segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A PEDOFILIA E UM SABOR AMARGO


O crime de pedofilia é um dos mais difíceis de provar. Porque a prova documental é escassa. Porque o pedófilo é o criminoso que mais veementemente nega o crime. Ajuda-o o facto de ser, muitas vezes, um indivíduo socialmente integrado, cordato, afável e senhor de uma notoriedade que desmente a priori o seu comportamento duplo. Mais: o pedófilo nega o crime "sinceramente". Isto é, nega-o a si mesmo, preferindo fechá-lo numa "gaveta recôndita" da sua personalidade.
(Excerto de um texto de Filipe Luís, publicado na revista "Visão" de 9 de Setembro de 2010).
Nota: A verdade é que a lei e a sociedade só muito recentemente condenam a prática da pedofilia. Durante toda a minha meninice sempre ouvi dizer, sem qualquer embargo, que nos seminários, colégios internos, e até escolas militares, era comum abusar-se das crianças mais tímidas, por isso mais fracas. Encolhiamos os ombros, não era nada connosco.
Felizmente que a mentalidade mudou.
Paira, contudo, relativamente ao processo da Casa Pia, um sentimento de desconfiança quanto à forma como a Justiça actuou. Um sabor amargo a injustiça. Algo parecer escapado por baixo do nosso nariz. A rede pedófila, que durante anos actuou impunemente, nada tem, afinal, de rede, resume-se a muito pouca coisa. Os acusados, à excepção de Carlos Silvino, o peão de todo o processo, e o que maior pena cumpre, parecem ter sido punidos a medo. Será uma forma de tentar calar futuros sentimentos de vingança, novas denúncias que, como ameaça Carlos Cruz, provocarão um terramoto na República? Será que o "peixe político" escapou das malhas da rede? Especulações?!
Mudaram as mentalidades mas persistem as fantasias eróticas de muitos, que, escondidos na sua duplicidade, socorrendo-se do seu poder, continuarão a enganar a sociedade e as crianças, agora munidos de novas artes.
(AOC)

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