segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

a revolução da maria da fonte ii

[editar] A Convenção de Gramido e as suas consequências

A Convenção de Gramido, assinada a 29 de Junho de 1847, na Casa Branca do lugar de Gramido, em Valbom, Gondomar, pôs fim à insurreição da Patuleia. A Convenção do Gramido tem o seguinte articulado:

Tenente General D. Manoel de la Concha, Conde de Cancellada, e o Coronel Buenaga como representantes da Espanha, o Coronel Wilde como representante da Grã-Bretanha, o Marquês de Loulé, par do reino, e o General César de Vasconcelos, como representantes da Junta Provisória, reunidos em Gramido com o fim de concertar as necessárias medidas para dar pacífico cumprimento às resoluções das Potências Aliadas, concordaram em que a cidade do Porto se submeteria à obediência do Governo de Sua Majestade Fidelíssima [a Rainha de Portugal] com as condições estabelecidas nos 8 artigos que vão escritos no fim da acta. (...)
Artigo 1.º — O fiel, e exacto cumprimento dos 4 artigos da mediação incluídos no Protocolo de 21 de Maio deste ano é garantido pelos Governos Aliados.
Artigo 2. º— As tropas de Sua Majestade Católica [a rainha de Espanha] exclusivamente ocuparão desde o dia 30 de Junho a cidade do Porto, Vila Nova de Gaia, e todos os fortes, e redutos de um e outro lado do rio enquanto a tranquilidade não estiver completamente estabelecida sem receio de que possa ser alterada pela sua ausência, ficando na Cidade do Porto uma forte guarnição das forças Aliadas enquanto estas se conservarem em Portugal. No mesmo tempo o Castelo da Foz será ocupado por forças inglesas, e no Douro estacionarão alguns vasos de Guerra das potências Aliadas.
Artigo 3.º — A época da entrada das tropas Portuguesas na Cidade do Porto será marcada pelas potências Aliadas.
Artigo 4.º — A propriedade e segurança dos habitantes da Cidade do Porto, e de todos os Portugueses em geral, ficam confiados à honra, protecção e garantia das potências Aliadas.
Artigo 5.º — As forças do exército de Sua Majestade Católica receberão as armas dos corpos de linha e voluntários que obedecem à Junta entregando-se guia ou passaporte gratuito às pessoas que tiverem de sair do Porto para as terras da sua residência, e dando-se baixa aos soldados de linha que tiverem completado o tempo de serviço, e aos que se alistaram durante esta luta para servirem só até à sua conclusão.
Artigo 6.º — O Exército da Junta será tratado com todas as honras da guerra sendo conservadas aos oficiais as espadas e cavalos de propriedade sua.
Artigo 7.º — Conceder-se-ão passaportes a qualquer pessoa, que deseje sair do Reino podendo voltar a ele quando lhe convenha.
Artigo 8.º — As três potências Aliadas empregarão os seus esforços para com o Governo de Sua Majestade Fidelíssima a fim de melhorar a condição dos oficiais do antigo exército realista
— (...) — Gramido, 29 de Junho de 1847.

A guerra civil, que tanto assustara a rainha, terminava assim e apesar do discurso pacificador que manteve, D. Maria II ficou deveras ressentida com os vencidos, aos quais nem sempre mostrou a clemência que se poderia esperar, sendo nisso acompanhada pelos principais líderes vencedores.

Em resultado dessa atitude, em breve resultaram perseguições sobre os vencidos, as quais criaram um novo clima de instabilidade que inevitavelmente conduziria a nova revolta, que estalaria em 1851, e que ficaria conhecida por Regeneração.

A revolução da Maria da Fonte foi um dos episódios marcantes da história política de Portugal no século XIX. Foi nesse movimento que muito se salientaram homens, que depois se tornariam muito populares, como os dois irmãos Passos (José da Silva Passos e Manuel da Silva Passos), Rodrigo da Fonseca Magalhães, José Estêvão Coelho de Magalhães, Manuel de Jesus Coelho e outros. Tais figuras marcariam a política do quarto de século seguinte.

[editar] O Hino da Maria da Fonte

Durante a Revolução da Maria da Fonte, o maestro Angelo Frondoni compôs um hino popular que ficou conhecido pelo nome de Hino da Maria da Fonte ou Hino do Minho, obra que respira entusiasmo belicoso e que por muito tempo foi o canto de guerra do Partido Progressista.

Ainda hoje, o Hino da Maria da Fonte continua a ser a música com que se saúdam os ministros portugueses, sendo utilizado em cerimónias cívicas e militares.





Estátua da Maria da Fonte: Lisboa
A letra é a seguinte:



“Viva a Maria da Fonte
A cavalo e sem cair
Com a corneta na boca
A tocar a reunir

Eia avante, portugueses
Eia avante, não temer
Pela santa liberdade
Triunfar ou perecer!(refrão)

Lá raiou a liberdade
Que a nação há-de aditar
Glória ao Minho, que primeiro
O seu grito fez soar!

Essa mulher lá do Minho
Que da foice fez espada
Há-de ter na lusa história
Uma página dourada!”



— Hino da Maria da Fonte

[editar] Referências
Bonifácio, Maria de Fátima, História da Guerra Civil da Patuleia 1846-1847, Editorial Estampa, Lisboa, 1993 (ISBN 9723309270)
Capela, José Viriato; Borralheiro, Rogério, A Revolução do Minho de 1846 e as reformas da administração. In: CONGRESSO DA MARIA DA FONTE, 150 ANOS, Póvoa de Lanhoso, 1996, História da Coragem Feita com Coração: Actas. Póvoa de Lanhoso, Câmara Municipal, 1996, pp. 169-184.
Castelo Branco, Camilo, Maria da Fonte, Lisboa, Ulmeiro, 1986 (Com prefácio de Hélia Correia. Desta obra existem múltiplas edições).
Coelho, José Abílio, Algumas notas sobre a revolução das mulheres de Fontarcada. In: CONGRESSO DA MARIA DA FONTE, 150 ANOS, Póvoa de Lanhoso, 1996, História da Coragem Feita com Coração: Actas. Póvoa de Lanhoso, Câmara Municipal, 1996, pp. 263-269.
Gomes, João Augusto Marques, História da Revolução da Maria da Fonte, na colecção Biblioteca do Povo e das Escolas, (n.º 167), Lisboa.

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