quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Crónica da Semana PORTUGAL-BRASIL


As declarações da artista Maitê Proença, num programa da televisão brasileira, sobre os portugueses, entristecem-me. No mínimo, revelam racismo. Com toda a certeza, complexos de inferioridade! Como cidadão do mundo não consigo aceitar que figuras públicas, supostamente cultas, classifiquem seres humanos e a sua cultura segundo preconceitos de superioridade. Era assim que Hitler, Franco, Salazar e Mussulini pensavam sobre os povos que não eram os seus. Maitê Proença, com base em pequenos episódios avulsos, que numa pessoa inteligente não podem servir de argumento para uma tese, afirma que os portugueses são burros, esquisitos e porcos. Os povos, as civilizações, como Maitê devia saber, são entidades complexas para as quais não devemos olhar com má fé e desconfiança. Há sempre razões que explicam o comportamento das pessoas. Por exemplo, há uma tribo na Nova Guiné que come os seus mortos não porque seja antropófaga mas porque respeita os antepassados. Ao dizer, perante uma grande audiência, tão grande dislate, Maitê revelou ignorância e falta de respeito por um povo que, esforçadamente, tem dado o seu contributo para a paz e o progresso da humanidade. Só porque viu um 3 colocado ao contrário sobre uma porta e o porteiro do hotel onde se alojava lhe não arranjou o computador (como está habituada, certamente, a mão-de-obra escrava, não esteve para pagar a reparação a uma empresa especializada que lhe cobraria justos honorários) a "artista" julgou-se com direito ao insulto. Poderei, do mesmo modo, dizer que os brasileiros são um povo de corruptos mesmo quando ministros de Lula roubam dinheiros públicos? Não! Poderei dizer que os brasileiros são esclavagistas quando exploram a mão-de-obra barata de milhões dos seus concidadãos? Não Poderei dizer que os brasileiros são um povo de preguiçosos só porque têm baixos índices de produtividade?Não! Poderei dizer que os brasileiros são um povo de marginais só porque têm milhões de favelados? Não! Poderei dizer que os brasileiros são um povo de gente porca só porque os índios do Amazonas "cagam" atrás das árvores ?Não! A não ser que Maitê não considere os índios gente.Poderei dizer que os brasileiros são um povo de burros só porque têm milhões de analfabetos? Não! Quando fala de Portugal tão depreciativamente, Maitê esquece-se de navegadores como Gama, Cabral, Magalhães e Colombo; de poetas e escritores como Camões, Pessoa, Saramago, Torga,Eça de Queirós; de pintores como Graça Morais, Paula Rego, Almada Negreiros, José Guimarães, Júlio Pomar, Cargaleiro, Vieira da Silva, Mário Cesariny, Nadir Afonso; de escultores como Lagoa Henriques João Cutileiro, António Francisco Lisboa (o Aleijadinho); de matemáticos como Bento Jesus Caraça, Francisco Sanches, Pedro Nunes, Luís Albuquerque e o Papa João XXI; de médicos como Garcia Orta, Fernando Namora, Hanna Damásio, António Damásio, Fernando Nobre (AMI), João Lobo Antunes. Isto, para apenas falar destes, milhares de outros existem em defesa do bom nome do povo português. A atitude de Maitê é típico, não direi de loira porque isso seria cair no erro dela, mas de colonizada que ainda não cresceu, procurando culpar o colonizador das suas insuficiências.

AOC

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Teixeira disse...

Parabéns pelo seu blog e em especial por este texto, tão lúcido e elevado. Na verdade a net está fervilhando com este assunto, na base do insulto e contra-insulto. É triste. Sou português, mas passei a minha infância no Rio e o primeiro hino nacional que aprendi foi o brasileiro. No coração tenho as 2 nacionalidades, por isso esta guerra me toca tanto. E é exactamente contra este tipo de "guerrinhas" que me insurjo e luto. Infelizmente, a população brasileira actualmente imigrante em Portugal (já a maior comunidade estrangeira), tem ultimamente representado muito mal o seu país - falando de um modo geral - ao ponto de terem conseguido "apagar" a excelente imagem que o povo português tinha dos seus irmãos brasileiros, tão sentida na hospitalidade que todos os brasileiros que nos visitavam reportavam. FELIZMENTE, existe uma "tropa de elite" actuando aqui hoje, que toma esta guerra como sua, mesmo sem quaisquer apoios políticos nem "oficiais", erguendo bem alto em terras lusas a bandeira da excelência da cultura e da essência do povo brasileiro. São brasileiros e brasileiras, portugueses e portuguesas, verdadeiros heróis culturais não-cantados, verdadeiros exemplos para os seus irmãos de ambos os lados desse lago que é o Atlântico! Ontem lavei a vista com as cores de Molica, anteontem deixei-me embalar pelo violoncelo de António Meseses, e no dia anterior "abanei o capacete" ao som de Seu Jorge. E tudo isto EM LISBOA! ... mas chiiiuuuu... é segredo! O quartel-general da tropa é em
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(perdoe o abuso, mas é para uma boa causa, e tem tudo a ver com esta matéria) - a bem da Causa!
João Teixeira
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