segunda-feira, 7 de maio de 2012

A ALEMANHA PERDEU AS ELEIÇÕES


A Alemanha perdeu as eleições

Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt


François Hollande é um líder fraco com um discurso forte. Fez promessas impossíveis aos franceses e criou expectativas possíveis aos europeus. Os cépticos vêem nele o destino de Rajoy: engolirá tudo. Mas é nele que reside a esperança política. Não temos outra.

As eleições francesas foram importantíssimas. Um fracassado Sarkozy perdeu. O perigo da extrema direita, que nunca está vencido, foi afastado. E a votação em massa, com um nível baixo de abstenção, é o principal factor de legitimidade democrática deste poder. Um poder de esquerda. Um poder que a direita entrega cheio de dívidas. E isto só é relevante para afastar o conceito de que a esquerda é que contrai dívidas. Não é assim na França. Nem foi assim na Alemanha. E mesmo em Portugal, é argumentável dizer que a "esquerda moderna" dos primeiros anos de Sócrates era outra esquerda que não a social-democracia.

A demagogia maior foi prometer crescimento, contratações de funcionários públicos e redução da idade de reforma, tudo pago por impostos sobre os ricos. Mas o que está hoje em jogo é mais que a França, é a Europa. E a Alemanha ontem perdeu as eleições na França e na Grécia.

Hollande parece ser um integracionista, o que é melhor do que ser um isolacionista. É preciso negociar com a Alemanha, não contra a Alemanha. Até porque só a Alemanha pode comandar a Europa agora, o que nunca fez desde a Segunda Guerra Mundial. Comandar com contrapoderes. Como a França. Mas não com inimigos. Como a França. Sabemos todos onde França e Alemanha, inimigas, levam. Nos levam.

O cerco político à doutrina de austeridade punitiva da Alemanha adensa-se. Não é possível abdicar da austeridade, é preciso aditivá-la com investimento, para crescer. E isso faz-se com união política. Com solidariedade. Com controlo. E sabendo usar no dinheiro, quando o houver, e investi-lo em vez de o esbanjar - como nós o esbanjámos.

Os mercados vão odiar. Agora é a vez da política. Vive La France, porque se France não vive, não viveremos também nós.

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