Tambwe “ A unha do leão “ exige uma leitura “ sem pressas ”, porque os caminhos são tortuosos, os ambientes complexos, a realidade fantástica.
Eugénio, o principal protagonista deste romance, vive num mundo hostil, percebe um futuro sem solução e desiste. Não deixa, contudo, de amar de forma peculiar aqueles que lhe pertencem. É um homem estranho, enigmático, que se deixa inebriar, possuir pela força dos feiticeiros da sua infância. São estes os únicos amigos em quem confia e que lhe alimentam a sobrevivência.
O protagonista, fortemente influenciado pela rica vivência que a adolescência lhe proporcionou, e depois de muito “aguentar” este mundo de contradições, coloca-se numa posição de desesperança. Intoxicado pelas correntes ideológicas que foi absorvendo ao longo da vida, consciente, percebe que os dias se advinham mais adversos.
De alguma forma o autor, através de Eugénio, parece ter adivinhado a crise financeira e de valores que se apoderou do Ocidente.
Aparentemente estruturado na família, mergulhado nas incertezas, no conflito interior que cada vez mais se agiganta, conduz a sua vida ora pela pouca esperança, ora pela desilusão.
A sua utopia por um mundo livre de conflitos, em que todos vivam a felicidade, leva-o a tomar a decisão de partir, deixando tudo e todos. Abandona a família e o país.
O romance começa com uma dramática partida de Lisboa.
Eugénio parte, parte para o desconhecido, correndo deliberadamente o risco de se expor à morte como derradeira força de alcançar a liberdade.
Fá-lo disposto a facilitar tudo aquilo que o conduza à morte, rápida, poupando-se ao sofrimento da rotina. Contudo, ao mesmo tempo que enfrenta um turbilhão de ambientes desconhecidos, numa viagem de incertezas através do mundo, alimenta a esperança de ser também protagonista na “sementeira” de um mundo de felicidade para todos.
Eugénio é um homem de contradições que acaba por acreditar que a utopia já só se realizará através do caos, ao mesmo tempo que procura a paz de espírito no universo simples e confinado da sua aldeia africana de nascença.
O livro termina com a prisão deste herói. Os últimos parágrafos alimentam-se de um dilema supremo. Morrerá a utopia definitivamente às mãos do algoz, ou os feiticeiros africanos da infância de Eugénio farão com que a esperança renasça?
Eugénio “parte”não sem antes oferecer o amuleto tambwe (a unha do leão) aos filhos que o visitam nos calabouços de Luanda.
Mas parte para onde?...Fica a dúvida!
Leia sem pressas,….é fantástico!
Nuno David
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