quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A PRIMAVERA ÁRABE E O OUTONO EUROPEU

Europa, 5 Primavera Árabe, 3


por FERREIRA FERNANDES
Diário de Notícias

Multidões a gritar, praças ocupadas, esperanças libertárias e sonsice de islamitas, alianças entre Alá e aviões da NATO, a Primavera Árabe, enfim, derrubou três regimes. É um balanço impressionante. Mas a União Europeia tem para troca e leva vantagem. Entre os árabes caíram três governos? Sim, mas à custa do homem que se imolou na Tunísia, dos confrontos na praça cairota de Tahrir e do linchamento de Kadhafi, entre milhares de mortos nos três países. Já a Europa, só neste 2011, vai com os governos irlandês, português e grego caídos, um líder espanhol obrigado a abdicar e, desde ontem, Berlusconi deitando a toalha ao ringue. Contados vão cinco (e abstenho-me de prever a óbvia queda de Angela Merkel e Nicolas Sarkozy já para o ano). Parecem varridos pela onda da Nazaré mas para esta hecatombe bastaram alguns exercícios de caligrafia da 1.ª classe, trocando uns AAA e BBB em DDD. Quando os árabes precisam de manifestantes em cólera, mísseis e o colete de oito bolsos de José Rodrigues dos Santos, à Europa chega-lhe a análise de uns burocratas que entram às 09.00 e largam às 17.00. Séculos de luta pelo poder, de guelfos contra gibelinos, reis decapitados, barricadas em Paris e anarquistas russos desaguaram no gabinete dos analistas cujas curtas letras levam tudo à frente. Amanhã, talvez, o sistema se torne perfeito e, além de derrubarem, também sejam eles a escolher os novos governantes.

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