Leiam a missiva deixada pelo reformado grego que, na passada 4ª feira, encontrou a forma de se opor aos crimes cometidos contra o povo pelos governantes e capitalistas locais e internacionais, por todo o lado empenhados em salvar a sociedade do lucro e da ganância à custa da nossa miséria.
Carta manuscrita pelo companheiro farmaceutico grego, reformado de 77 anos, que se suicidou no passado dia 4, em frente ao Parlamento Grego.
Fê-lo no mesmo local onde passou 3 meses da sua vida com os Indignados.
" O governo de ocupação de Tsolakoglou * aniquilou literalmente os meus meios de subsistência, que consistiam numa reforma digna para a qual me quotizei durante 35 anos (sem qualquer contributo do Estado). Como a minha idade já não me permite uma acção individual mais radical (ainda que não exclua que se um grego tivesse empunhado uma Kalachinikov eu teria sido o segundo), eu não encontro outra solução que não seja uma morte digna, porque recuso procurar alimentos no lixo. Espero que um dia os jovens sem futuro empunharão as armas e pedurarão (enforcarão) os traidores, como fizeram os italianos em 1944 com Mussolini, na Praça Loreto de Milão."
* O general Tsolakoglou, que assinou a amnistia com as forças invasoras alemãs, foi o chefe do primeiro governo grego sob a ocupação nazi (de 30/4/1941 a 02/12/1942). Na Grécia o seu nome é sinónimo de "colaboracionista".
A MORTE EM ATENAS
Há dias, Christine Lagarde, DG do FMI, concedeu uma entrevista à estação televisiva CBS, centrada no tema da dívida grega. Sumariamente, afirmou:
- A solução correcta, neste momento, é que os responsáveis implementem as políticas “correctas e sólidas”;
- É o momento em que os partidos políticos “responsáveis” têm de dizer ao povo a verdade;
- Esses partidos têm de distanciar-se dos partidos populistas, marginais na vida democrática e que rejeitam o caminho correcto;
- Em democracia, os líderes políticos devem dizer a verdade ao povo;
- Qual é a alternativa? Mais débito?
Um farmacêutico grego, de 77 anos, suicidou-se na Praça Syntagma em Atenas. Na derradeira carta, deixou clara a razão da opção pela morte: ter sido privado de meios para a sobrevivência. O FMI, de Lagarde, lamentou. Hipocritamente.
Esta morte de Dimitris Chrisoula teve origem na pandemia das medidas do FMI. Efeito, de facto, pandémico que, surda e perfidamente, está a matar silenciosamente muitos europeus do Sul – em Portugal, em 2010, registaram-se 1195 suicídios, acima, das 1135 mortes nas estradas. São indicadores de reflexão obrigatória.
Dimitris, na pátria de Eros e de Fedro, morreu por causas distintas de Aschenbach em Veneza. Tadzio, neste caso, nem se quer existiu como personificação do belo como ante-câmara da morte – Thomas Mann não estava lá para testemunhar. O desespero da miséria, gerada pela crise financeira mundial e agravada pelas medidas do FMI e da CE, foi inequivocamente a razão da morte. Como em múltiplos casos em Portugal, propositadamente não estudados ou ignorados.
Há assassinos de alto coturno por detrás deste género crime. Calçam bota alta e olham os cidadãos comuns com desprezo. Até na morte.
Posted on
07/04/12
Na opinião de Lagarde, «ainda falta resolver várias coisas e isso é o que acontece na maioria dos Estados do sul da Zona Euro, mais a Irlanda». Por isso, não descarta a possibilidade da Grécia não evitar a bancarrota e ser forçada a sair do euro e da UE, de acordo com um excerto da entrevista avançado pela estação televisiva.
A entrevista completa vai ser exibida no domingo de manhã e faz parte de uma reportagem do programa «60 minutos», no qual intervém igualmente o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, o qual assegura que a Alemanha se converteu no «bode expiatório» da imprensa grega.
Ao ser questionado sobre a antipatia que os políticos alemães suscitam entre muitos gregos, Schäuble indicou que é uma reação normal numa situação difícil, depois da Grécia ter tido de se submeter a duros cortes e reformas assolada por uma dívida que pertence em grande parte a credores alemães.
«É sempre assim, quando há países e pessoas que vivem acima das suas possibilidades e agora têm de aplicar a austeridade, fazer cortes e reformas no seu mercado laboral, nessa situação tendem a culpar os outros, procuram bodes expiatórios, mas ao mesmo tempo sabem que a sua prosperidades se deve à Europa», assegurou o ministro alemão.
Boa noite,
ResponderEliminarchamo-me Maria Carolina Fenati e gostaria de conversar com vocês sobre este post: http://aespeciaria.blogspot.pt/2012/04/carta-de-despedida-do-suicida-grego.html
será que poderiam, por favor, me enviar um endereço para que eu lhes escreva? Deixo aqui meu e-mail: carolinafenati@gmail.com
obrigada!
c