Os bolchevistas da austeridade
por VIRIATO SOROMENHO MARQUES
Quando a Revolução Russa ocorreu, com a tomada do Palácio de Inverno, em Sampetersburgo (então, Petrogrado), a 7 de novembro de 1917, um jovem publicista italiano, Antonio Gramsci, escreveu o texto mais lúcido sobre o significado histórico desse acontecimento. Dizia Gramsci, que a tomada do poder político pelo partido de Lenine e Trotski constituía uma "Revolução contra o Capital". Não o capital, como categoria económica e social, mas contra O Capital (Das Kapital), a obra com que Marx efetuou a mais profunda caracterização da economia de mercado alguma vez realizada pela inteligência humana. Com efeito, para Marx e Engels, as revoluções proletárias, que derrubariam o capitalismo impondo uma nova sociedade e economia de modelo socialista, só poderiam ter sucesso em países de capitalismo avançado: a Grã-Bretanha, os EUA, a Alemanha ou a França. Nunca na Rússia, um atrasado país rural. Os bolchevistas foram uma espécie de marxistas da vontade, da autonomia do político. A realidade seria fraca desde que a vontade fosse forte. O custo do voluntarismo bolchevique não poderá ser feito nunca. Dezenas de milhões de mortos na Rússia, e depois na China, um país ainda mais improvável para o socialismo. Hoje, a mesma cega determinação ideológica governa os círculos monetaristas que dominam em Bruxelas e em Berlim. O seu objetivo é fazer de toda a Europa uma Grande Prússia fiel às regras de disciplina das finanças públicas, ditadas pelo Bundesbank, na altura da criação da União Económica e Monetária. A pressão da Comissão Europeia sobre a Espanha, no sentido desta recorrer ao fundo de resgate para acudir ao sector bancário, é mais um ato de agressão. Para estes ideólogos da "austeridade expansiva", a realidade do sofrimento social é um detalhe negligenciável.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS DE 29-03-2012
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