quarta-feira, 18 de julho de 2012

AINDA O BISPO DAS FORÇAS ARMADAS




“Aguiar-Branco não é meu superior nem meu ministro”, diz D.Januário


Por Catarina Falcão e Rosa Ramos, publicado em 18 Jul 2012 - 03:10 Actualizado há 12 horas 54 minutos


Ministro da Defesa acusa bispo de causar embaraço à Igreja. PSD e CDS classificam declarações de D. Januário como “insulto” e “difamação”


“Não estou preocupado. Ele não é meu superior, não é meu ministro.” É a resposta de D. Januário Torgal ao ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, que ontem o desafiou a escolher entre “ser bispo das Forças Armadas e ser comentador político”. Ao i, D. Januário contrapõe: “Um bispo não tem que escolher entre a sua função de membro da Igreja ou de comentador político. Um bispo tem de falar de tudo, é sua obrigação interceder pelos mais frágeis. Se isso é ser comentador político, que seja”.

Em entrevista à TVI, na noite de segunda-feira, D. Januário Torgal considerou que “este governo é profundamente corrupto”, por acreditar que os membros do governo “são equívocos, porque lutam pelos seus interesses, porque têm o seu gangue, porque têm o seu clube e porque pressionam a comunicação social”.

Aguiar-Branco, quando questionado sobre a sua relação com o bispo – dado ser ministro da Defesa e ter a coordenação das Forças Armadas, a que D. Januário está adstrito – saiu em defesa do governo, dizendo que “o senhor bispo causa embaraço é à Igreja e não ao Governo ”.

“Antes da independência de Timor, já eu ia à televisão falar do problema de Timor. Isso é falar sobre os problemas do mundo e das pessoas”, sublinha o Capelão das Forças Armadas, que defende a sua intervenção por esta se referir “a critérios ético-morais que faltam na política”. “O que chateia esta gente é saber que alguém da Igreja fala. Eles não estão habituados a este tipo de realismo”, acrescentou ao i.

O ministro da Defesa, por seu lado, disse esperar que “o senhor bispo tenha apresentado na Procuradoria-Geral da República os factos que fundamentam essa declaração, até porque deve obediência às regras da Igreja e o falso testemunho é matéria que não obedece às regras da Igreja”.

“Ninguém tem que me pedir explicações sobre as coisas que eu digo de acordo com a minha consciência”, contraria D. Januário. A Conferência Episcopal veio ontem considerar que as palavras do bispo são “simplesmente declarações a nível pessoal”.

Paulo Macedo, ministro da Saúde, juntou-se entretanto a Aguiar Branco. “Este governo afronta interesses sem paralelo”, disse Macedo na iniciativa “Redacção Aberta”, do “Jornal de Negócios”.

Críticas no PSD e CDS João Almeida, porta-voz do CDS, classificou as declarações de D. Januário como “graves”, mas acrescentando que estas devem ser “relativizadas em função do autor”. Jorge Moreira da Silva, coordenador da Comissão Política Nacional do PSD, criticou o bispo considerando as suas afirmações “lamentáveis”, não se inscrevendo sequer no contexto de combate político. “Traduzem um exercício gratuito de insulto e de difamação”, afirmou.



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