quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A VIDA DOS OUTROS - A POBREZA É UM CASTIGO DIVINO


Paulo Teixeira Pinto é autor de uma proposta de revisão constitucional que pretende liberalizar os despedimentos. Paulo Teixeira Pinto garantiu para si próprio, no BCP, uma indemnização de 10 milhões de euros e uma pensão anual de 500 mil euros até ao fim da vida. Ernâni Lopes propôs a redução salarial dos funcioários públicos em 10, 20 ou 30 por cento. Sem explicações. A cru. Ernâni Lopes recebe, desde os 47 anos, uma reforma do Banco de Portugal. Campos e Cunha defendeu a taxa fiscal plana, o que representaria uma perda fiscal significativa para o Estado e, já agora, o fim do papel redistributivo dos impostos. Campos e Cunha recebe, desdee os 49 anos, com prejuízo para os contribuintes, uma reforma de oito mil euros por ter ocupado o cargo de vice-governador do Banco de Portugal por seis anos.
...Conforto de que, estou seguro, se julgam merecedores.
...O problema é que a imagem que têm do Estado, do funcionalismo público ou das relações laborais é a imagem que a sua própria experiência lhes devolve: um Estado generoso, um funcionalismo público cheio de privilégios e relações de trabalho com todas as garantias.
...Acontece que as práticas de quem propõe, não dizendo nada sobre a justiça de cada proposta, dizem muito do contexto em que essas propostas aparecem. E o contexto é o de uma sociedade desigual nos sacrifícios e nas vantagens, precária e insegura para a maioria e garantista e blindada para uma minoria. O problema que aqui me interessa não é apenas ético, apesar da ética também contar. É social. É o de uma elite que vive num mundo à parte, com regras à parte, e é por isso incapaz de perceber a vida dos outros.
...Poderiam ser ricos e perceber tudo isto.
...Mas julgando, como julgam, que os seus privilégios excepcionais resultam do mérito, não podiam deixar de julgar que as banais dificuldades dos outros resultam do desmérito. Quem vive confortável na injustiça nunca poderá compreender a sua insuportabilidade. Quem pensa que o privilégio é um direito nunca poderá deixar de pensar que a pobreza é um castigo.
(excerto de um texto de Daniel Oliveira - Expresso de 31 de Julho de 2010)

2 comentários:

Anónimo disse...

Pagos pelo seu mérito? Qual mérito, o mérito de terem levado o país ao beco sem saída em que se encontra. Ernâni Lopes, Paulo Teixeira Pinto, Campos e Cunha, e outros que tais, esquecem-se que foram eles que ao longo destas décadas estiveram no poder, que foram eles que desgovernaram o país para se governarem. Falam e escrevem como se a culpa pela crise fosse dos outros, de uma entidade desconhecida,em última análise do povo ignorante, preguiçoso, estúpido, que se limita a executar as tarefas de que esses meritocratas o incumbem. É preciso ter descaramento. Já cá fazem falta as FP 25.

Anónimo disse...

As revoluções são cíclicas. Não pensem estes senhores, o arrogante Ernâni Lopes, futuro ministro do PSD, que pelo facto de estarmos na Europa não mais haverá levantamentos populares, golpes de estado. Lá virá o tempo, quando os generais portugueses voltarem a ter "cojones".
Maria da Fonte.