terça-feira, 19 de abril de 2011

CARTA DE MARISA MOURA À ADMINISTRAÇÃO DA CARRIS




Carta da Marisa Moura à administração da Carris

Para muitos dos nossos gestores públicos, cúmplices no saque encapotado, e que levaram o país a este descalabro!

Exmos. Senhores José Manuel Silva Rodrigues, Fernando Jorge Moreira da Silva, Maria Isabel Antunes, Joaquim José Zeferino e Maria Adelina Rocha,

Chamo-me Marisa Sofia Duarte Moura e sou a contribuinte nº 215860101 da República Portuguesa. Venho por este meio colocar-vos, a cada um de vós, algumas perguntas:

Sabia que o aumento do seu vencimento e dos seus colegas, num total extra de 32 mil euros, fixado pela comissão de vencimentos numa altura em que a empresa apresenta prejuízos de 42,3 milhões e um buraco de 776,6 milhões de euros, representa um crime previsto na lei sob a figura de gestão danosa?

Terá o senhor(a) a mínima noção de que há mais de 600 mil pessoas desempregadas em Portugal neste momento por causa de gente como o senhor(a) que, sem qualquer moral, se pavoneia num dos automóveis de luxo que neste momento custam 4.500 euros por mês a todos os contribuintes?

A dívida do país está acima dos 150 mil milhões de euros, o que significa que eu estou endividada em 15 mil euros. Paguei em impostos no ano passado 10 mil euros. Não chega nem para a minha parte da dívida colectiva. E com pessoas como o senhor(a) a esbanjar desta forma o meu dinheiro, os impostos dos contribuintes não vão chegar nunca para pagar o que realmente devem pagar: o bem-estar colectivo.

A sua cara está publicada no site da empresa. Todos os portugueses sabem, portanto, quem é. Hoje, quando parar num semáforo vermelho, conseguirá enfentar o olhar do condutor ao lado estando o senhor(a) ao volante de uma viatura paga com dinheiro que a sua empresa não tem e que é paga às custas da fome de milhares de pessoas, velhos, adultos, jovens e crianças?

Para o senhor auferir do seu vencimento, agora aumentado ilegalmente, e demais regalias, há 900 mil pessoas a trabalhar (inclusivé em empresas estatais como a “sua”) sem sequer terem direito a Baixa se ficarem doentes, porque trabalham a recibos verdes. Alguma vez pensou nisso? Acha genuinamente que o trabalho que desempenha tem de ser tamanhamente bem remunerado ao ponto de se sobrepôr às mais elementares necessidades de outros seres humanos?

Despeço-me sem grande consideração, mas com alguma pena da sua pessoa e com esperança que consiga reactivar alguns genes da espécie humana que terá com certeza perdido algures no decorrer da sua vida.

Marisa Moura

» Notícia que originou este meu mail em


2 comentários:

Unknown disse...

Só por si, a ser verdade, é vergonhoso, mas mais vergonhoso ainda é as instâncias que deveriam averiguar, investigar, etc não fazerem nada. Será que tem que ser o zé povinho a fazer o trabalho dos investigadores?
O Ministério Público não funciona? Não há mecanismos reguladores?

AOC disse...

Infelizmente, cara Cristina, este não é caso único. Se fizermos um exercício de memória são centenas os exemplos. É por estes e outros desmandos, gravíssimos na boca daqueles que se escondem por detrás da "democracia", acobertados pelos partidos que lá os colocaram e portanto legitimados, que o país está como está. Falido. E não venham dizer que a culpa é de todos. Pela minha parte apenas lamento ter concordado com o saque político/financeiro de Portugal com o meu voto, com a minha condescendência. Há muito que os mecanismos de defesa da democracia deixaram, de facto,de funcionar prisioneiros que estão do nepotismo. Quando o barco vai ao fundo as ratazanas fogem e os passageiros afogam-se. Seremos, por isso, apenas nós a pagar a dívida. As ratazanas darão uma esmola. É preciso começar de novo com a certeza de que voltaremos aos mesmos erros. O poder corrompe. Basta olhar para o mundo.
AOC