano de
1914 dedica-se a acalmar as querelas pessoais entre os anarquistas. Entra em contato com as outras organizações revolucionárias, faz conferências e encoraja os
sindicalistas ).
Em
Ancona, durante manifestações antimilitaristas das quais Malatesta participava, a polícia dispara e o povo se apodera da cidade. Os sindicatos decretam
greve geral. É a “semana vermelha”. Porém, o exército intervém.
Mussolini apoia o movimento em palavra, mas nada faz. Malatesta foge não sem declarar:
Continuaremos a preparar a revolução libertadora que deverá assegurar a todos a justiça, a liberdade e o bem-estar.
Ainda em 1914, durante a
Primeira Guerra Mundial, proclama o
Internacionalismo e manifesta-se contra aqueles que defendiam a causa aliada, inclusive seu amigo Kropotkin.
Em
1920, já na Itália, inicia negociações com os
socialistas para fazer a revolução. A polícia tenta provocar desordens e assassiná-lo. Apesar dos obstáculos legais, seu jornal
Umanità Nova tem uma tiragem inicial de 50.000 exemplares. Malatesta impulsiona a
União Sindicalista Italiana (U.S.I.), de influência anarquista. No mesmo ano, em Ancona, eclode uma insurreição e as fábricas são ocupadas. Mas o movimento é traído pelos os
social-democratas da C.G.T., que devolvem as fábricas.
Após um encontro anarquista em
Bolonha, no qual Malatesta toma a palavra, eclodem incidentes, há vítimas e feridos do lado dos operários e da polícia. Malatesta e a equipe do Umanità Nova são presos. Os protestos se multiplicam, ocorrem atentados
fascistas. O fascismo, financiado pela burguesia e ajudado pelo governo, avança. Em contrapartida, Malatesta favorece a formação dos grupos armados.
Em julho de
1922, a greve geral é proclamada pela Aliança do Trabalho - união de diversos sindicatos estimulados por Malatesta. Mas os fascistas dizima pela força. Em seguida, em outubro, acontece a
“marcha sobre Roma” e, na praça Cavour, os fascistas queimam um retrato de Malatesta.
Umanitá Nova é proibido. Malatesta, aos sessenta e nove anos, retoma sua profissão de eletricista. A polícia o vigia em todos os seus movimentos.
Em
1924, surge a revista
Pensiero e Volontà. O fascismo, no seu início, permite a
liberdade de imprensa, mas a censura se faz cada vez mais severa até a proibição da revista em
1926. A oficina de Malatesta é destruída pelos fascistas e ele é obrigado a sobreviver com a ajuda dos camaradas, assim como de sua companheira,
Elena Mulli e a filha desta última, Gemma.
Malatesta passou os últimos anos de sua vida na Itália e, durante o regime
fascista, correspondeu-se com
Makhno e criticou duramente a
Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários. Foi mantido em prisão domiciliar, morrendo em
22 de julho de
1932. Tal era o medo que inspirava às autoridades da época que, ao morrer, seu corpo foi jogado em uma vala anônima, para impedir que seu túmulo se transforma-se em um símbolo e ponto de partida para as agitações dos dissidentes.