quinta-feira, 17 de maio de 2012

OS GREGOS VÃO DE NOVO A ELEIÇÕES


Opinião
Jogos de guerra
Por VIRIATO SOROMENHO MARQUES
DIÁRIO DE NOTÍCIAS-17-05-2012


Os gregos vão de novo para eleições, em junho. Nesse mês, se falharem as transferências ao abrigo do segundo resgate, a Grécia entrará em incumprimento. O provável futuro primeiro-ministro helénico, o presidente do Syriza, o jovem Alexis Tsipras, já conseguiu uma quase vitória. Se os pagamentos não forem efetuados, a Grécia não sairá da Zona Euro, ela será expulsa de facto pelos credores, com a Alemanha à cabeça. Trata-se de um triplo ónus: legal, político e económico, que cairá inteiramente sobre Berlim. Vejamos melhor. Lincoln aceitou entrar em guerra contra os Estados Confederados na base de uma razão jurídica simples: a Constituição federal dos EUA não prevê a saída legal de nenhum estado. Ora, a lei europeia está do lado dos gregos. Na formação da Zona Euro há um silêncio total sobre a possibilidade de saída dos Estados. E no Tratado de Lisboa, o artigo 50.º só prevê a possibilidade de saída voluntária dos países da UE, nunca a sua expulsão. Em segundo lugar, expulsar os gregos numa altura em que eles estão em processo de eleições seria violar o sacrossanto princípio da soberania popular, o princípio de ética pública que separa a democracia de todos os tipos de barbárie. Em terceiro lugar, expulsar a Grécia nesta altura, quando a Itália e a Espanha estão debaixo de fogo no mercado da dívida, e quando a banca espanhola vê os seus ativos fortemente desvalorizados pelo impacto duradouro da bolha imobiliária, seria lançar a UE num vendaval de perdas de rating, forçando o BCE a abrir desesperadamente a bolsa, em muito mais do que os escassos milhares de milhões de euros que Atenas vai precisar para flutuar. Nos jogos de guerra, pisam-se os direitos, mas é sempre preciso fazer bem as contas. Hollande e Merkel já terão jantado sobre o assunto.

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