Chegámos a um impasse. E chegámos aqui, porque Portugal tem uma esquizofrenia política de décadas, que impede a constituição de governos de coligação. Infantilizados, os partidos funcionam numa lógica clubística, em que prevalece a fidelidade ao cachecol e cada um se impõe com base em claques organizadas, onde nem sequer faltam os hooligans. Sócrates vê os adversários como inimigos de morte, que têm como prioridade abatê-lo. Os apaniguados veem no primeiro-ministro o garante dos seus lugares, dos seus empregos e dos seus salários. No PSD, tem-se apostado num "messias" que assegure a "vitória", ou seja, o assalto aos lugares que agora pertencem ao rival. Ora, sabemos como em 1977, e depois em 1983, o FMI impôs governos de maioria. No segundo caso, sabemos como impôs o independente Ernâni Lopes, liberto de lógicas partidárias ou do medo da impopularidade. Com um primeiro-ministro forte - Mário Soares - e um vice solidário, Mota Pinto, ambos de uma safra política em que não havia zurrapa. Onde está um Ernâni Lopes agora? Ou um "bom vinho político"?
De repente, o País acordou sem dinheiro, sem sonhos e sem liderança. A brincadeira acabou. E não se vislumbra quem possa convencer-nos a começar de novo.
(Extracto de um texto publicado na VISÃO de 24 de Março de 2011 da autoria de Filipe Luís)
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