Os 10 Desafios do Novo Pontífice
Celso Malavoloneke (*)
SEMANÁRIO ANGOLENSE DE 13-03-2013
1. Reorganização da Cúria Romana
Sob acusação de intrigas, tráfico de influência e abusos de poder, a Cúria Romana – governo central da Santa Sé – precisará de ser reformada pelo sucessor de Bento XVI, afirmam os especialistas. «O novo Papa terá como desafio implantar uma gestão mais transparente na Cúria e no Banco Vaticano», acredita o professor Francisco Borba da Universidade Pontifícia Católica de S. Paulo». O mesmo deve ocorrer com o Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco oficial do Vaticano, que dispõe de 5 bilhões de euros e foi palco de escândalos financeiros, durante o pontificado de João Paulo II e de Bento XVI.
Em 2010, as autoridades italianas abriram investigação contra os dirigentes da instituição por violação das leis de lavagem de dinheiro e, nos últimos meses, o banco também esteve no centro do episódio conhecido como «Vatileaks», quando documentos confidenciais do Papa foram vazados.
A diminuição da burocracia e a descentralização da Cúria também são apontadas como problemas a serem enfrentados pelo novo pontífice. «Ele precisa internacionalizar a Cúria, dar mais mobilidade à Igreja. São necessários mais cardeais do terceiro mundo, porque hoje o peso europeu ainda é muito maior», acredita Borba.
2 - Investigação do vazamento de documentos no ‘Vatileaks’
A primeira tarefa do novo pontífice no comando da igreja talvez seja analisar o relatório secreto elaborado por três cardeais sobre o "Vatileaks" – vazamento de documentos confidenciais dos aposentos papais. O documento foi redigido a pedido do agora Papa Emérito Bento XVI, depois que cartas confidenciais dirigidas a ele foram parar nas mãos de jornalistas.
Em um dos seus últimos actos no comando da Santa Sé, em Fevereiro, Bento XVI decidiu entregar «exclusivamente» ao seu sucessor a conclusão da investigação. O novo Papa certamente terá que enfrentar o que estiver escrito ali.
A publicação de uma série de cartas confidenciais vazadas dos aposentos do então Papa Bento XVI sobre vários temas, como intrigas do Vaticano e escândalos sexuais do padre mexicano Macial Maciel, transformou-se em um escândalo sem precedentes em 2012, conhecido como "Vatileaks". Em Dezembro do ano passado, Bento XVI concedeu o perdão ao ex-mordomo Paolo Gabriele, condenado em Outubro por ter roubado os documentos secretos do Vaticano. O mordomo passou um total de 117 dias na prisão, entre o período de detenção depois de sua prisão em 23 de Maio e o período de encarceramento em uma cela da Gendarmaria do Vaticano após o veredicto, no dia 2 de Outubro.
3 - Moral sexual e família
Existe hoje uma pressão da sociedade moderna para que a Igreja reveja seus conceitos sobre o divórcio, uso de preservativos, homossexualidade, aborto e pesquisas com células tronco, temas sobre os quais o novo pontífice terá de se posicionar.
O novo Papa não fará grandes mudanças com relação à maioria dessas questões, enquanto outras têm mais chances de serem discu
tidas. «Os assuntos relacionados à família não vão mudar, porque são dogmas da Igreja. Temas como o aborto e a sexualidade são património moral. Por outro lado, pode-se discutir eventualmente a fertilização in vitro ou questões relacionadas às células tronco não-embrionárias», afirma o especialista que temos vindo a citar
Ainda que não faça mudanças, o novo Papa terá como desafio responder a essas demandas, fundamentando a postura da Igreja Católica. «Se a igreja pelo menos se comunicar com mais facilidade com a sociedade, o diálogo com essas demandas irá melhorar bastante», assegura Francisco Borba.
4 - Secularização/secularismo
A Igreja, que por muitos anos esteve presente em todas as esferas da sociedade, hoje convive com uma crescente autonomia das instituições em relação à religião – a secularização; e com a hostilidade à fé, chamada de secularismo.
«O remédio para isso [secularismo] também é o diálogo, mostrando que a igreja não ameaça a liberdade, as ciências e as instituições. Na medida em que a Igreja convive bem com a sociedade pluralista, esse fenómeno tende a diminuir», afirma o Padre Luiz Corrêa Lima Professor da Universidade Pontifícia Católica do Rio.
5 - Perseguição aos cristãos na África e na Ásia
O continente em que o catolicismo mais cresce é o africano. Junto com o Oriente Médio e à Ásia, a região concentra um grande número de perseguições e mortes de fiéis, afirmam os especialistas. «Nesses locais, existem muitos casos de massacres de cristãos, atentados a igrejas e assassinatos por causa da intolerância religiosa. Esse é um desafio difícil e doloroso, mas precisa ser enfrentado», diz Francisco Borba.
6 – Pedofilia
Bento XVI fez questão de comunicar os casos ao poder civil. Espera-se do próximo pontífice que «ele continue nesse caminho e não cometa nenhum retrocesso» Padre Luiz Corrêa Lima, da PUC-Rio. Os casos de pedofilia, abusos sexuais por parte de padres e o acobertamento dos autores desses crimes são «uma terrível ferida no corpo da Igreja», como afirmou o cardeal americano Francis George, em entrevista colectiva no dia 4 de Março.
Durante seu papado, Bento XVI empenhou esforços para combater os escândalos sexuais, que culminaram principalmente na exigência de que os culpados fossem denunciados à justiça e respondessem na esfera criminal. Ele ainda se encontrou com as vítimas de abuso e pediu desculpas a elas. Agora, cabe ao novo chefe da Igreja Católica manter uma postura firme com relação aos casos de pedofilia.
«Tudo o que João Paulo II deixou de fazer para combater o problema, Bento XVI fez. Antes havia uma cultura eclesiástica de que isso deveria ser resolvido internamente, mas Bento XVI fez questão de comunicar os casos ao poder civil. Espera-se do próximo pontífice que ele continue nesse caminho e não cometa nenhum retrocesso», declarou o Padre Corrêa Lima.
7 – O Celibato
As discussões sobre a flexibilização do celibato têm cada vez mais adeptos entre as dioceses, padres e bispos. «Essa é tradição do celibato é algo próprio da Igreja Católica do Ocidente. No Oriente existem os dois modelos: casados e celibatários», explica o Padre Luiz Corrêa.
O cumprimento do celibato, que é a renúncia da atividades sexuais, é obrigatório entre os sacerdotes católicos. De acordo com a Igreja, a prática garante maior dedicação à religião e aos homens. De acordo com Corrêa, não se trata de um dogma, mas da disciplina eclesiástica, que pode ser discutida e mudada a qualquer momento, possibilitando também que um maior número de pessoas exerça o sacerdócio.
8 - Crise das vocações
A Europa vive uma crise de vocações sem precedentes. Antigamente, era comum encontrar pais que desejavam ver os filhos seguindo a vida religiosa. Nos dias de hoje, essa postura é rara e há cada vez menos jovens aderindo ao sacerdócio. A falta de párocos é tão grande que países da América Latina e África têm «exportado» padres e missionários para o continente europeu.
9 - Ordenação de mulheres
A ordenação de mulheres ganhou muitos defensores nos últimos anos, mas ainda está longe de tornar-se uma realidade. «Hámuita resistêcia dentro da Igreja Catóica. Existem muitos teóogos e bispos que jáse manifestaram a favor, mas émuito improváel que essa questã mude no próimo pontificado», afirma Padre Luiz Corrê Lima.
De acordo com ele, nos séulos passados, existia o posto de diaconisa ・ o equivalente feminino ao diáono. «Se jáexistiu, pode voltar a existir, mas ainda nã háum consenso sobre essa questã».
Uma tarefa importante do Papa Francisco édar um novo impulso ao diáogo ecuméico e inter-religioso. «No passado, as religiõs motivaram muitas guerras. Agora, ao trocar experiêcia entre si, elas assumem um papel importante para fomentar a paz no mundo, a consciêcia ecolóica e o combate àfome», diz o Padre Luiz Correa. ■
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