terça-feira, 12 de junho de 2012

PORTUGAL MARAVILHOSO - VILA FORTIFICADA DE ALMEIDA


Vila fortificada de Almeida

NO ARCO DO TRIUNFO



Joel Cleto e Suzana Faro (texto)


Vista do ar é uma inexpugnável estrela de doze pontas. As características estratégicas, arquitectónicas e militares de Almeida contribuíram para que, ao longo da sua história, esta vila fronteiriça se tenha transformado num reduto quase impenetrável. Quase... Porque os franceses, durante a Guerra Peninsular, conseguiram conquistar e ocupar a povoação durante quase um ano, entre Agosto de 1810 e Maio do ano seguinte. Feito que, aliás, acharam ser merecedor de vir citado no monumento que regista as principais vitórias de Napoleão: o Arco do Triunfo, em Paris.

Em 1809 falhara a violenta tentativa de invasão de Portugal pelas tropas francesas comandadas por Soult, durante a qual, entre muitos outros episódios sangrentos, se deu a ocupação do Porto e o dramático desastre da ponte das barcas. Só na defesa da cidade morreriam cerca de 10 mil portugueses.

Mas se essa tentativa de invadir Portugal a partir do Norte falhara, nem por isso desistiram os franceses de ocupar o país. Reorganizadas em Espanha, as forças napoleónicas, agora dirigidas por Massena, iniciam em meados de 1810 uma nova invasão. Desta feita a rota escolhida para atacar Portugal e as forças inglesas aliadas aqui estacionadas é pelo interior centro do país. Para que essa penetração surtisse efeito havia, no entanto, que ultrapassar duas praças-fortes: Ciudad Rodrigo e Almeida. A primeira capitula a 9 de Julho de 1810. A segunda irá dar bastante trabalho ao exército francês...

Defendida pelo coronel inglês Cox, à frente de um regimento português e de quatro mil milicianos evidenciando o propósito de uma tenaz resistência, a 10 de Agosto Almeida surge aos olhos dos invasores como um baluarte aparentemente inexpugnável. De resto, dadas as características arquitectónicas e militares da praça, as tentativas de ataque e tomada da povoação pelos franceses são facilmente repelidas. Assim, impossibilitados de uma ocupação imediata de Almeida, os franceses vêm-se na necessidade de a capturar através de uma estratégia mais demorada: o cerco e o bombardeamento.

O entrincheiramento que cercará a praça-forte é estabelecido na noite de 15 para 16 de Agosto e, progressivamente, o bombardeamento sobre a povoação intensificar-se-á durante os dias seguintes. A 27 de Agosto são 65 as bocas de fogo que, sem grandes resultados, lançam as suas bombas sobre a vila. Até que, de repente, tudo se altera. Uma explosão ensurdecedora toma conta da noite. O paiol explodira, destruindo uma parte significativa da povoação e matando cerca de 500 homens da guarnição.

O que se passou e que motivou tal explosão ainda hoje não se sabe e, provavelmente, nunca se saberá. E assim, este é um dos casos em que as historiografias revelam que, como se sabe, a História não é uma ciência exacta e está sempre sujeita a diferentes visões e versões. Expliquemo-nos: segundo as histórias e monografias portuguesas que abordam este episódio, a explosão do paiol de Almeida não foi resultado do ataque francês mas ter-se-á ficado a dever à imprevidência de um jovem soldado português que aí terá penetrado sem respeitar as normas de segurança. Para a historiografia francesa a explosão obviamente deve-se à queda de um dos obuses lançados pelo bombardeamento das tropas sitiantes...

No dia seguinte os defensores de Almeida vêm-se na necessidade de capitular. Mas esta rendição é também uma história envolta em algum mistério e polémicos contornos. Com efeito, declarada por Costa e Almeida, tenente-rei da praça, com a aparente concordância do coronel Cox, a rendição será mais tarde descrita por aquele oficial inglês como desnecessária, acusando igualmente Costa e Almeida de traidor o que, de resto, resultou no fuzilamento do português no final da campanha. Por apurar ficou a acusação, testemunhada por muitos portugueses, de que o coronel inglês passara embriagado grande parte do tempo do cerco, incluindo a fatídica noite da explosão do paiol e o momento da capitulação...

Comandada agora pelo general Brennier, Almeida manter-se-á durante os meses seguintes nas mãos dos franceses. Só em Maio de 1811, após o colapso da expedição francesa e a aproximação das tropas anglo-lusas comandadas por Wellington, é que a povoação é abandonada pelos ocupantes voltando à posse dos portugueses.

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