quinta-feira, 3 de março de 2011

ANGOLA - AS MANIFESTAÇÕES DE PROTESTO


As manifestações são, de acordo com a Ciência Política, uma forma de acção de protesto de um
colectivo de pessoas. Elas (as manifestações) são uma forma de activismo.
Habitualmente, consistem numa concentração ou desfile com cartazes e com palavras de ordem contra ou a favor de algo ou alguém.
O propósito das manifestações é, por norma, o de demonstrar, aos poderes instituídos, o
descontentamento por algo ou a respectiva promoção em relação a matérias públicas. Considera-se uma manifestação exitosa tanto quanto mais pessoas nela participarem.
As manifestações são, em geral, de âmbito político, económico e social.
No que a nós diz respeito, manda a verdade dizer que as manifestações e reuniões têm respaldo no actual ordenamento jurídico angolano.
Mas as autoridades angolanas, convenhamos, têm-se demonstrado inaptas em relação ao respeito deste Direito Fundamental dos seus cidadãos.
Entre nós, abundam exemplos de proibição ou mesmo repressão (policial) de determinadas manifestações promovidas em Luanda, em Benguela e na Huíla - para não falar de outras regiões do país, cujos habitantes desconhecem os seus Direitos estabelecidos pela Constituição
– quer seja por demolição de casas, detenções arbitrárias ou ainda pela reivindicação de outros Direitos.
Este intróito vem a propósito da convocação de uma manifestação para o próximo dia 7 de Março, que poderá ter Luanda como palco e, por arrasto, as demais províncias do País.
A convocação da referida manifestação - que está a ser feita há já alguns dias, por Internet e SMS – tem como lema «A Nova Revolução do Povo Angolano» e pretenderá ser uma extensão das fortes contestações contra os Governos dos presidentes da Tunísia, Egipto e Líbia,
com os até então líderes dos dois primeiros a terem de abdicar, quase deixando o poder na rua, como sói dizer-se.
Com o pseudónimo de «Agostinho Jonas Roberto dos Santos», o autor desta convocação apela a uma manifestação a nível nacional para exigir a destituição do Presidente da República e Chefe do Executivo angolano.
Pelo criptónimo do autor (Agostinho Jonas Roberto dos Santos) da convocação da sobredita manifestação aprazada para o próximo dia 7 de Março de 2011, vê-se claramente que tal pretensão não passa de uma brincadeira de muito mau gosto, vinda de alguém que nada mais tem a fazer se não brincar com a sensibilidade dos angolanos.
Doutro modo, o promotor da referida manifestação escusarse- ia de se esconder. Ou seja, teria
assumido, de forma corajosa, tal iniciativa aventureira. Aliás, se a ideia do promotor da manifestação fosse séria, o mesmo teria mostrado publicamente o seu rosto, nome e endereço e não apresentar-se como «Agostinho Jonas Roberto dos Santos», em clara alusão a Agostinho Neto, Jonas Savimbi, Holden Roberto e José Eduardo dos Santos.
Não acreditamos que tal manifestação vá, tal como se cogita, ter lugar em Luanda ou em Angola no dia aprazado, pois o nosso país ainda tem feridas que sangram e cicatrizes que doem, quando se fala de guerra. Os angolanos ainda choram os seus mortos provocados pelos mais de trinta anos de guerra fratricida, que esventrou o tecido social e económico angolano e desestruturou inúmeras famílias.
O povo já não quer mais ouvir falar de tumultos ou manifestações que possam colocar em causa a ordem e tranquilidade públicas.
Isto mesmo subjaz das reacções dos mais distintos actores da cena política angolana e/ou de figuras da sociedade civil, quase todos a distanciarem-se da brincadeira, que também pode ser uma autêntica armadilha.
De resto, como é consabido, as autoridades angolanas lidam «assim-assim» com o Direito de Manifestação e de Reunião.
Posto isto, é de supor que uma eventual manifestação pública de protesto, a carácter da que o tal de «Agostinho Jonas Roberto dos Santos » perspectiva, em Luanda, ou no resto do país, de forma geral, pode vir a ser reprimida, não com balas de borracha, mas sim verdadeiras.
O que resultaria num autêntico banho de sangue.
Será que os angolanos estão preparados para isso? Cremos que não. E nem estarão interessados. Por terem mais que fazer… ■
Mais que fazer…


(extraído do editorial do Semanário ANGOLENSE nº 405 de 26-2-2011)

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