SEMANÁRIO ANGOLENSE
31-08-2013
O banqueiro Ricardo Salgado e o «caso dos submarinos»
Estranho silêncio na mídia lusa
Porque será que a imprensa portuguesa, sempre afoita a apontar o dedo e a lançar suspeitas sobre cidadãos angolanos que investem ou admitem investir em Portugal, se mostra tão passiva quando em causa estão decisões de responsáveis por grupos financeiros já sob o escrutínio da justiça local, designadamente algumas que envolvem responsáveis do Banco Espírito Santo (BES)?
O vice-presidente Manuel Vicente, familiares e figuras próximas do presidente angolano, como a sua filha Isabel dos Santos ou ainda o Ministro de Estado e Chefe da Casa Militar, general «Kopelipa», tê sido nos útimos anos figuras em destaque pela negativa na imprensa portuguesa, que questiona regularmente a origem do dinheiro e a transparêcia dos negó cios celebrados ou anunciados.
Mas, já quando se trata de personalidades como Ricardo Salgado, presidente do Grupo Espíito Santo (GES), e de figuras que lhe estã próimas, a abordagem ésempre cautelosa ou mesmo inexistente.
Será legíimo que, perante casos como o da «Operaçã Furacã», os processos de privatizaçã da EDP e da REN, a venda de acçõs da EDP entre o BES Vida e o BES e a venda da participaçã de 75% na Escom àSonangol, todos eles envolvendo responsá veis do GES, que tê estado sob a investigaçã da justiç local, a imprensa portuguesa mantenha um prudente e avisado silêcio? A quem temem? Quem controla, afinal, esses ógãs de comunicaçã social? SeráRicardo Salgado? Se nã é parece.
Hádias o GES voltou a ser notíia, mas em apenas um jornal, o que nã deixa de estranhar, jáque, em se tratando de outros intervenientes, sobretudo angolanos, claro está o «berreiro» épraticamente generalizado.
O diáio «i» noticiou que trê administradores da Escom sã arguidos no chamado caso dos submarinos adquiridos por Portugal àAlemanha, Todos eles estã indiciados por corrupçã activa, tráico de influêcias e branqueamento de capitais, no quadro de uma investigaçã relativa àcompra pelo Estado portuguê de dois submarinos aos alemãs da German Submarine Consortium. E, àéoca dos acontecimentos, o Grupo Espíito Santo (GES), presidido por Ricardo Salgado, detinha cerca de 75% do capital social da Escom.
A situação tem criado, inclusive, algum incóodo no actual vice-primeiro ministro, Paulo Portas [ministro da Defesa à época da adjudicaçã da compra dos submarinos àGerman Submarine Consortium], que esperaria da parte do GES uma reacçã a este novo caso em que administradores de uma empresa do «universo Ricardo Salgado» acabaram constituíos arguidos e indiciados.
A administração da Escom també játerádado um prazo aos responsáeis do GES para virem esclarecer o envolvimento da empresa no processo de aquisiçã pelo Estado portuguê dos submarinos àuele consócio alemã.
As notícias mais recentes em Portugal sobre este caso dos submarinos que motivaram intervençã da justiç local levaram o Banco de Portugal (BdP) a manifestar algumas preocupaçõs junto de Ricardo Salgado, na qualidade de responsáel má ximo pelo Grupo Espíito Santo.
Segundo a imprensa lusa [apenas o jornal «i»], o BdP contactou o banqueiro para lhe transmitir as preocupaçõs com que o regulador do sector bancáio portuguê estáa acompanhar todo este processo que corre no Departamento Central de Investigaçã e Acçã Penal (DCIAP) da Procuradoria-geral portuguesa.
Estas preocupaçõs do regulador bancáio portuguê resultaram do comunicado distribuío pelos trê administradores da Escom, no qual eles manifestaram total disponibilidade para colaborar com a justiç no esclarecimento do caso, alé de acentuarem que «sempre actuaram com total conhecimento e concordâcia dos seus entã accionistas [GES] - e de outra forma nã poderia ser».
Ainda de acordo com o «i», do teor do comunicado depreendeu-se assim que os gestores terã actuado sob a autorizaçã do grupo liderado por Ricardo Salgado, jáque este detinha 75% do capital social da Escom àdata da adjudicaçã da compra de dois submarinos ao German Submarine Consortium pelo governo de Santana Lopes.
O «i» escreveu ainda que foi essa responsabilizaçã que esteve na origem das preocupaçõs do BdP e que a instituiçã espera que Ricardo Salgado clarifique a intervençã do GES no caso dos submarinos.
Existe també a percepção de que a actuação das entidades [BdP e DCIAP] nã constitui «uma atitude persecutóia, mas apenas preventiva», face ao passado recente, tendo em atençã que ainda hápouco tempo Ricardo Salgado foi «chamado» a regularizar a respectiva situaçã fiscal.
Da mesma maneira, são também compreensíeis as cautelas que o Estado angolano estáa ter com o proposto negóio da compra da Escom, tendo em atençã as investigaçõs em curso na justiç portuguesa.
O «i» avançou este mês que a venda da Escom está sob a alçda da justiça local, numa investigação dirigida pelo DCIAP, na qual se estáa averiguar as circunstâcias em que o GES terávendido a totalidade da sua participaçã naquela empresa sua participada àSociedade Nacional de Combustíeis de Angola (Sonangol).
Segundo o jornal, a empresa angolana pagou a tíulo de sinal um valor de cerca de 15 milhõs de euros ao GES, que terásido depositado em Lisboa. Alé deste montante, terã sido igualmente transferidos pelos angolanos mais 85 milhõs de euros, cujo rasto estáa ser investigado pelos procuradores do DCIAP. ■
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