Umberto Bossi prometeu pressionar o primeiro-ministro
Aliado de Berlusconi avisa que pode “dizer Stop”
UMBERTO BOSSI, o único aliado de Silvio Berlusconi e o garante da sua curta maioria no Parlamento. Umberto Bossi aproveitou neste domingo a festa anual da Liga Norte, o partido xenófobo, secessionista e populista que chefia, para dirigir ao primeiro-ministro italiano uma série de ultimatos e avisá-lo que apesar de continuar a apoiá-lo, “pode dizer Stop”.
Bossi avisou Berlusconi de que a sua liderança poderá ser questionada (Alessadro Garofalo/Reuters)
“Querido Berlusconi, a tua capacidade para dirigir a direita pode ser questionada se algumas coisas não forem feitas”, disse o líder do partido na sua festa em Pontida, perto de Bergamo, onde em 1167 terá nascido a Liga Lombarda, aliança do Norte contra o imperador Federico Barbarossa.
Bossi não defende eleições antecipadas porque conhece os riscos: “Este é um momento favorável à esquerda”. Mas a Liga não está disposta a tudo. “Não seremos nós os responsáveis por mandar o país para a ruína.”
O partido que nasceu há 22 anos para pedir a autonomia do Norte considera Il Cavaliere como o grande responsável pelos recentes desaires eleitorais e muitos dirigentes têm defendido que Berlusconi passou de mais-valia a fardo e que é chegado o tempo de pôr fim a esta aliança.
Há três semanas, a direita sofreu derrotas importantes nas eleições locais. A perda da câmara de Milão foi a mais pesada. E ainda há uma semana, voltou a ser derrotada em toda a linha em três referendos: um sobre a rejeição da energia nuclear, outros sobre a privatização da água e ainda uma consulta à lei que revoga a imunidade judicial ao primeiro-ministro. Berlusconi avisou que não ia votar e a Liga apelou à abstenção.
Uma vez mais, como já fizera com a câmara de Milão, e apesar crise de popularidade que atravessa, o chefe do Governo fez dos referendos um plebiscito à sua governação. Duplo desaire. Milão fugia à esquerda há 20 anos e desde 1995 que nenhum referendo em Itália era validado por a participação não chegar aos 50 por cento. Desta vez votaram 57 por cento dos eleitores.
Vários analistas apostavam ainda antes das eleições locais que a aliança entre a Liga e o Povo da Liberdade de Berlusconi não sobreviveria a uma derrota em Milão. A Liga, sustentavam, não se deixaria arrastar por Berlusconi numa espiral de derrotas e perda de peso eleitoral. Mas provocar eleições antes de 2013 pode ser entregar o país ao centro-esquerda.
Assim, o que a Liga vai tentar é ganhar o mais possível com a fragilidade do primeiro-ministro. Bossi repetiu ontem que exige ver transferidas de Roma para o Norte do país as sedes de pelo menos quatro ministérios, questão simbólica mas que tem sido muito criticada pelos outros partidos.
Fim das missões no estrangeiro
A par da transferência de ministros, a exigência mais importante passa pela redução da carga fiscal, que “ultrapassou os limites do suportável”, disse Bossi, defendendo que “há onde encontrar o dinheiro”. A receita da Liga passa por “pôr fim às missões de paz” em que a Itália participa – Líbia, Afeganistão e Líbano –, o que permitiria “economizar uns bons mil milhões de euros”.
Muito aplaudido, Bossi falou para 80 mil de apoiantes, muitos preparados para este dia a rigor, com trajes medievais completos, outros vestindo verde, a cor do partido, de alto a baixo. A AFP falou com dois gémeos de 27 anos e mais de 1,90 metros, Roberto e Paolo Locatti, com T-shirts onde se lia “a Padania não é a Itália” e “Jamais escravos de Roma”. A Padania é o termo usado pela Liga para apelidar as regiões mais ricas do Norte. Roberto quer garantias “sobre o federalismo fiscal”, enquanto Paolo aguarda pacientemente pelo fim da legislatura e o adeus a Berlusconi: “As pessoas estão cada vez mais fartas dele”.
A multidão gritou muitas vezes “secessão; Bossi respondeu com a promessa de “uma pressão muito forte contra o centralismo”.
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