REAL FÁBRICA DO FERRO DE NOVA OEIRAS
A «Real Fábrica do Ferro de Nova Oeiras» foi construída há dois séculos em Angola no vale do rio Luínha.
Foi o maior empreendimento industrial do seu tempo na África, da zona tropical ou mesmo de todo o continente africano.
Deve-se ao governador e capitão general de Angola D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho (de 1764 a 1772 no cargo) a obra, uma antecipação ambiciosa para a sua época, em que os meios técnicos e científicos e os recursos materiais e humanos eram ainda demasiado incipientes. Cumpria a política pombalina de fomento industrial e de incremento da colonização (mais uma vez o Marquês de Pombal a contribuir para o progresso…) .
Procurou com a exploração do ferro, reestruturar a economia de Angola de modo a poder dispensar o tráfico de escravos, criando meios de trabalho e rendimento locais que suprissem o recurso forçado a tal exportação.
Visava a exploração dos minérios de ferro que afloravam na região do Rio Luínha.
Sousa Coutinho mandou fazer o seu aproveitamento em 1765, um ano depois de ocupar o cargo de governador, utilizando na fase experimental os processos de fundição e de forja dos ferreiros autóctones, mas planeou logo construir uma grande fábrica - a «Real Fábrica do Ferro» - localizada junto da confluência dos Rios Luínha e Lucala, cerca de 150 quilómetros a sudeste de Luanda, perto do Dondo, iniciada em 1768 e concluída em 1772.
A obra deve-se a Manuel António Tavares, capitão de infantaria do corpo de engenheiros que partiu para Angola em 1764, onde permaneceu várias décadas.
Existe um manuscrito datado de 1776, composto de oito páginas de texto e dois mapas, um da vila e um outro do engenho intitulado “Planta Icnographica da caza, assude e engenho…”, assinados pelo capitão Manuel António Tavares e aduirido a um particular pela Bilioteca Nacional de Portugal. Vai em anexo um dos mapas do relatório de deficiente qualidade e contendo pouca informação, apenas se vê a confluência dos rios e a implantação grosseira das construções, nada que revele a grandiosidade do empreendimento...
Com a partida de Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho em 1772, a «Real Fábrica do Ferro» e a povoação de Nova Oeiras foram abandonadas.
Existe arquivado no Tribunal de Contas em Lisboa um relatório de uma comissão que se deslocou a Nova Oeiras em 1797 para pesquisar o motivo da morte dos mestres enviados de Portugal e os sucessivos desaires humanos ocorridos naquelas instalações. A redacção do relatório final é acompanhada por ilustrações que explicam os factos.
Ainda hoje se conserva a maior parte das construções de Nova Oeiras.
Existem dois extensos troços do dique que represava o rio para regular o seu caudal, o aqueduto condutor da água para mover os engenhos, um grande compartimento para as rodas hidráulicas (a água era distribuída por escoadores sobre aquelas rodas) (o aqueduto tem 22 arcos e cerca de 118 metros de comprimento), um forno de fundição do minério de ferro com uma fornalha de combustão da lenha com a boca em baixo e na parte superior a plataforma de carregamento e descarga de minério. Existia também uma grande ferraria com três armazéns, e um canal para escoar a água.
Este conjunto de construções integra-se na paisagem circundante, o vale do Rio Luinha.
Com a Fábrica, foi edificada também uma povoação, que Sousa Coutinho denominou «Nova Oeiras», destinada a alojar o pessoal ocupado nas construções e o que posteriormente seria ocupado na laboração do ferro.
Foram construídos edifícios públicos, a igreja, a feitoria, a intendência, a tesouraria, etc., e habitações para o pessoal técnico, administrativo, artífices e operários. Ainda restam as ruínas da igreja e da feitoria e alguns vestígios de outras edificações.
A selva escondeu a construção e só em 1925 foi reencontrada e classificada como monumento nacional.
Uma restauração foi efectuada em meados do século XX pelos serviços dos Monumentos Nacionais.
No princípio de 1972 foram postos a descoberto os restos da perdida povoação e realizadas obras de conservação.
Carlos dos Santos Ferreira, arquitecto.
2010-08-09
A «Real Fábrica do Ferro de Nova Oeiras» foi construída há dois séculos em Angola no vale do rio Luínha.
Foi o maior empreendimento industrial do seu tempo na África, da zona tropical ou mesmo de todo o continente africano.
Deve-se ao governador e capitão general de Angola D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho (de 1764 a 1772 no cargo) a obra, uma antecipação ambiciosa para a sua época, em que os meios técnicos e científicos e os recursos materiais e humanos eram ainda demasiado incipientes. Cumpria a política pombalina de fomento industrial e de incremento da colonização (mais uma vez o Marquês de Pombal a contribuir para o progresso…) .
Procurou com a exploração do ferro, reestruturar a economia de Angola de modo a poder dispensar o tráfico de escravos, criando meios de trabalho e rendimento locais que suprissem o recurso forçado a tal exportação.
Visava a exploração dos minérios de ferro que afloravam na região do Rio Luínha.
Sousa Coutinho mandou fazer o seu aproveitamento em 1765, um ano depois de ocupar o cargo de governador, utilizando na fase experimental os processos de fundição e de forja dos ferreiros autóctones, mas planeou logo construir uma grande fábrica - a «Real Fábrica do Ferro» - localizada junto da confluência dos Rios Luínha e Lucala, cerca de 150 quilómetros a sudeste de Luanda, perto do Dondo, iniciada em 1768 e concluída em 1772.
A obra deve-se a Manuel António Tavares, capitão de infantaria do corpo de engenheiros que partiu para Angola em 1764, onde permaneceu várias décadas.
Existe um manuscrito datado de 1776, composto de oito páginas de texto e dois mapas, um da vila e um outro do engenho intitulado “Planta Icnographica da caza, assude e engenho…”, assinados pelo capitão Manuel António Tavares e aduirido a um particular pela Bilioteca Nacional de Portugal. Vai em anexo um dos mapas do relatório de deficiente qualidade e contendo pouca informação, apenas se vê a confluência dos rios e a implantação grosseira das construções, nada que revele a grandiosidade do empreendimento...
Com a partida de Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho em 1772, a «Real Fábrica do Ferro» e a povoação de Nova Oeiras foram abandonadas.
Existe arquivado no Tribunal de Contas em Lisboa um relatório de uma comissão que se deslocou a Nova Oeiras em 1797 para pesquisar o motivo da morte dos mestres enviados de Portugal e os sucessivos desaires humanos ocorridos naquelas instalações. A redacção do relatório final é acompanhada por ilustrações que explicam os factos.
Ainda hoje se conserva a maior parte das construções de Nova Oeiras.
Existem dois extensos troços do dique que represava o rio para regular o seu caudal, o aqueduto condutor da água para mover os engenhos, um grande compartimento para as rodas hidráulicas (a água era distribuída por escoadores sobre aquelas rodas) (o aqueduto tem 22 arcos e cerca de 118 metros de comprimento), um forno de fundição do minério de ferro com uma fornalha de combustão da lenha com a boca em baixo e na parte superior a plataforma de carregamento e descarga de minério. Existia também uma grande ferraria com três armazéns, e um canal para escoar a água.
Este conjunto de construções integra-se na paisagem circundante, o vale do Rio Luinha.
Com a Fábrica, foi edificada também uma povoação, que Sousa Coutinho denominou «Nova Oeiras», destinada a alojar o pessoal ocupado nas construções e o que posteriormente seria ocupado na laboração do ferro.
Foram construídos edifícios públicos, a igreja, a feitoria, a intendência, a tesouraria, etc., e habitações para o pessoal técnico, administrativo, artífices e operários. Ainda restam as ruínas da igreja e da feitoria e alguns vestígios de outras edificações.
A selva escondeu a construção e só em 1925 foi reencontrada e classificada como monumento nacional.
Uma restauração foi efectuada em meados do século XX pelos serviços dos Monumentos Nacionais.
No princípio de 1972 foram postos a descoberto os restos da perdida povoação e realizadas obras de conservação.
Carlos dos Santos Ferreira, arquitecto.
2010-08-09
1 comentário:
Foi um prazer ter a oportunidade de ler sobre "Nova Oeiras".Sabia que se devia ao Marquês de Pombal tão grandiosa obra. Na minha infância tive a possibilidade de visitar as ruínas de Nova Oeiras e até hoje guardo a memória de ruínas com grandiosidade e importância!
Carmen Cruz
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