terça-feira, 2 de agosto de 2011

ANGOLA, O FIM DOS FLAMINGOS ROSA NO LOBITO



Flamingos Rosa no Lobito
Está a acontecer o que os mais avisados previram há muitos anos.O flamingo rosado, a ave pernilonga das lagoas do Lobito, praticamernte desapareceu. Com desenvoltura e simpatia, o flamingo conquistou, por mérito próprio, o direito de ser o símbolo da cidade, o seu “ex-libris”. Sem ele, a urbe está a perder um dos traços mais marcantes da sua graciosidade.


Poisados ou voando em grupos, os flamingos eram facilmente encontrados nos mangais e lagoas do Compão e da Caponte. A visão da ave proporciona um espectáculo de singular beleza e curiosidade. Criatura arredia, tem uma penugem rósea que lhe cobre o corpo, sustentado por dois caniços longos e aparentemente frágeis. A cabeça está na extremidade superior do pescoço de traçado harmonioso e sinuoso como um ponto de interrogação. Depois está o bico adunco, encimado por duas missangas nos orifícios nasais.
Muita gente desconhece como surgiram os flamingos nesta zona. O Lobito é uma cidade de águas interiores. A foz do rio Catumbela, a Sul, é irregular. Em época de cheias, o delta do rio ramifica-se. Aluviões criam novos braços do rio que chegaram até ao Lobito Velho. No percurso, deixaram lagoas, que se foram interligando e são chamadas de mangais, devido à floresta de mangues que ali se criou. Dadas as características do terreno, as lagoas permaneceram em movimento sincronizado com as marés. Mantidas com vida, as águas foram povoadas por peixes que atraíram um leque de aves aquáticas, como pelicanos, garças e os flamingos, que ali passaram a dispôr de alimento.
Tacitamente existia um pacto de coexistência pacífica entre o homem e a colónia de flamingos, que agora se está a quebrar. Homem e flamingo disputam um espaço vital comum, os tão cobiçados terrenos do Lobito. Os mangais da Caponte e do Compão com os seus peixes, flamingos e garças ocupam terrenos financeiramente valiosos apetecidos para projectos imobiliários.
A cidade tem de crescer e para ela crescer, necessita de espaço. Quem conhece o Lobito, sabe certamente que, em termos urbanísticos, a parte baixa da cidade tem severas limitações de espaço. As lagoas, após drenagens e aterros, são o local ideal para implantar novas florestas de concreto, pretensos símbolos de modernidade e de progresso. Na hora de demarcação de fronteiras acaba a complacência para com a desditosa ave.
Desde há muito o flamingo pareceu entender o perigo envolvente. Existiram alturas em que as aves praticamente haviam debandado. Devido à realização de obras de circunstância, o canal de ligação das lagoas com as águas da baía, tinha ficado bloqueado e as águas ficaram putrefactas, emanando um cheiro nauseabundo que se espalhava por aquela zona. O ecossistema local alterou-se a tal ponto que tanto a flora como a fauna marinhas começaram a desaparecer e com eles seguiu também o flamingo rosado.

É fácil prever o resultado de uma batalha entre o insaciável bicho-homem, com suas “bulldozers” e basculantes e o indefeso e frágil flamingo que unicamente reclama o direito de existir como um elemento da mãe natureza.
A cidade continua a crescer, a cidade tem de crescer. Nós aproveitamos para perguntar: será que dentro do plano director do Lobito, a sobrevivência do flamingo não poderá estar salvaguardada? Será que já não é possível partilharmos espaço com as outras espécies do nosso único mundo?

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