sexta-feira, 25 de novembro de 2011

NÃO HÁ MANEIRA DE METER ISTO NO PIB?

Não há maneira de meter isto no PIB?
por FERREIRA FERNANDES

Deslumbro-me com o álbum 'Portugal', de Cyril Pedrosa, que ganhou um dos maiores prémios da banda desenhada francesa. Neto de emigrantes dos anos 30, ainda a França era destino raro para portugueses, Pedrosa fez um romance autobiográfico com desenhos. Nas suas digressões (está agora no Brasil - onde é apresentado como um grande da banda desenhada mundial), Pedrosa diz que 'Portugal' nasceu do descobrir-se português. Esse facto foi uma mancha difusa na sua vida, mas tão funda que nunca deixou de o acompanhar (ele tem 39 anos). A 2.ª geração dos Pedrosa (o pai e os tios do artista) já têm os nomes próprios franceses (no álbum: Jean, Jacques e Yvette), e a 3.ª, como Cyril, não fala português. É uma constante dos emigrantes portugueses - em França, mas também nos Estados Unidos, no Brasil, na África do Sul... -, a reacção comum é desaparecerem na paisagem: os seus filhos serão, antes do mais, filhos da terra (como o eram também nas colónias africanas). De tantas qualidades que se emprestam aos nossos emigrantes raramente se fala desta: eles dão cidadãos aos países para onde vão, atentos à nova cultura, não formam bolsas enquistadas de eternos estrangeiros. E, apesar disso, com uma saudade que nem sabe pronunciar a palavra - eis o que vem desenhado no álbum 'Portugal'. Andarmos nisto há séculos deu-nos uma noção de globalização "avant la lettre", diria Pedrosa. Não haverá maneira de tirarmos partido disto? De meter no nosso PIB?

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