terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O ESTADO MÍNIMO E O CAPITALISMO DE MISÉRIA

Opinião

Vamos melhor?


por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
IN DIÁRIO DE NOTÍCIAS
 
Antes da carta de alerta do dirigente do PS à troika, importaria discutir a afirmação do primeiro-ministro no Parlamento, ao garantir que Portugal não estava hoje pior do que quando do início da aplicação do memorando. De positivo em relação a junho de 2011, apenas podem ser apontadas a redução do défice orçamental (à custa de medidas extraordinárias e duma brutal austeridade) e uma melhoria da balança comercial (o que não nos deve fazer esquecer que ela foi positiva, a última vez, nos anos sem guerra, mas com fome, de 1941-43). De resto, as comparações são esmagadoramente negativas. A dívida pública continua a sua escalada. O País está a ficar sem anéis, com a privatização das empresas públicas que constituíam ativos estratégicos, atrativos para o capital privado. E estamos também a perder os dedos. Nos últimos dois anos, entre os que emigraram e os que perderam o emprego, chega-se perto de um número eloquente: 500 mil! Quase 5% da população portuguesa foi obrigada a ruturas dramáticas na sua existência. E isto sem contar com o efeito de multiplicação

familiar. Há perto de quarenta anos, o País esteve para ser devorado por uma onda ideológica que, em nome da justiça, nos arrastaria para um "socialismo de miséria". Hoje, os ideólogos da "sociedade aberta" utilizam o Estado para socializar os prejuízos de uma elite incompetente, à custa da intensificação do sofrimento dos mais vulneráveis, sob a capa da "reforma do Estado". Socialismo para uma casta especuladora, inimputável e irresponsável. Capitalismo de miséria e "Estado mínimo" para o resto. Eis a Terra Prometida pelos modelos de Gaspar. É sob o véu desta alucinação que se governa em Lisboa. Não admira que o País continue no epicentro da tragédia europeia em curso.

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