quinta-feira, 5 de maio de 2011

ANGOLA-LUANDA COMEMORA 435 ANOS DA SUA FUNDAÇÃO





















História

Etimologia



O topónimo Luanda provém do étimo lu-ndandu. O prefixo lu, primitivamente uma das formas do plural nas línguas bantus, é comum nos nomes de zonas do litoral, de bacias de rios ou de regiões alagadas (exemplos: Luena, Lucala, Lobito) e, neste caso, refere-se à restinga rodeada pelo mar. Ndandu significa valor ou objecto de comércio e alude à exploração dos pequenos búzios colhidos na ilha de Luanda e que constituíam a moeda corrente no antigo Reino do Kongo e em grande parte da costa ocidental africana, conhecidos por zimbo ou njimbo.

Como os povos ambundos moldavam a pronúncia da toponímia das várias regiões ao seu modo de falar, eliminando alguns sons quando estes não alteravam o significado do vocábulo, de Lu-ndandu passou-se a Lu-andu. O vocábulo, no processo de aportuguesamento, passou a ser feminino, uma vez que se referia a uma ilha, e resultou em Luanda.

Da fundação à dominação holandesa
Paulo Dias de Novais

Quando os portugueses chegaram à região onde hoje se localiza a cidade de Luanda, esta era parte integrante do reino do Ndongo, vassalo do reino do Kongo, e era especialmente importante por ser uma zona produtora de zimbo, uma pequena concha com valor fiduciário.

Respondendo a um pedido de envio de missionários feito aos portugueses pelo rei Ndambi a Ngola do Ndongo em 1557, no dia 22 de Dezembro de 1559 zarparam de Lisboa três navios com um emissário do rei de Portugal, Paulo Dias de Novais, e dois padres jesuítas, Francisco de Gouveia e Agostinho de Lacerda. Chegados à barra do Kwanza no dia 3 de Maio de 1560, a missão portuguesa foi recebida com hostilidade e desconfiança pelo novo rei do Ndongo, Ngola Kiluanje kia Ndambi, que os encarou como agentes do rei do Kongo, mandando-os aprisionar. Mais tarde, com a promessa de conseguir apoio diplomático e militar português, Paulo Dias de Novais teve permissão para regressar a Portugal.

Na sua segunda viagem a Angola, Paulo Dias de Novais partiu de Lisboa no dia 23 de Setembro de 1574, acompanhado por mais dois padres da Companhia de Jesus, tendo chegado à Ilha do Cabo em Fevereiro de 1575[4]. Aí estabeleceu o primeiro núcleo de colonos portugueses: cerca de 700 pessoas, onde se encontravam, religiosos, mercadores e funcionários, bem como 350 homens de armas.

A Ngola Kiluanje kia Ndambi tinha entretanto sucedido Njinga Ngola Kilombo kia Kasenda, discípulo do padre Francisco de Gouveia que, na sua estadia forçada de dezena e meia de anos, tinha aproveitado para fazer a sua acção evangelizadora entre os angolanos. No dia 29 de Junho de 1575, Paulo Dias de Novais recebeu uma comitiva enviada pelo ngola para o saudar.

Reconhecendo não ser a ilha do Cabo o lugar mais adequado, avançou para terra firme e fundou a vila de São Paulo de Luanda em 25 de Janeiro de 1576, tendo lançado a primeira pedra para a edificação da igreja dedicada a São Sebastião — santo de grande devoção dos portugueses e patrono onomástico do rei de Portugal —, no lugar onde é hoje o Museu das Forças Armadas .

A escolha do novo local para a vila foi influenciada sobremaneira pela existência de um magnífico porto natural, situado numa baía protegida por uma ilha; de uma fonte de água potável, as águas do poço da Maianga na (então) lagoa dos Elefantes; e das excelentes condições de defesa oferecidas pelo morro de São Paulo, mais tarde designado morro de São Miguel, quando se construiu a fortaleza do mesmo nome. A sua população constituída pela comitiva de Paulo Dias de Novais, composta por sapateiros, alfaiates, pedreiros, cabouqueiros, taipeiros, um físico e um barbeiro, tiveram dificuldades de adaptação à inclemência do clima e à carência de condições para a fixação. No entanto, a vila expandiu-se para a "Cidade Alta", na continuação do morro de São Paulo, onde se construíram as instalações para a administração civil e religiosa. Os soldados e os mercadores de escravos viviam na "Cidade Baixa", na área actual dos Coqueiros.

Em 1580, chegaram a Luanda dois missionários jesuítas, em 1584 outros dois e, em 1593, mais quatro. Apesar das naturais dificuldades encontradas, as primeiras tentativas da evangelização deram resultados apreciáveis, ao ponto de, em 1590, já se dizer que haver aqui cerca de vinte mil cristãos.

No dia 1 de Agosto de 1594, chegou a Luanda um novo governador, João Furtado de Mendonça, que vinha substituir D. Francisco de Almeida e seu irmão D. Jerónimo. Fazia-se acompanhar por doze raparigas órfãs, educadas em Lisboa no recolhimento sustentado pela Misericórdia. A maior parte dos autores vê nestas raparigas as primeiras mulheres brancas que vieram para Luanda. Todas elas casaram com colonos aqui radicados.

Durante este tempo, a economia da cidade assentava exclusivamente no comércio de escravos, proporcionando avultados lucros e um elevado nível de vida. Esta abundância reflecte-se em muitos aspectos da vida da cidade, por exemplo, nas festas levadas a efeito em 1620 para comemorar a beatificação de São Francisco Xavier. O custo da comédia pastoril representada e do fogo-de-artifício que se queimou, atingiu a soma de 3 mil cruzados, uma verba considerada exorbitante na época.

No entanto, nem tudo foram gastos sumptuários nesta época. Em 1605, com o aumento da população europeia e do número de edificações, que se estendiam já de São Miguel ao largo fronteiro do actual Hospital Josina Machel, a vila de São Paulo de Luanda recebeu foral de cidade, sendo constituída a primeira vereação municipal. Nesta época ergueram-se, na parte alta, as igrejas da Misericórdia, em 1576; a Sé Episcopal, em 1583, no local onde actualmente funciona Casa Militar da Presidência da República; bem como a igreja dos Jesuítas, em 1593; o Convento de São José, em 1604, no local onde hoje se ergue o hospital; o palácio do governador, em 1607; e da Casa da Câmara, em 1623, onde, mais tarde, funcionou o Tribunal da Relação de Luanda.

Luanda tornou-se o centro administrativo de Angola a partir de 1627. Para a defender foi construída a Fortaleza de São Pedro da Barra, em 1618, e a Fortaleza de São Miguel de Luanda, em 1634. Isto, no entanto, não evitou a sua conquista pelos holandeses e o domínio da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, entre 1641 e 1648.

Da reconquista à abolição do tráfico de escravosVer artigo principal:


Reconquista de Angola
Salvador Correia de Sá e Benevides

Planta de São Paulo da Assunção de Luanda no século XVIII.A tomada de Luanda pelos holandeses a 25 de Agosto de 1641 teve como consequência a brusca interrupção do fornecimento de escravos ao Brasil. A braços com uma longa guerra com a Espanha, a metrópole portuguesa era incapaz de pôr cobro à situação. Coube, pois, aos próprios governantes locais brasileiros, apoiados pela coroa portuguesa, a organização de uma expedição a Angola.

Uma primeira tentativa de reconquistar Angola foi chefiada pelo governador do Rio de Janeiro Francisco de Souto-Maior à frente de uma expedição constituída por oito navios e 500 soldados, incluindo dezenas de índios. Apesar de a expedição não ter alcançado o resultado esperado — tendo perecido o próprio Souto-Maior, bem como parte significativa dos soldados, esquartejados e devorados pelos jagas, tribo canibal aliada dos holandeses — o facto de terem logrado trazer para o Rio dois mil escravos, deu novo alento aos donos de engenho, que se entusiasmaram com uma nova expedição.

Dois anos mais tarde, nova esquadra de 15 navios atravessou o Atlântico Sul rumo a Luanda. A expedição, capitaneada pelo novo governador do Rio, Salvador Correia de Sá e Benevides, deixou a Baía de Guanabara no dia 12 de Maio de 1648, reunindo entre 1400 e 1500 homens, segundo o historiador Charles Ralph Boxer, entre portugueses, brasileiros e angolanos refugiados. A esquadra aproximou-se da capital angolana no dia 12 de Agosto, tendo encontrado a cidade protegida por apenas 250 holandeses nos Forte do Morro e da Guia, já que o grosso da guarnição, comandada pelo holandês Symon Pieterszoon, se encontrava em Massangano, combatendo os portugueses com os jagas.

Apesar de nos recontros de Luanda terem perecido 150 portugueses, contra apenas três mortos e oito feridos do lado holandês, a expedição logrou infligir um golpe fatal aos holandeses, destruindo as suas peças de artilharia, vitais para a sustentação da defesa. Perante isso, o administrador holandês Cornelis Hendrikszoon Ouman pediu a paz. Nos termos da rendição ficou acordado que deixariam Luanda e os postos avançados no Kwanza e em Benguela, mas levando consigo os escravos que eram propriedade da companhia holandesa. Regressado de Massangano, Pieterszoon aceitou a rendição, mas não sem antes distribuir amplamente armas entre os jagas, para que pudessem oferecer resistência aos colonizadores.

Na sequência da vitória, Salvador de Sá assumiu o governo da Angola, rebaptizando o Forte do Morro de Forte de São Miguel, em homenagem ao patrono da expedição vinda do Brasil. Já a cidade de São Paulo de Luanda tornou-se São Paulo da Assunção, em honra a Nossa Senhora da Assunção. Imediatamente os navios negreiros embarcaram em direcção ao Brasil com sete mil escravos apinhados nos porões. Estava restabelecido assim o tráfico de escravos para o Brasil.

Quando os holandeses foram expulsos por Salvador Correia de Sá e Benevides, Luanda encontrava-se, segundo António de Oliveira de Cadornega, praticamente destruída, com igrejas e casas sem tectos e sem portas, tendo a maioria dos seus antigos habitantes sido dizimada ou se posto em fuga. Em carta que o Senado da Câmara dirigiu ao rei nos princípios de 1665, informava-se que a população branca de Luanda se resumia a 132 almas .

Para aumentar a população, a Provisão Real de 23 de Outubro de 1660 isentava os moradores de Luanda de comparticiparem nas guerras do sertão e, em 4 de Maio de 1675, foi proposta ao Conselho Ultramarino a vinda de pessoas sob a alçada da lei, com exclusão apenas daquelas sobre as quais recaíssem penas capitais .

Houve, no entanto, tentativas para reanimar a cidade. Logo em 1651 foi construída a actual Sé Arquiepiscopado e, em 1664, a Igreja da Nazaré, começando-se também a delinear a parte baixa da cidade, na zona onde já existia um mercado, conhecido por Quitanda Pequena, no local mais tarde ocupado pela Rua de Salvador Correia, hoje Rua da Rainha Ginga. Na parte alta, foi construído o hospício de Santo António, em 1668 – onde presentemente se encontra o jardim público, em frente ao Palácio do Governo – e a Igreja do Carmo, em 1661, marcando o início da urbanização da Ingombota .

Mas a cidade e a província permaneceram num estado de quase letargia por cerca de um século, só se alterando claramente em 1764, quando ascendeu à suprema magistratura de Angola um dos mais qualificados representantes da administração pombalina: D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho .

De 1836 aos nossos dias


Luanda em 1883.Enquanto apenas um quinto de suas importações eram originadas de Portugal, os outros quatro quintos eram com o Brasil. O equilíbrio na balança comercial era mantido com o intenso contrabando de escravos.

A cidade limitava-se a funções militares, administrativas e de redistribuição. A indústria era praticamente inexistente e a instrução pública pouco evoluída.

Em 1847, incluindo os edifícios públicos, a cidade contava com 144 casas com primeiro andar, 275 casas térreas e 1058 cubatas (cabanas de indígenas). Cidade de degredados, com cerca de cinco mil habitantes, possuía perto de cem tabernas, pelo que os viajantes a qualificavam como de moralidade duvidosa.

Em 1889, o governador Brito Capelo inaugurou um aqueduto que forneceu a cidade de água potável, anteriormente escassa, abrindo caminho para o grande crescimento de Luanda. Em 1872 Luanda recebeu o etnónimo de "Paris da África".

A partir de 1928, com o regime de excepção em Portugal, Luanda passa a ser mais utilizada como colónia penal. Nos primeiros anos do salazarismo, a população europeia da cidade era composta por condenados de delito comum e outros, utilizando uniformes de sarja azul escura com a inscrição D.D.A. em branco no peito e nas costas (Depósitos dos Degredados de Angola era como se chamavam as prisões e fortalezas de São Miguel e da Barra, onde permaneciam depositados os deportados e presos políticos em Luanda).

Luanda é a maior e a mais densamente habitada cidade de Angola. Inicialmente projectada para uma população a rondar nos 500 mil habitantes, é hoje uma cidade sobre-habitada. Segundo os últimos estudos, vivem actualmente em Luanda mais de 5 milhões de habitantes.

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