terça-feira, 8 de novembro de 2011

VAMOS JULGAR OS PAIS DO MONSTRO? QUEM ESTARÁ DISPOSTO A ISSO?

O pai do monstro

Público • Sábado 22 Outubro 2011

Vasco Pulido Valente

Em meados deste mês, Pedro Passos Coelho, num acesso incompreensível, sugeriu que se Investigasse
quem "estava na origem" de "encargos" para sociedade portuguesa que obviamente se não podiam sustentar e defendeu a responsabilização dos culpados.
Duarte Marques, da JSD, discutiu, muito a sério, a possibilidade de pôr uma acção judicial aos
membros do Governo de Sócrates.
Mesmo Nuno Magalhães, do CDS, resolveu exprimir a cordata opinião de que "os responsáveis" pela
dívida não deviam "ficar impunes" (deviam ir para a cadeia?). E Luís Filipe Menezes, como sempre,
ajudou à festa, acusando Vítor Constâncio de não ter fiscalizado o BPN. Depois disto, a conversa
continuou por aqui e por ali entre pessoas que se acham depositárias da virtude e andam agora à procura de um bode expiatório.
Não ocorreu a nenhum destes santinhos que se julgassem o Governo de Sócrates, não havia
qualquer razão para não julgarem também o Governo de Barroso, o de Guterres (quem se lembra
hoje dele?) e, com certeza, o de Cavaco. Em boa lógica, não escaparia ninguém desde o "25 de
Abril". Esse magnífico processo seria o verdadeiro processo do regime, como não se fez nem
para a República, nem para a Ditadura. Mas, felizmente, basta Cavaco para exemplificar. Em
2000, se não me engano, o dr. Cavaco publicou no Expresso um artigo explosivo com o título de O
Monstro. Esse artigo, como o nome indica, era um longo requisitório contra o crescimento do Estado, da despesa e do défice, que assustou e consolou muita gente. E em que o professor, de resto, insistiu numa conferência posterior, em que declarou taxativamente a pura impossibilidade de "dominar o
monstro sem dor".
Tudo bem? Tudo mal. Em 2005, Miguel Cadilhe acusou Cavaco de ser o principal culpado pelo
aumento da "massa salarial da função pública", que já representava naquela altura 15por cento do PIB. Pior ainda, Cadilhe denunciou Cavaco como o inspirador "directo" do monstro e seu "pai" quase exclusivo. Como se vê, Pedro Passos Coelho escusa de se cansar na sua simpática procura da "origem" e dos "culpados" da crise. Basta que se meta no carro e pergunte em Belém pelo sr. Presidente da República, se ele não andar ocupado a tratar do monstro, com quem na aparência se reconciliou. Afinal de contas, por feio e repugnante que pareça, o monstro é filho dele. Muito.

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