sexta-feira, 29 de julho de 2011

A MATEMÁTICA ROMANCEADA

A matemática romanceada!

Um Quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a, do ápice à base... Uma figura impar; olhos rombóides, boca trapezóide, corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua uma vida paralela à dela. Até... que se encontraram no Infinito.

"Quem és tu?" indagou ele com ânsia radical. "Sou a soma do quadrado dos catetos. Mas pode chamar-me hipotenusa."

E de falarem descobriram que eram o que, em aritmética, corresponde a alma irmãs Primos-entre-si.

E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz.

Numa sexta potenciação, traçando ao sabor do momento e da paixão rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.


Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas e os exegetas do universo finito. Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. E, enfim, resolveram casar-se. Constituir um lar.


Mais que um lar. Uma perpendicular. Convidaram para padrinhos o Poliedro e a Bissectriz. E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro. Sonhando com uma felicidade integral e diferencial. E casaram-se e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos. E foram felizes até àquele dia em que tudo, afinal, se torna monotonia. Foi então que surgiu o Máximo Divisor Comum... Frequentador de círculos concêntricos. Viciosos. Ofereceu-lhe, a ela, uma Grandeza Absoluta, e reduziu-a a um denominador comum. Ele, Quociente, percebeu que com ela não formava mais Um Todo. Uma Unidade. Era o Triângulo, chamado amoroso. E desse problema ela era a fracção mais ordinária. Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade. E tudo que era espúrio passou a ser moralidade Como aliás, em qualquer sociedade.


Por: Umberto Pacheco

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