Dantes, eram apenas os países menos desenvolvidos que tinham de viver sujeitos aos caprichos dos mercados internacionais.
Agora, a força imprevisível dos mercados também se faz sentir nas regiões mais ricas. O Governo grego e as autoridades da Zona Euro acabaram de chegar à conclusão de que a operação de resgate que conceberam há um ano não está a dar resultados - ou seja, não permitiu a reentrada da Grécia nos mercados. Este desfecho da primeira das três operações de resgate não é bom augúrio para os pacotes destinados a Portugal e à Irlanda.
Foram as flutuações desses mercados que desencadearam a crise e que, agora, poderão originar sequelas. Estamos hoje a aprender aquilo que os países mais pobres foram os primeiros a sentir: os investidores internacionais que negoceiam em obrigações determinam, em grande medida, qual o tipo de decisões que os governos democráticos podem tomar. Essas opções estão longe de ser tão racionais como desejaríamos. É praticamente impossível saber o que irá resultar e quanta dor e austeridade são necessários para evitar a catástrofe.
A lição a retirar não é que os governos devem manter a casa em ordem, do ponto de vista financeiro. Isso sempre foi válido. O que estabelece se a casa está, ou não, em ordem, quando a situação se tornar crítica, é o conjunto de de ideias e rumores a que os investidores recorrem para tentar ganhar tanto dinheiro quanto possível.
O resultado final é que os mercados voláteis e imprevisíveis representam alvos em movimento, para os governos que tentam determinar o que será aceitável para as pessoas que de facto são suas donas.
Daí o jogo complexo, no qual cada Governo tenta emitir os "sinais certos" - e os melhores sinais são, em geral, a boa vontade para realizar cortes na despesa ou aumentar as taxas de juro -, enquanto os milhares de pessoas que constituem "o mercado" decidem o que estes significam. Que será possível fazer perante aquilo que parece uma maneira louca de gerir a civilização humana (se é que nós, humanos, ainda mandamos)?
Depois da crise de 2008, a reflexão sobre questões de âmbito mundial voltou a estar na ordem do dia para os debates: governação mundial dos mercados mundiais, um "novo Bretton Woods" e o tipo de cooperação que poderia reduzir a instabilidade. Desde então temo-nos furtado a isso. É um erro.
Não há soluções fáceis e não é provável que, nos tempos mais próximos, as principais potências cheguem a acordo sobre estas questões. Mas isso não nos deve fazer esquecer que os problemas existem. Também ninguém viu a aproximação ao mundo árabe, mas seria bom prestar atenção aos problemas, antes de estes se agravarem e arrastarem as pessoas para as ruas.
(Extrato de um texto de Vincente Bevins, publicado no jornal The Guardian e no Courrier Internacional nº 184 de Junho de 2011)
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