quinta-feira, 11 de julho de 2013

O DISCURSO DO PRESIDENTE: GOVERNO A PRAZO

Remodelação ignorada e Governo a prazo


por JOÃO MARCELINO
IN DIÁRIO DE NOTÍCIAS




O Presidente da República (PR) protagonizou ontem um discurso surpreendente, complexo, que teve uma parte fácil de entender e outra que se presta a todas as especulações. Pelo meio, deixou muitas perguntas, e apreensões, sem resposta.
O mais significativo destes 15 minutos que vão marcar a vida pública portuguesa durante alguns meses foi o deliberado e ostensivo silêncio sobre a recomposição do Governo depois da "irrevogável" demissão da Paulo Portas. Para isso, nem uma palavra! O Governo está em funções - porque nunca apresentou a demissão - e ponto. Esta secura, extrema, tem um significado brutal: Cavaco Silva não põe a mão por baixo da solução de recurso encontrada por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Apenas vai ter de conviver com ela!... A conclusão surge óbvia: o PR não acredita na convicção que gera a remodelação a que brevemente poderá ter de dar posse e, sobretudo, não esquece a crise infantil dos últimos dias.
Este discurso, depois de três dias em que ficou claro que o PR também não delega competências nem abdica dos seus timings de audição da sociedade portuguesa, marca um distanciamento em relação aos protagonistas que chefiam o Governo - e que ficaram a saber, tendo os portugueses por testemunhas, que só não haverá eleições porque elas, no entender do PR, seriam dramáticas para o País neste momento.
O Governo pode até acabar por cumprir a legislatura, mas fica claro que, pelo PR, está a prazo e com data marcada: junho, coincidindo com o final do programa de ajustamento assumido com a troika. Até lá, Cavaco Silva promete empenhar-se na concretização de um acordo de salvação nacional, para matérias bastante precisas, que inclua o PS junto à atual maioria. E aqui está um erro: por muito que PCP (mais os seus "Verdes") e BE se autoexcluam sistematicamente de participar em soluções para os problemas da sociedade portuguesa, não faz sentido que um Presidente que gostaria de ser de todos os portugueses decrete assim a marginalização de cerca de 18% do eleitorado. Um compromisso nacional não deveria, à partida, excluir quem quer que fosse.
Este discurso do PR vai ficar na história dos seus mandatos. E ainda é cedo para conseguir prever todas as suas implicações.

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