sábado, 10 de setembro de 2011

PORTUGAL - A PREVISÃO DE PASSOS COELHO

A previsão de Passos

por FILOMENA MARTINS

Há estado de graça, cair em graça e ficar desgraçado. E há muitas desgraças. São expressões banais, mas que se aplicam como uma luva à banalidade da nossa política. Passos Coelho, que caiu na graça nacional quando José Sócrates entrou em desgraça, está a ver chegar ao fim o seu curto estado da dita. É verdade que todos os dias é conhecido um novo buraco no queijo suíço em que o País se tornou. Mas Passos deveria estar preparado para o pior em vez de prometer o que agora não pode cumprir, deveria saber que ser contrapoder é muito mais fácil que estar no poder. A estratégia de anunciar todas as más medidas no arranque do mandato, por culpa do Governo anterior e imposição externa, era boa. Mas obrigava a que a partir de Janeiro começassem algumas boas-novas. O que parece muito difícil. Decretar o fim da austeridade para o próximo ano (mesmo que só lá para fim de 2012, como Vítor Gaspar, para não o contrariar, teve de precisar) foi aliás tão arriscado quanto tolo tinha sido o mesmo prognóstico feito por Manuel Pinho quando Portugal caminhava para o abismo.

A receita de Lula

Dos muitos relatos elogiosos que me chegaram da palestra de Lula da Silva em Portugal, retive uma receita de sucesso que revelou. "Se deres um milhão a um rico, ele vai pôr numa conta offshore e desatar a especular; se deres dez a cem mil pobres, eles vão consumir e pôr a mexer a economia." Gosto de Lula. Admiro o que fez no Brasil. Fiquei contente por ter sido um "metalúrgico barbudo e sem educação" (designação do próprio) a dar a volta àquele país. Mas na economia não há verdades absolutas, como prova o momento em que vivemos. Dez dólares para um pobre brasileiro são uma pequena lotaria. Para um europeu são uma esmola. Os pobres brasileiros que Lula ajudou puseram em marcha um ciclo de produção que não existia e que arrancou graças à sua procura. Na Europa, não falta procura, falta oferta. E depois de gastarem os dez dólares, quantos pobres de Lula ficaram com meios para manter a máquina a funcionar e até quando?

O método Macedo

Nos impostos, as polémicas decisões e declarações de Paulo Macedo (e não foram poucas!) foram inicialmente eclipsadas pelo valor do seu salário e depois pelos bons resultados finais. Agora na Saúde, como Paulo Macedo até foi perder dinheiro e como o sector move mais interesses que pessoas a capital da Índia em hora de ponta, tudo o que o único ministro que pelos vistos não foi mesmo de férias faz e diz ainda é escrutinado ao milímetro. Mas só no final da linha será possível perceber se se justificaram os actuais meios e se estamos perante palavras infelizes e explicações mal dadas ou erros crassos. Porque "reduzir transplantes" deve significar mesmo deixar de ter equipas permanentes em vários hospitais e reuni-los em centros de excelência; porque acabar com a "comparticipações de pílulas" deve significar mesmo fazer pagar por inteiro quem o pode fazer; porque o que mais precisa de contraceptivo são os gastos da Saúde. Macedo tem sido o elefante na loja onde há jarrões e muitas flores de jarra. Que os parta. Desde que tenha sensibilidade para deixar intacto o que é preciso preservar

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