quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

MARTIN SCHULZ, A ALEMANHA, PORTUGAL E ANGOLA

Seduzir Angola condena Portugal ao «declínio»

Presidente do Parlamento Europeu aponta, tal como Merkel, Portugal como exemplo daquilo que não se deve fazer na União Europeia

Apostar no investimento angolano condena Portugal ao «declínio». O aviso é do presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz, que, tal como Angela Merkel fez esta semana, apontou a economia nacional como um mau exemplo, um exemplo daquilo que não deve ser feito na União Europeia.

Se chanceler alemã apontou o dedo à Madeira, relativamente ao uso de fundos estruturais para a construção de túneis e auto-estradas, Schulz criticou a visita de Passos Coelho a Angola, em Novembro, onde tentou seduzir os angolanos a investir nas privatizações nacionais.

«Há umas semanas estive ler um artigo no Neue Zurcher Zeitung que até recortei. O recém-eleito primeiro-ministro de Portugal, Passos Coelho, deslocou-se a Luanda» e «apelou ao governo angolano a que invista mais em Portugal, porque Angola tem muito dinheiro. Esse é o futuro de Portugal: o declínio, também um perigo social para as pessoas, se não compreendermos que, economicamente, e sobretudo com o nosso modelo democrático, estável, em conjugação com a nossa estabilidade económica, só teremos hipóteses no quadro da UE», afirmou Schulz, num debate sobre os parlamentos na UE, que teve lugar a 1 de Fevereiro na Biblioteca Solvay, em Bruxelas. Declarações a que o «Público» teve acesso através de um vídeo.

Com este alerta, o presidente do Parlamento Europeu quis fazer referência ao «perigo social» de uma diplomacia económica centrada em países como Angola ou como a China, uma «sociedade esclavagista, sem direitos,numa ditadura que oprime implacavelmente o seu humano».

Eurodeputado quer esclarecimentos

A posição de Schulz causou surpresa a Paulo Rangel, eurodeputado pelo PSD que adiantou ao mesmo jornal que vai fazer «um pedido formal de esclarecimento» ao presidente do Parlamento Europeu.

À Lusa, Rangel disse que «o presidente de uma instituição europeia não pode fazer uma crítica à política externa portuguesa». «Portugal é, há nove séculos, um Estado independente e há cinco séculos que tem relações privilegiadíssimas com os cinco continentes, designadamente com os espaços em que se fala a língua portuguesa».

Embora admita que as críticas do presidente do Parlamento Europeu tivessem um carácter exemplificativo, «procurando dar a entender que a Europa não está a fazer tudo o que devia e isso faz com que os países tenham de procurar soluções noutros continentes», o eurodeputado referiu não compreender a «facilidade com que se fala sobre a diplomacia portuguesa e das suas prioridades».

Por isso, «aquilo que eu vou fazer esta manhã - aliás dentro de momentos - é apresentar ao presidente Martin Schulz um pedido formal de esclarecimento. Vou pedir que ele esclareça qual o sentido das suas afirmações, explico as prioridades da política externa portuguesa - que ele, aliás, conhece».

E, reiterou, «não é institucionalmente correcto que o presidente do Parlamento Europeu, enquanto tal, possa produzir esse tipo de declarações».

Capoulas Santos, do PS, disse por sua vez que «como Estado independente, Portugal tem o direito de ter prioridades diplomáticas próprias, tal como todos os outros países».
[http://www.agenciafinanceira.iol.pt/economia/schulz-angola-portugal-investimento-declinio-privatizacoes/1323998-1730.html]

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